Demanda pelo etanol hidratado sustenta setor sucroenergético
06-08-2019

Produção de etanol na safra 2019/20 deve ficar em 32 bilhões de litros só no Centro-Sul (Foto: Valter Campanato/ABr/Arquivo)
Produção de etanol na safra 2019/20 deve ficar em 32 bilhões de litros só no Centro-Sul (Foto: Valter Campanato/ABr/Arquivo)

 Apesar de parecer que o setor sucroalcooleiro, um dos principais na economia da região de Araçatuba, está agonizando numa crise financeira aparentemente sem fim, as perspectivas são boas para a safra atual e melhores ainda para o próximo ano, quando entra em vigor a Política Nacional de Biocombustíveis, o Renovabio.

Presidente da Datagro, uma das principais consultorias de açúcar e etanol do Brasil, Plínio Nastari afirma que o setor ainda está em crise, porém o consumo de etanol está acelerado e a competitividade do biocombustível tem se mantido.

"Os preços para o produtor estão em alta e acreditamos que vão continuar. Essa é uma tendência que não vai se reverter e vai dar um estímulo grande para que o setor continue focando no mix alcooleiro", disse.

Na safra atual, a produção de açúcar deverá ser contida, enquanto a do etanol será intensificada. A previsão é que o Centro-Sul produza 27 milhões de toneladas de açúcar e 32 bilhões de litros de etanol na safra 2019/20, contra 26,5 milhões/t de açúcar e 31,6 bilhões/l de etanol do ciclo anterior, segundo Nastari.

No Brasil, devem ser produzidos 29,7 mi/t/açúcar e 34,3 bi/l/etanol, contra 28,8 mi/t e 33,9 bi/l na safra 2018/19. A oferta de ATR (Açúcar Total Recuperável) por tonelada de cana processada deve ser ligeiramente maior.

Açúcar

De acordo com Nastari, a crise no setor é intensificada por fatores externos, como as distorções no mercado internacional de açúcar, por meio de subsídios à exportação de açúcar da Índia, mercados protegidos nos Estados Unidos, Europa, China, Japão e Rússia, e estoques elevados de açúcar na Índia e Tailândia.

"Por isso o etanol tem sido a grande solução. Se não tivéssemos esse mercado ativo de biocombustíveis, por meio da criação do mercado de veículos flex, a crise seria muito pior", afirma o presidente da Datagro. Atualmente, quase 80% da frota é flex e com a atual política de preços da Petrobras, o etanol se mantém competitivo.


Etanol

O presidente da UDOP (União Nacional da Bioernergia), Amaury Pekelman, também vê no etanol hidratado a "salvação para o setor".

"O setor está há alguns anos em dificuldades, porém estamos com uma demanda grande de etanol há um ano. As pessoas estão optando por abastecer seus veículos com etanol e essa demanda está remunerando bem os produtores. Chegamos num equilíbrio entre o preço nas usinas e para o consumidor", acredita.

Para Pekelman, o setor está numa situação boa. Ele vem de uma crise grande que deteriorou a parte financeira das usinas, que estão bastante endividadas, por isso a recuperação é difícil.

"Estamos numa situação muito melhor do que há 3 ou 4 anos, quando estávamos sem luz no fim do túnel. O pessoal está entendendo que o trabalho operacional e ganho de produtividade são importantes; o preço do etanol está estável e com boa demanda.

Temos ainda o Renovabio com tendência de crescimento. Algumas usinas vão usar os CBIOs (Créditos de Descarbonização) para pagar dívidas, outras deverão investir", analisa destacando que a expectativa do Renovabio não é para curto prazo.

Paradas

Apesar das boas perspectivas, Pekelman e Nastari não acreditam que as usinas paradas voltarão às operações.

"Poucas usinas paradas devem retomar, até porque o canavial delas está sendo absorvido pelas unidades vizinhas. O setor trabalhará no crescimento vertical, aumentando a produtividade com o que já tem", analisa Nastari.

"É preciso avaliar a situação de cada unidade, por qual motivo foi parada. Acreditamos nas grandes fusões. Hoje temos 350 grupos no comando. As unidades deverão ser mantidas, mas com menos grupos no comando", prevê Pekelman.

Números

Levantamento da RPA Consultoria, especializada no setor sucroalcooleiro, divulgado no início da safra atual, era que, das 444 usinas do país, 101 ou 23% não deveriam moer cana-de-açúcar nesta safra. O número supera o da safra 2017/2018, quando 97 plantas ficaram sem operar.

Na região de Araçatuba são pelo menos cinco usinas paradas ? as unidades Clementina e Penápolis, do grupo Clealco; Revati (Brejo Alegre), do grupo Renuka; Aralco (Santo Antônio do Aracanguá) e Figueira (Buritama), da Aralco.

O grupo Santa Adélia anunciou em maio o fechamento da usina Pioneiros, em Sud Mennucci, após a safra atual. A cana atualmente processada será transferida para a unidade de Pereira Barreto, a cerca de 30 km de distância.

Aline Galcino
Fonte: Hoje Mais - Araçatuba/SP