Em Salinas, no Norte de Minas Gerais, a cana-de-açúcar origina uma das cachaças mais famosas do país
27-10-2016

O clima e o solo do município de Salinas, localizada no norte de Minas Gerais, produzem uma cana-de-açúcar diferenciada, ideal para a produção de cachaça. A região tem sol e chuva bem distribuídos de modo que favorece o crescimento e a maturação da cana-de-açúcar, aumentando significativamente o teor de açúcar, “sendo ainda que temos em maio, junho, julho e até meados de agosto a estação do inverno, em que a temperatura diminui e facilita o processo de fabricação do produto, bem como o seu rendimento”, conta Aldeir Xavier, da Associação dos Produtores Artesanais de Cachaça de Salinas.

Além, do clima propício, os produtores da Região de Salinas seguem a rigor as boas práticas de fabricação, o que favorece significativamente a qualidade do produto final.

Hoje a principal atividade econômica de Salinas é a produção de Cachaça, que emprega e traz muito turista à região. “Com a criação do Circuito Turístico da Cachaça, espera-se que aumente significativamente a procura por nossos produtos e nossa tradição.”

O volume anual processado de cana na região de Salinas é de aproximadamente 950 ha. A cana é colhida manualmente, para assegurar a qualidade da bebida. Na região, existem de 50 a 60 alambiques, que cultivam em seus canaviais variedades de cana da família RB.

O déficit hídrico enfrentado na região de Salinas é fator que influencia decisivamente no processo de fabricação e rentabilidade da cachaça local. No entanto, também afeta a produção agrícola da cana-de-açúcar. “Por esse motivo, a nossa produção diminui e para solucionar esse problema a associação vem desenvolvendo projetos para solucionar essa dificuldade.” Uma das ações, segundo Xavier, é a adoção da irrigação para manter o nível da produção.

ECONOMIA

A Cachaça da Região de Salinas contribui com quase 40% do ICMS do estado no segmento de cachaça. Apesar disso, a maioria dos produtores possui estrutura de produção inferior a cinquenta mil litros por safra que é sazonal. Poucos produtores possuem grande escala de produção.

O método de produção pouco mudou até hoje. É passado de geração para geração. A estrutura de produção é familiar, seguindo uma metodologia
artesanal. Xavier afirma que, desde o surgimento da atividade de produção de cachaça até os tempos atuais, os produtores seguem todas as etapas do modo artesanal de produção, impondo
uma lógica de produção peculiar no município, resistindo às mudanças tecnológicas que foram surgindo ao longo do tempo e alcançando um padrão de qualidade já reconhecido por consumidores em todo o país e no exterior. “Pode-se afirmar que as marcas de cachaça de Salinas são as mais famosas do Brasil e possuem demanda cativa.”

Assim, a “resistência à mudança” é peça importante na lógica da produção da cachaça em Salinas, apesar de terem sido incorporadas novas tecnologias em benefício da estrutura da produção e da cadeia produtiva.

HISTÓRIA

A produção de cachaça artesanal no município iniciou-se no final do século XIX seguindo os rastros da atividade pecuária. Os primeiros rebanhos bovinos de Salinas vieram da Bahia por ocasião do povoamento da região.

“A cana plantada aqui veio da Bahia. Os fazendeiros faziam uso dela pata tudo, servida para o gado, para os meninos chuparem, para se moer, para tirar o caldo para beber, e, principalmente, para a fabricação de rapadura e melado e cachaça”.

Na década de 1930, o fazendeiro João da Costa Fernandes trouxe da cidade mineira de Viçosa a variedade de cana “Java”. Esta variedade se adaptou muito bem ao clima e solo e em pouco tempo se espalhou na região de Salinas. Alguns produtores obtinham renda extra com a venda para comerciantes locais, na sua maioria tropeiros que faziam distribuição de produtos diversos pelas cidades e povoados da região. Mas não havia marca que identificasse a bebida. Toda a produção era comercializada em barris.

As boas perspectivas econômicas para o processo de fabricação de cachaça em Salinas tiveram início a partir da década de 1940, por meio do fazendeiro Anísio Santiago (1912-2002), que iniciou produção de cachaça artesanal na Fazenda Havana. “Foi o primeiro produtor de cachaça de Salinas a formalizar e dar aspecto de legalidade ao seu negócio. Identificou o seu produto com uma marca: Havana. Historicamente, a marca Havana se firmou como referência para que outras marcas surgissem a partir da década de 1970”, relata Xavier.

O desenvolvimento da cachaça na região de Salinas faz parte da história desta bebida no país. Conheça mais sobre os 500 anos da cachaça na edição de outubro da Revista CanaOnline, na matéria “Cachaça: 500 anos de aromas e prazeres”.

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