Desacreditado em 2014, hoje o hidratado é apontado como crucial na retomada do setor
15-05-2015

Em debates recentes promovidos pelo setor, o futuro do etanol hidratado foi colocado em cheque. Algo que não faz mais parte da bolsa de especulações no momento. Depois das medidas tomadas pelo governo no início de 2015, como reajuste da gasolina e retorno da CIDE sobre o combustível fóssil, o etanol hidratado ganhou em competitividade. Fora o acréscimo de vendas que o biocombustível conseguiu em alguns estados por conta de mudanças do ICMS. É o caso de Minas Gerais, onde a alíquota sobre o etanol caiu de 19% para 14%, fazendo explodir as vendas do produto em território mineiro nos últimos meses. Em março, as vendas atingiram 105,58 milhões de litros, o dobro do registrado no mesmo mês de 2014.

Este conjunto de fatores tem impulsionado as vendas do etanol hidratado. Segundo a Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), o volume desse biocombustível direcionado ao mercado doméstico pelas unidades produtoras da região Centro-Sul atingiu 1,46 bilhão de litros em abril deste ano, alta de 49,39% em relação ao volume comercializado no mesmo período de 2014 (977,52 milhões de litros).

Quando computadas as vendas diárias, o volume médio comercializado em abril de 2015 alcançou 48,68 milhões de litros, superando em 4,01% o valor recorde da safra registrado em março deste ano (46,80 milhões de litros).
O melhor retorno obtido com o hidratado e ainda os baixos preços da cotação do açúcar deverão fazer da safra 2015/16 – iniciado em 1º de abril - um ciclo mais alcooleiro.

A IMPORTÂNCIA DO HIDRATADO

Este cenário confirma o discurso dos especialistas que apostam neste combustível. “Continuo acreditando que o medicamento na veia do setor é o consumo de hidratado subir fortemente, com remuneração adequada às usinas, e com isso alterar o mix para uma safra alcooleira, afetando os preços do açúcar favoravelmente”, diz Marcos Fava Neves, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP de Ribeirão Preto.

No ano passado, o futuro do biocombustível chegou a ser tema de debate. Num momento em que enfrentava falta de competitividade frente à gasolina, que tinha preços mantidos artificialmente pela Petrobras, alguns executivos viam o risco de que o hidratado se inviabilizasse ao longo do tempo. Outros acreditavam numa tendência de regionalização do consumo do combustível.

Naquele momento, de descrédito com o hidratado, um consultor disparou: “o etanol hidratado é cada vez menos interessante de ser produzido pelas usinas e nas bombas a demanda vai se reduzindo à medida que a demanda por anidro cresce.”

Mas também houve quem defendesse o hidratado, apontado como uma das grandes conquistas do Proálcool, instituído em 1975. Luiz Roberto Pogetti, presidente do Conselho de Administração da Copersucar e hoje presidente do Conselho Deliberativo da Unica, destacou que o etanol vendido nas bombas é importante para o sucesso da indústria sucroenergética. “É veículo do nosso crescimento. Ele flexibiliza a gestão do nosso portifólio. Sem o hidratado é difícil o setor encontrar uma saída. Sem ele, onde vamos colocar o etanol 2G?”, indaga. “O País precisa do etanol hidratado, porque ainda não se tem claro como poderemos abastecer o País num futuro próximo.” Para Plínio Nastari, presidente da Datagro Consultoria, o hidratado é a esponja que regula o sistema e serve como mecanismo de regulação desta indústria.

Hoje, o etanol hidratado resgatou parte de sua competitividade e pode se constituir num caminho importante para a retomada do setor. Mas o importante é que as políticas adotadas até o momento tenham continuidade.

RITMO DA PRODUÇÃO

Do volume total de cana-de-açúcar processada nos últimos 15 dias de abril, 63,65% foram destinados à produção de etanol, leve aumento em relação ao percentual observado na mesma quinzena do ano anterior (62,57%). No acumulado desde o início da atual safra até 1º de maio, a proporção de matéria-prima direcionada ao etanol atingiu 66,08%.
Com isso, a produção de etanol na segunda metade de abril cresceu 16,90% comparativamente ao mesmo período da safra 2014/2015 (1,14 bilhão de litros esse ano contra 972,68 milhões de litros em 2014), com destaque para o etanol hidratado, cuja produção atingiu 818,01 milhões de litros (aumento de 23,64% em relação ao volume apurado na mesma data da última safra).

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