Desconfiança de investidores estrangeiros sobre a política ambiental brasileira dificulta negociações do setor sucroenergético
29-10-2021

Allan Pedrosa salienta a dificuldade da Usina Coruripe em comprovar aos investidores estrangeiros que desenvolve uma atividade sustentável
Allan Pedrosa salienta a dificuldade da Usina Coruripe em comprovar aos investidores estrangeiros que desenvolve uma atividade sustentável

Mesmo as unidades sucroenergéticas apresentando comprovações como relatórios de sustentabilidade, certificações, aprovação no Renovabio, os estrangeiros ainda duvidam da sustentabilidade da empresa

“Bilhões de dólares podem ser direcionados ao agronegócio brasileiro por investidores estrangeiros, principalmente por meio do mercado de créditos de carbono, mas isso não ocorre enquanto houver desmatamento na Amazônia e desconfiança dos investidores na política ambiental brasileira”, disse Marcelo Morandi, Chefe Geral da Embrapa Meio Ambiente, durante a live: A CANA-DE-AÇÚCAR E O MEIO AMBIENTE - Projetos ambientais, manejo biológico, produtos verdes, mercado de carbono e a COP 26 – realizada pela CanaOnline em 27 de outubro.

O setor sucroenergético tem sentido na prática os efeitos negativos dessa desconfiança. “Está cada vez mais difícil comprovar aos investidores e organismos estrangeiros a nossa sustentabilidade. Somos transparentes, encaminhamos relatório de sustentabilidade, onde apresentamos nossas conquistas, ações, riscos, desafios e metas. Apresentamos nossas certificações que exemplificam nosso balanço ambiental e mesmo assim eles duvidam de nossa credibilidade. Até mesmo o Renovabio eles questionam, argumentando se tratar de um programa de governo e que por isso, os dados podem ser manipulados”, contou - Allan Henrique Pedrosa da Silva, Coordenador Corporativo da área de Sistema de Gestão Integrado da Usina Coruripe, durante a live.

Por isso que Olívia Merlin, Gerente de Qualidade e Meio Ambiente da Usina Lins, defendeu a transparência de informações sobre a política ambiental por parte do governo brasileiro. “Ao não admitir o desmatamento na Amazônia, ao omitir dados, o Brasil deixa de ter credibilidade e isso reflete em todas as atividades econômicas, que passam a ter dificuldades para a captação de recursos e até mesmo perdem boas oportunidades de negócio ou de apoio a projetos sustentáveis.”

“A cana-de-açúcar está há 2.700 quilômetros de distância da Amazônia, mesmo assim, o desmatamento na maior floresta do mundo repercute negativamente no setor sucroenergético. O que acontece lá suja também a imagem da cana, do etanol brasileiro. O governo brasileiro precisa ser transparente, reconhecer os erros e apresentar ações de que vamos repará-los”, observou Miguel Ivan Lacerda, - Diretor do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e “pai” do Renovabio também debatedor na live.

Um argumento dos estrangeiros contra a opção do etanol como biocombustível sustentável é que, para produzir energia pode haver competição de área com a produção de alimentos. “Isso não ocorre no Brasil, temos terras suficiente para o desenvolvimento de várias culturas agrícolas. Além disso, os esforços em aumento de produção de cana não são direcionados à expansão de área, mas em elevação da produtividade por hectare”, ressaltou Marcelo.

Segundo os participantes da live, esse assunto competição de produção de energia versus produção de alimentos estava superado, mas retornou com a revogação do zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar que proibia a expansão do cultivo de cana na Amazônia e no Pantanal. Restando ao setor comprovar que isso não ocorre e não ocorrerá, passo fundamental para a cana-de-açúcar conquistar o bilionário mercado de créditos de carbono.

Confira mais detalhes na gravação da live: https://www.youtube.com/watch?v=KiPEEv4uzEE&t=4008s