Depois de amargar anos de crise, setor sucroalcooleiro ensaia reação
20-11-2015
Depois de uma década quando registrou o fechamento de pelo menos 10 usinas em Pernambuco, o setor sucroalcooleiro, atividade econômica mais emblemática do Estado, ensaia uma recuperação. Três usinas voltaram a moer, de forma mais estruturada nesta safra, gerando emprego num momento em que as oportunidades estão cada vez mais raras, sobretudo para aqueles menos qualificados.
São a Cruangi, a Pumaty e a Pedroza. As duas primeiras passaram a ser administradas por cooperativas de fornecedores de cana que arrendaram o parque fabril das empresas.
Vários motivos contribuíram para a retomada. O primeiro foi a insatisfação dos fornecedores com um número menor de usinas comprando a produção. Somouse a isso, o preço do álcool que se valorizou nos últimos meses.
No meio de uma das maiores crises que o País atravessa, as três usinas geram novos postos de trabalho absorvendo um pouco da mão de obra que perdeu o emprego nas obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest) em Suape. A reativação também traz impacto positivo na economia de 25 cidades da Zona da Mata que têm na indústria sucroalcooleira a sua principal atividade.
“Nos últimos cinco anos, o País estava em crescimento e o setor em crise. Agora, o Brasil está em crise e o setor com a expectativa de crescer. O etanol teve um aumento significativo por causa do aumento do preço da gasolina. O litro do álcool sem impostos estava sendo vendido por R$ 1,35 em março último e na semana passada alcançou R$ 1,71. A alta do dólar também puxou pra cima o preço do açúcar”, explica o presidente da Cooperativa do Agronegócio dos Associados da Associação dos Fornecedores de CanadeAçúcar de Pernambuco (Coaf), Alexandre Andrade Lima. Ele foi um dos articuladores da retomada da atividade dessas usinas, costurando um acordo que passou pela criação das cooperativas e conseguiu uma redução de 6,5% do ICMS para o álcool fabricado por esses grupos.
A Coaf arrendou, por oito anos, a parte industrial da Cruangi e adquiriu uma parte do canavial da empresa, que tem sede em Timbaúba. A unidade voltou a moer nesta safra depois de três moagens paradas e deve processar 400 mil toneladas de canadeaçúcar nesta moagem. Esse montante não é maior, porque pode ocorrer uma perda de até 35% da colheita devido à estiagem que atinge a Mata Norte atualmente. Somente na preparação da empresa para a moagem foram investidos R$ 2,7 milhões pela Coaf. Desde que começou a safra, há dois meses, a cooperativa movimentou mais R$ 15,1 milhões comprando matériaprima, equipamentos, além de pagar salários e impostos. A unidade receberá a produção de cana de nove cidades da Mata Norte.
A lógica da reativação das usinas obedece à regra de aproveitar a cana dos fornecedores dessas regiões. As três são de porte médio e optaram pela produção do álcool. Quando estavam paralisadas, os produtores tinham moer a cana em empresas mais distantes e até na Paraíba e em Alagoas, diminuindo a rentabilidade. Numa safra, estava sobrando 1,1 milhão de toneladas de canadeaçúcar de fornecedores no Estado. “Na última safra, pelo menos duas usinas não pagaram os fornecedores. A retomada da moagem da Cruangi, na Mata Norte, e da Pumaty, na Mata Sul, vai equilibrar esse mercado. Os fornecedores de cana só vão sobreviver em cooperativas porque, desse modo, conseguem agregar valor a sua matériaprima”, diz Alexandre.
Administrada pela Cooperativa do Agronegócio da CanadeAçúcar (Agrocan), a usina Pumaty voltou a fazer uma moagem inteira nesta safra depois de receber um investimento em torno de R$ 10 milhões, segundo o vicepresidente da Associação dos Fornecedores de CanadeAçúcar, Frederico Pessoa de Queiroz, que responde pelo grupo que está à frente da empresa. No ano passado, a unidade iniciou uma moagem tardiamente em novembro, processando 513 mil toneladas de cana depois de duas safras sem moer. “Agora, a expectativa é de processar 700 mil toneladas”, diz. A empresa absorve a produção de cana de 10 municípios da Mata Sul.
Morador do município de Gameleira, o canavieiro Luciano José dos Santos, 37 anos, dá “graças a Deus” que a Pumaty voltou a moer, fazendo ele arranjar um trabalho num engenho em Água Preta. Em toda a vida produtiva, nunca exerceu outra atividade e cortou cana em usinas da Mata Sul, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais.
Numa safra, a Cruangi gera 3,2 mil empregos, sendo 350 na indústria. Já a Pumaty precisa de cerca de 3 mil pessoas, das quais 300 ficam na indústria. Em ambas, o restante dos empregos é no campo. Uma parte desses empregos já existia pois as usinas tinham paralisado a parte industrial, enquanto as terras continuaram sendo cultivadas por fornecedores ou acionistas. “Antes da retomada, os fornecedores empregavam menos. Mas é difícil dizer quantas vagas foram criadas com a retomada”, calcula Alexandre.
Depois de um ano sem moer, a Pedroza voltou a produzir. A empresa foi arrendada à Copersur, formada pela família do fornecedor de cana Gerson Carneiro Leão e o executivo Reginaldo Moraes Filho. Com sede no município de Cortês Mata Sul , a empresa vai processar 300 mil toneladas de cana. A sua operação vai gerar cerca de 3 mil empregos, dos quais 350 na indústria. Ela vai comprar a cana produzida em seis municípios da Mata Sul.