Entenda o greening, doença que pode devastar os pomares de laranja
19-01-2024

Produção de laranja pode ser prejudicada com alta incidência de greening — Foto: Reprodução/Programa Globo Rural
Produção de laranja pode ser prejudicada com alta incidência de greening — Foto: Reprodução/Programa Globo Rural

Sem cura e com crescimento vertiginoso no Brasil, doença precisa de manejo adequado

Por Fernanda Pressinott — São Paulo

greening, também conhecido como huanglongbing e HLB, é uma doença que ataca todos as lavouras de cítricos, não apenas no Brasil, mas em outros 130 países. Ela não tem cura e já consumiu mais de US$ 2 bilhões nos EUA na tentativa de ser controlada.

Segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), a incidência do greening cresceu 56% e passou de 24,4% em 2022, para 38,06% em média em 2023.

O que é o greening?

É uma doença causada por uma bactéria transmitida pelo psilídeo Diaphorina citri , conhecido dos citricultores há 20 anos.O inseto tem coloração branca acinzentada e manchas escuras nas asas, com comprimento de 2 mm a 3 mm, e muito frequente nos pomares nas épocas de brotação das plantas.

Como tudo começou

Encontrado pela primeira vez na Ásia há mais de 100 anos, o greening foi identificado no Brasil em 2004, nas regiões Centro e Leste do Estado de São Paulo. Hoje, está presente em todas as regiões citrícolas paulistas e pomares de Minas Gerais e Paraná, além de Argentina e Paraguai, na América do Sul, em quase todos os países da América Central e Caribe, e México e Estados Unidos, na América do Norte.

Os pomares com alta incidência da doença e sem o adequado controle do inseto vetor representam uma séria ameaça aos pomares vizinhos, porque as plantas doentes servem como fonte da bactéria, que será adquirida pelos psilídeos ao se alimentarem ou se reproduzirem nelas. Ao se alimentarem em plantas sadias, os insetos disseminam a bactéria e a doença pelo próprio pomar e para outras propriedades da região.

Ciclo

Plantas infectadas e psilídeos com a bactéria são os responsáveis pela sobrevivência e disseminação da doença. Tanto a bactéria quanto o psilídeo se reproduzem em todos os tipos de citros (laranjas, tangerinas, mexericas, limas-ácidas e limões). Psilídeos também se reproduzem na planta ornamental Murraya paniculata, conhecida como murta, falsa murta ou dama da noite e que é muito utilizada na arborização urbana e como cerca viva.

A bactéria vive nas ‘veias’ das plantas (vasos do floema), por meio das quais ela se espalha rapidamente para todas as partes da árvore: raízes, ramos, folhas e frutos. Quando há sintomas nas folhas ou frutos da extremidade dos galhos, a bactéria já se espalhou para toda a planta, inclusive parte baixa do tronco e raízes. É por isso que a poda de ramos com sintomas é inútil e até perigosa. Além de não curar a planta, as brotações que surgem após a poda servem como atrativo para o inseto vetor, que irá adquirir a bactéria e disseminá-la para plantas sadias, provocando novas infecções.

Após a transmissão da bactéria pelo psilídeo, os sintomas do greening começam a aparecer nas folhas das árvores mais ou menos quatro meses depois e continuam a aparecer ao longo do ano. Uma planta infectada, mas ainda sem sintomas, já pode servir de fonte da bactéria para plantas sadias. É por isto que as laranjeiras devem ser vistoriadas frequentemente por pessoas que conheçam bem os sintomas do greening para que, ao longo do tempo, as plantas doentes sejam totalmente eliminadas de uma determinada área.

O psilídeo passa por seis estágios de desenvolvimento de ovo a adulto. Ele adquire a bactéria ao se alimentar nas plantas doentes e a transmite ao se alimentar nas sadias. Tanto a aquisição quanto a transmissão da bactéria ocorrem depois de 15 minutos de alimentação, mas quanto mais tempo ele se alimenta, maiores são as taxas.

A aquisição também é maior quando o psilídeo está na fase de ninfa, e a transmissão maior em brotos do que em folhas maduras. Por isso é que não se deve deixar plantas doentes no pomar. Praticamente todos os psilídeos que se alimentarem e reproduzirem nela irão disseminar a bactéria da doença.

O correto é eliminar a árvore com greening onde quer que ela esteja localizada no pomar e tão logo seja encontrada. Como o psilídeo prefere brotações para se alimentar e reproduzir, a única maneira de proteger uma planta sadia de ficar doente é pulverizá-la com inseticidas. E a aplicação deve ser constante devido ao rápido crescimento dos brotos.

É importante lembrar que a bactéria também pode ser transmitida pela enxertia de borbulhas infectadas em plantas sadias e que mudas contaminadas pelo greening são um importante meio de disseminação da doença. Por esse motivo, é necessário que tenham procedência idônea e sejam produzidas em viveiros telados. Diferente da bactéria do cancro cítrico, a bactéria do greening não é disseminada por sementes, vento, água ou qualquer instrumento agrícola.

Fonte: Globo Rural