Entressafra de cana termina com etanol em baixa
01-04-2015

Terminou ontem, oficialmente, a safra 2014/15 de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil.

E com estoques maiores de etanol do que há um ano.

O mês de março não atendeu às expectativas das usinas e traders que estavam com produto armazenado à espera de remunerações mais elevadas, como é de praxe nesta época, conhecida por ser o pico da entressafra.

Os preços médios do etanol neste mês são os mesmos registrados em dezembro do ano passado, quando começou a entressafra.

Até o dia 26, os preços médios na usina em São Paulo do etanol hidratado, que é usado diretamente no tanque dos veículos, atingiram, em média, R$ 1,26 por litro, conforme o indicador semanal Cepea/Esalq.

Em dezembro passado, a média do mesmo indicador foi de R$ 1,27. Nos meses seguintes, houve alguma reação e os preços médios alcançaram R$ 1,31 em janeiro e R$ 1,37 em fevereiro, mas ainda bem abaixo da expectativa do segmento, que, somente com a volta da Cide e com o reajuste da gasolina na refinaria de 3% em novembro passado, esperava um acréscimo do preço pago na usina de cerca de R$ 0,30 por litro.

"Usinas e tradings podiam vender o litro a R$ 1,26 em dezembro.

Mas a idéia era carregar estoques e arcar com mais custos financeiros para vender por um valor maior, e não pelos mesmos R$ 1,26", disse um trader que preferiu não se identificar.

O fato é que esses R$ 0,30 por litro que tinha potencial de ir para o caixa das usinas acabou se deslocando para os elos seguintes da cadeia, tais como distribuidoras e postos, avaliou uma fonte do mercado.

A fragilidade das usinas se tornou maior porque estavam com um grande volume de etanol nas mãos. A estimativa de traders é que hoje, fim oficial da safra, os estoques de hidratado no Centro-Sul estejam 700 milhões de litros mais altos que há um ano.

Alguns agentes do setor delegam a oferta grande a dois fatores.

O primeiro, ao atraso em dois meses do governo em autorizar o aumento da mistura de etanol na gasolina, de 25% para 27%, que só entrou em vigor em 16 de fevereiro.

Com isso, nas contas do setor, 500 milhões de litros de etanol ficaram sem demanda.

Outra surpresa foi a moagem da safra, que ficou em níveis acima de 570 milhões de toneladas, ante as estimativas de 550 milhões.

Isso significou uma produção adicional de 1 bilhão de litros.

A boa notícia para as usinas é a reação do consumidor, que tem elevado sua preferência pelo etanol em detrimento da gasolina.

Para março, o mercado espera vendas de 1,4 bilhão, 30% maiores que há um ano.