Dólar alto pressiona lucro trimestral do grupo São Martinho
10-11-2015

A variação do dólar e a estratégia de vender menos produto para aproveitar melhores preços nos próximos meses foram determinantes no lucro menor do grupo sucroalcooleiro São Martinho no trimestre encerrado em 30 de setembro, equivalente ao segundo trimestre da safra 2015/16.

A companhia, uma das principais desse segmento no país, apresentou um resultado líquido positivo de R$ 21 milhões, 81,7% abaixo do registrado em igual intervalo do ano passado. Também afetou a comparação trimestral o fato de, em igual intervalo de 2014, o grupo ter tido um ganho (não recorrente) de R$ 79,8 milhões vindo da venda da participação que detinha na Agropecuária Boa Vista.

"Assumimos a estratégia de vender um volume menor, pagamos o principal da nossa dívida em dólar e ainda obtivemos um lucro interessante. Para os próximos trimestres ainda temos mais produto e preços melhores", disse ao Valor o presidente da São Martinho, Fábio Venturelli.

Ele explicou que a variação cambial potencializou a perda financeira da empresa. No segundo trimestre do ciclo, o resultado financeiro líquido foi negativo em R$ 120 milhões, dos quais R$ 70 milhões atribuídos à alta do dólar, que saiu da cotação de R$ 3,10 ao fim de julho para R$ 3,97 ao fim de setembro.

Venturelli observou que, como a dívida da companhia em dólar é coberta pela receita na moeda estrangeira vinda da exportação de açúcar, ao longo dos próximos trimestres, essa perda de R$ 70 milhões vai ser recuperada. "Temos dívida de US$ 400 milhões (com prazo médio de vencimento de cinco anos, o que significa um vencimento anual de cerca de US$ 80 milhões) e recebíveis de exportação de açúcar de US$ 550 milhões", compara.

Também efeito da valorização do dólar frente ao real, a dívida líquida da companhia ao fim de setembro havia crescido 25,8% ante o registrado ao fim de março, para R$ 3,232 bilhões, um aumento de R$ 663 milhões.

Mas o diretor financeiro e de relações com investidores da São Martinho, Felipe Vicchiato, explicou que, se considerar os estoques de produtos da companhia ao fim de setembro, houve, na realidade, uma desalavancagem. "A preço de mercado, nossos estoques valem R$ 1 bilhão", observou Vicchiato.

Mesmo vendendo menos produto (em volume) do que em igual trimestre do ciclo passado, a São Martinho obteve uma receita líquida 39,9% maior, de R$ 683,9 milhões. Em igual comparação, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado ao valor justo dos ativos biológicos (canaviais) cresceu 24,1%, para R$ 318,9 milhões, enquanto a margem Ebitda ajustada recuou 2,2 pontos percentuais, para 46,7%.

Até o fim da safra, em março do ano que vem, o lado benéfico da valorização do dólar tende a ficar mais evidente no balanço da companhia. Já neste trimestre, a São Martinho apresentou um preço médio de venda do açúcar 20% maior, devido à valorização do dólar, sobretudo. No trimestre encerrado em 30 de setembro, a companhia vendeu 279 mil toneladas de açúcar a um preço médio de R$ 1,038 mil por tonelada, 20% acima do preço do terceiro trimestre de 2014/15.

A condição também está ajudando na precificação para o açúcar que será exportado no ano que vem (safra 2016/17). Conforme a empresa, em 30 de setembro, 340,5 mil toneladas de açúcar haviam sido fixadas ao valor médio de 49,61 centavos de real por libra-peso.