Drones potencializam agricultura regenerativa na produção de cana
20-10-2025

Tecnologia é utilizada para aplicação precisa de insumos biológicos nos canaviais da segunda maior empresa produtora de cana-de-açúcar do mundo
Por Sabrina Nascimento | Olímpia (SP)
Os drones estão turbinando a forma como a agricultura regenerativa é aplicada no cultivo de cana-de-açúcar no Brasil. Equipados com câmeras de alta resolução, capazes de captar imagens com precisão de até três centímetros por pixel, a tecnologia percorre os canaviais da segunda maior produtora mundial e brasileira de açúcar, a Tereos, mapeando falhas de plantio, áreas infestadas e condições do solo.
Em cada voo de drone, por exemplo, é possível cobrir até 350 hectares, o equivalente a 350 campos de futebol, explicaram especialistas da companhia. Os dados coletados servem como ponto de partida para decisões que vão desde o manejo da topografia até o uso racional de insumos.
Com o apoio de softwares de georreferenciamento, as equipes de campo ainda ajustam a rota das máquinas e aplicam defensivos apenas onde é necessário. O resultado é um ganho de eficiência que se traduz também em sustentabilidade — pilar central da agricultura regenerativa. “O nome agricultura regenerativa é novo, mas a essência é antiga, consiste em devolver vida ao solo. O nosso desafio, na verdade, é equilibrar produtividade e regeneração”, afirma José Olavo, superintendente de excelência agronômica da Tereos.
Na rotina do grupo, a regeneração se traduz em todas as etapas:
- Preparo do solo:
- linhas de cultivo mapeadas com drones para uso de piloto automático nas atividades de plantio, colheita e tratos culturais;
- práticas de revolvimento mínimo de solo;
- rotação de culturas para controle de erosão, de pragas e de ervas daninhas;
- aplicação de composto para aumento da matéria orgânica no solo e maior retenção de água;
- uso de corretivos e condicionador de subsuperfície para melhorar a qualidade do solo.
- Plantio da cana:
- seleção varietal de excelência e práticas sustentáveis para garantir a longevidade dos canaviais;
- adição de fertilizantes especiais com liberação gradual para nutrição mais eficiente;
- uso de nematicidas e fungicidas biológicas;
- inoculantes e bioestimulantes a base de ácidos húmicos e fúlvicos para aumentar a resistência das pragas;
- solubilizadores de fósforo para disponibilizá-lo para a planta.
- Colheita
- processo 100% mecanizado de cana crua com preservação da palhada no campo;
- palhada protege contra erosão e mantém umidade;
- monitoramento com sensores e uso de Inteligência Artificial e dados para gestão integrada e decisões mais assertivas.
- Tratos culturais
- aplicações via drone e tratores inteligentes, adaptadas para cada tipo de solo, clima e estágio da cana;
- aplicação de vinhaça localizada, subproduto do processo industrial;
- controle biológico de pragas, com parasitas naturais sendo liberados de forma controlada;
- uso de fertilizantes especiais, com emissão de gases de efeito estufa reduzida em comparação aos convencionais;
- uso de nematoides e fungicidas biológicos.
Os resultados começam a aparecer não apenas em produtividade, mas também na resiliência do solo. O uso de compostos orgânicos, aliado à vinhaça localizada — técnica que integra fertilização, controle biológico e estímulo à brotação em uma única operação —, por exemplo, reduz o tráfego de máquinas e melhorado o balanço de carbono das áreas. “A hora que a gente fala de cultura regenerativa, essa parte de produção, dentro da sustentabilidade, traz também uma descarbonização muito grande. Tanto na produção dos insumos, quanto na operação no campo”, salienta Olavo.
Alinhamento com metas de descarbonização
A agricultura regenerativa é uma das frentes do plano de descarbonização da Tereos, que opera cerca de 300 mil hectares de canaviais e processa 20 milhões de toneladas de cana por safra. Segundo Felipe Mendes, diretor de Sustentabilidade, Novos negócios e Relações institucionais da companhia, a meta é reduzir em 50% as emissões industriais e em 36% as agrícolas até 2033. “O desafio maior está no campo. É ali que a mudança acontece de verdade. Reduzir o uso de insumos fósseis e melhorar o solo é o que vai garantir o futuro do setor”, afirma.
Para isso, a companhia também aposta em inovação energética. A novidade que está no radar é a adoção de máquinas agrícolas movidas a etanol. “Nosso time operacional acompanhou testes nos Estados Unidos e os resultados foram positivos. Essa pode ser a melhor solução interna, capaz de emitir até 80% menos carbono que o diesel”, explica Mendes. Ele ressalta que, além do impacto ambiental, o etanol oferece previsibilidade de custos e independência de combustíveis fósseis, fortalecendo o negócio no longo prazo.
A companhia também observa oportunidades no setor de transporte marítimo. Neste mês, mudanças regulatórias da Organização Marítima Internacional (IMO), ligada à Organização das Nações Unidas, devem abrir espaço para o etanol ser reconhecido como alternativa viável ao combustível tradicional dos navios.
“Este mês, na IMO, a gente deve ter aprovação para a meta de 40% de descarbonização em 2030 contra 2008. E o etanol vem se mostrando uma alternativa bastante viável, seja em motores específicos a etanol, seja em motores híbridos. Ou seja, o etanol pode entrar como uma alternativa para a gente, uma nova linha de negócio para descarbonizar uma parcela relevante das nossas emissões”, salienta. Segundo ele, o olhar da companhia se justifica uma vez que cerca de 90% de toda sua produção de açúcar no Brasil vai para a exportação, tendo o mercado europeu como principal comprador.
*jornalista viajou a convite da Tereos
Fonte: Estadão