Dona Maria Olímpia Pugas de Moura Andrade é uma das personagens do livro Mulheres da Cana-de-Açúcar
10-03-2023

Dona Maria Olímpia e seu neto Breno de Andrade, que aprendeu com a avó a praticar responsabilidade social.  Crédito: Luciana Paiva
Dona Maria Olímpia e seu neto Breno de Andrade, que aprendeu com a avó a praticar responsabilidade social. Crédito: Luciana Paiva

O livro será lançado no 11º Encontro Cana Substantivo Feminino, em 30 de março de 2023, no Centro de Cana do IAC. VAGAS ESGOTADAS

Por Luciana Paiva

Tive o privilégio de ouvir da própria Patativa dos Canaviais a sua história de mulher libertária, da mulher que revolucionou os canaviais pernambucanos em prol de melhor qualidade de vida para a população do campo, dignidade para os trabalhadores e respeito às mulheres.

Dona Maria Olímpia Pugas de Moura Andrade, conhecida por dona Limpinha, a senhora do Engenho Ventura, recebeu-me por duas vezes em seu Engenho Ventura, na cidade de Nazaré da Mata. A primeira vez, fui para conhecer de perto aquela senhora respeitada por políticos, industriais e fornecedores de cana, todos a conheciam e contavam e recontavam suas histórias. Ao ser convidada para ir ao engenho, aceitei na hora.

Era o ano de 2003, dona Limpinha estava com 88 anos, lúcida, falante, simpática, vivaz. Não tivemos uma entrevista, mas uma conversa entre duas mulheres, uma com muita coisa para contar, e a outra, sedenta para ouvir e depois contar para todo mundo.

Há mais de 70 anos, dona Limpinha iniciou uma batalha nos canaviais pernambucanos em defesa da qualidade de vida. Não se conformava com as condições de precariedade que vivia a população, por isso realizava campanhas educacionais e sanitárias, escrevia em jornais e discursava em comícios políticos, sua fala emocionava, por isso, ganhou a alcunha de “Patativa dos Canaviais”.

No início dos anos de 1940, foi convidada pelo governador pernambucano Agamenon Magalhães para entrar na política, começaria concorrendo à prefeitura de Nazaré da Mata. “Gostei muito da ideia. Fui participar de um comício sem meu marido saber, pois ele tinha horror à política. Mas ele foi à cidade naquele dia, e de longe ouviu minha voz e foi até o comício, ficou chocado ao me ver rodeada por tanta gente que me aplaudia e gritava que eu era a mulher do povo, a representante deles. Meu marido pediu profundamente para que eu não entrasse para a política. Que aquilo seria a morte para ele. Olhando nos seus olhos cheios de lágrimas prometi que não entraria”, contou ela.