Drones avançam nas lavouras e se consolidam como ferramenta estratégica no campo brasileiro
23-07-2025

Com aplicações que vão da pulverização à semeadura, tecnologia atrai agricultores, impulsiona negócios e desafia legislações
O uso de drones agrícolas no Brasil deixou de ser tendência para se tornar realidade em constante expansão. A tecnologia, antes restrita a nichos experimentais, hoje ganha espaço nas fazendas e empresas prestadoras de serviço, sendo aplicada em pulverização, adubação, monitoramento de lavouras e até inspeção de rebanhos. Em resposta a essa crescente adesão, a Embrapa Soja lançou o Documento 474 – Uso de drones agrícolas no Brasil: da pesquisa à prática, que apresenta um panorama técnico e regulatório da atividade.
A publicação, de autoria do pesquisador Rafael Moreira Soares (Embrapa Soja) e do empresário Eugênio Passos Schröder, será oficialmente lançada no Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2025, que acontece nesta semana (de 21 a 24 de julho), em Campinas - SP. No evento, Soares apresentará os principais tópicos do estudo durante o painel sobre tecnologias de aplicação aérea.
Segundo Soares, os modelos mais utilizados na agricultura brasileira são os multirrotores e os de asa fixa, operando com baterias elétricas e equipados com sensores e sistemas de automação. “A capacidade atual de alguns equipamentos já permite pulverizar mais de 100 hectares por dia com um único drone”, afirma.
Essa versatilidade — aliada à ausência de compactação do solo e ao menor consumo de água — tem tornado os drones opção atrativa tanto para agricultores quanto para empreendedores rurais. O mercado de prestação de serviços com drones cresce rapidamente, com preços que variam de R$ 100 a R$ 400 por hectare, dependendo da operação, relevo, cultura e tipo de produto aplicado.
No caso dos produtores que optam por operar seu próprio drone, o investimento costuma ser menor, já que muitos já possuem estrutura de apoio, como transporte e pessoal treinado. Já para quem deseja atuar como prestador de serviço, Schröder alerta: “O investimento total pode chegar a três vezes o valor do drone, considerando estrutura administrativa, logística e capital de giro”.
A pulverização com drones possui características únicas e, por isso, requer critérios técnicos distintos dos aplicados a pulverizadores terrestres e aviões agrícolas. Ainda há lacunas de conhecimento sobre taxa de aplicação, altura de voo, uniformidade de gotas e deriva, mas alguns avanços já se destacam.
Entre eles está o uso crescente de bicos rotativos, que substituem os tradicionais hidráulicos e proporcionam maior controle sobre o tamanho das gotas, evitando perdas por deriva e aumentando a precisão da aplicação. “É uma mudança de paradigma que exige atualização constante dos operadores e fabricantes”, avalia Soares.
O pesquisador destaca que, além da evolução das máquinas, há uma ampliação nas culturas atendidas, nos produtos aplicados e nos alvos biológicos, o que amplia o potencial e a complexidade do uso dos drones.
Legislação e regulamentação: o que diz a lei sobre drones agrícolas
No Brasil, os drones são oficialmente reconhecidos como veículos aéreos não tripulados (VANTs) ou aeronaves remotamente pilotadas (RPAs). Seu uso é regulamentado por um conjunto de normas envolvendo diversas entidades: Anatel: exige homologação por transmitirem radiofrequência; Anac: regula e fiscaliza a aviação civil; Decea (FAB): controla o espaço aéreo e autoriza voos em áreas restritas e Mapa: define regras específicas para drones aplicadores de agrotóxicos, fertilizantes, inoculantes e sementes.
“Estar em conformidade com todas essas normas é fundamental para garantir segurança, legalidade e credibilidade nas operações”, alerta Soares. Ele recomenda o portal do Sindag (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola) como referência para entender os requisitos legais.
Com o avanço de drones com tanques de até 40 litros, o negócio se torna viável em escala comercial. Mas o sucesso depende de uma análise detalhada de seis fatores essenciais, segundo a Embrapa: legislação atualizada e cumprimento das exigências federais, estaduais e municipais; escolha do equipamento conforme cultura, topografia e tipo de aplicação; capacitação técnica em operação e aplicação segura de insumos; planejamento financeiro completo, considerando manutenção, peças e softwares; conhecimento de mercado e concorrência local e parcerias estratégicas com cooperativas, associações e fabricantes.
Redação com informações da Embrapa