Em Quanto Fechará o ATR?
16-02-2022
Boletim Cana30: resumo de janeiro/fevereiro e os pontos selecionados para março
Na cana, nova atualização da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) reportou uma moagem acumulada de 521,6 milhões de t de cana até o último dia 16 de janeiro, na região Centro-Sul, queda de 12,7% na comparação com o volume registrado no mesmo período do ciclo passado. Com a maior parte das usinas paradas, em virtude da entressafra, não houve registro de moagem na última quinzena.
Em relação a qualidade da matéria prima, indicada em Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), a Unica indica que está em 142,9 kg/t, desempenho também menor que no mesmo período do ciclo passado em 1,53%. Para o mix de produção, temos 45,08% para o açúcar e 54,92% para o etanol. Devido a conclusão das atividades na maioria das unidades, estes números devem permanecer os mesmos até o início da moagem, em abril.
StoneX estima a moagem da nova safra em 563,5 milhões de t, 7,3% a mais, em 7,7 milhões de hectares (Centro Sul). O aumento se dá principalmente graças às chuvas neste primeiro trimestre. Acreditam que teremos 34,5 milhões de t de açúcar (7,3% a mais) e 29,7 bilhões de litros do etanol (somando a produção vinda do milho), 7,1% a mais. Seriam 16,5 bilhões de litros de hidratado e 9 bilhões de anidro vindos da cana e 4,2 bilhões de litros vindos do milho.
Produtividade será de 73,5 t/ha (+7,1%) e o ATR deve ficar em 140,7 kg/t (-1,2%). Mix será de 45,5% para açúcar e 54,5% para etanol. Com isto a participação do hidratado nos automóveis deve voltar a subir dos atuais 25% para quase 30%.
O Grupo Pedra vai concluir a usina de cana em Paranaíba (MS), com investimentos esperados de R$ 400 milhões. Passará a se chamar Cedro, gerando cerca de 1200 empregos diretos e indiretos. Estava sendo construída há 10 anos e começa a operar em 2024, com cerca de 2 milhões de t, passando a 5 milhões de t depois de 3 anos. Será a quarta usina do grupo, que hoje processa 10,5 milhões de t. Bunge e BP certificaram todas as unidades no Brasil para poder exportar etanol aos EUA. É um mercado que caiu bastante para o Brasil, mas pode voltar com a recuperação da economia e aumento do consumo.
No açúcar, no acumulado entre 1° de abril de 2021 (início da safra 2021/22) e 16 de janeiro de 2022, a região Centro-Sul produziu 32,02 milhões de t de açúcar, queda de 16,16% na comparação com o mesmo período do ciclo passado; dados são da Unica. Sem atividades de moagem nos últimos 15 dias, também não foi registrada a produção do adoçante no período.
Segundo a Archer Consulting cerca de 52,5% do açúcar das 25 milhões de t. que serão exportadas no ciclo 2022/23 foi fixado até o final de dezembro num valor médio de R$ 2.143/t a t. É um número abaixo do ano anterior, onde nesta época haviam sido fixados 69% do açúcar a ser exportado, a R$ 1.589 a t. A justificativa pode ser a expectativa de preços maiores face ao preço do petróleo em alta e a paridade com a gasolina, a custos maiores e as incertezas existentes em relação ao início da safra, além da desvalorização do açúcar e valorização do real.
A Greenpool acredita em déficit de 742 mil t de açúcar para 2022/23, com a produção atingindo praticamente 189 milhões de t e o consumo perto de 190 milhões de t. Para 2021/22 prevê cerca de 2 milhões de t.
Em âmbito internacional, a produção indiana de açúcar em 2021/22 deve ser de 31,45 milhões de t, tendo esta estimativa aumentando em 3,1% desde a última. O Indian Sugar Mills Association (ISMA) crê num volume de açúcar de 3,4 milhões de t sendo direcionado ao etanol. Exportações devem ser de 6 milhões de t.
No etanol, em relação à produção de etanol, no acumulado da safra 2021/22, o volume está em 26,71 bilhões de litros, queda de 9,2% na comparação com o mesmo período do último ciclo. Do hidratado foram produzidos 15,8 bilhões de litros (-19,8%) e do anidro 10,8 bilhões de litros (+12,8%). Do total produzido do biocombustível até aqui, 1,93 bilhão de litros (7,2%) tiveram o milho como matéria prima.
Do lado das vendas, foram comercializados apenas 886,2 mil litros de etanol na primeira quinzena de janeiro, queda de 29,2% na comparação com o mesmo período de 2021. Em janeiro, as comercializações do hidratado ficaram no menor nível desde 2002. No acumulado da safra, foram vendidos 22,05 bilhões de litros, queda de 10,2%, sendo que 1,3 bilhão de litros foi enviado ao mercado externo. Do total comercializado internamente, 8,14 (39,7%) bilhões de litros eram do anidro e outros 12,58 do tipo hidratado (60,3%).
A produção total de etanol no Brasil deve fechar 2021/22 em 29,2 bilhões de litros (CONAB). Destes, o volume vindo do milho já chega a 3,3 bilhões de litros. Foi um crescimento de praticamente 30% em um ano. No Paraná uma unidade em Jandaia do Sul vem atingindo bons resultados como usina flex.
Do lado dos novos projetos, a Raízen tem apostado bastante no etanol de segunda geração E2G ou etanol celulósico. Devem expandir os investimentos, segundo a empresa ocorre expansão de 50% da produção sem expansão de áreas. É um produto muito valorizado no mercado de uso industrial (setores químico e farmacêutico). A empresa vê ainda oportunidades como combustível sustentável de aviação.
Nissan acredita fortemente que o motor com célula a combustível etanol terá testes concluídos até 2025. O carro deve ser lançado ainda antes do final da década. Em nossa visão este motor trará um novo paradigma no setor de cana. Torcer para vir logo.
Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em março na cadeia da cana:
1. Com a safra praticamente terminada, observar a posição de estoques de etanol e açúcar e principalmente o consumo de combustíveis. O hidratado vem perdendo muito espaço.
2. O acumulado das chuvas e as produtividades esperadas para a safra 2022, que deve vir maior. Talvez até atingindo 560/570 milhões de toneladas.
3. Os preços do Petróleo. O barril do petróleo tipo Brent voltou a subir fortemente para US$ 92, um sensível aumento no mês. As tensões geopolíticas estão atrapalhando bastante e devem ser monitoradas de perto;
4. Evolução dos preços do açúcar em Nova York. Ao fechar esta coluna estavam em 18,31 cents/libra peso.
5. Os problemas de preços e abastecimento de insumos e as necessidades da cana para boa performance na safra 2022/23. Os investimentos em renovação e nas soqueiras devem ser maiores, devido aos bons preços. E os insumos estarão disponíveis e a que preços. Acreditamos que a situação deve melhorar e os preços caírem a partir da metade do ano.
Valor do ATR -- na nossa análise referente ao Açúcar Total Recuperável (ATR) ao longo do ciclo 2021/22, temos o seguinte histórico: em abril os preços estavam em R$ 1,0141/kg; maio foram para R$ 1,0564/kg; junho em R$ 1,0630/kg; julho em R$ 1,0878/kg; agosto alcançaram os R$ 1,1425/kg; setembro em R$ 1,209/kg; outubro com R$ 1,2938/kg; novembro em R$ 1,3727/kg; e fechamos 2021 com R$ 1,3264 em dezembro. No primeiro mês de 2022, janeiro, os preços mensais foram de R$ 1,3058/kg, leve queda de 1,5% em comparação com dezembro. No acumulado da safra, estamos com R$ 1,196/kg. Seguimos acreditando que podemos nos aproximar dos R$ 1,23/kg até o final do ciclo.
Marcos Fava Neves
Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.
Do Site: Udop

