Estação de Valparaíso: uma referência para as pesquisas com cana no Oeste paulista
29-04-2015

O Programa de Melhoramento da UFSCar, integrante da RIDESA, não se restringe às pesquisas realizadas em sua sede, em Araras. A Estação Experimental de Valparaíso é importante para as pesquisas com variedades na região oeste do estado de São Paulo.

 

O estado de São Paulo responde por cerca de 55% da produção de cana-de-açúcar no Brasil. Para fornecer pesquisa e tecnologia na área varietal para as usinas e produtores paulistas, o estado conta com o Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar, da Universidade Federal de São Carlos (PMGCA/UFSCar), o qual integra a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (RIDESA).

O PMGCA/UFSCar, sediado no Centro de Ciências Agrárias da Universidade, localizado em Araras, SP, tem uma atuação relevante junto ao setor sucroenergético paulista. Mas o sucesso do trabalho desenvolvido pelo Programa não conta apenas com a dedicação e o talento dos pesquisadores e profissionais alocados na sua sede, em Araras. Perto de Araçatuba, no Oeste do estado de São Paulo, a Estação Experimental de Valparaíso é um importante polo de apoio às pesquisas do PMGCA/UFSCar.

Submeter as variedades pesquisadas a testes na estação de Valparaíso é importante pelas características edafoclimáticas da região. “Temperaturas médias maiores, menor precipitação anual e constantes veranicos, aliados aos solos de textura mais arenosa, profundos, bem drenados, fazem com que a região tenha um déficit hídrico muito acentuado em relação às outras regiões do estado, o que desfavorece muito a cultura da cana-de-açúcar”, afirma Antonio Ribeiro, pesquisador do PMGCA/UFSCar.

Atualmente, a Estação Experimental de Valparaíso contribui com o Programa em todas as suas fases de pesquisa. De acordo com Antonio Ribeiro, “existe uma troca de experiência muito grande entre Araras e Valparaíso para a liberação de uma variedade”.

ESTRUTURA
A Estação Experimental de Valparaíso, localizadas a 15 km da cidade, realiza testes com novos materiais genéticos. Ao todo, são 22 funcionários que atuam no local, sendo 13 auxiliares de campo, sete técnicos em pesquisa e desenvolvimento e dois na área de administração. A Estação conta, ainda, com refeitório, vestiários com armários individuais e chuveiros elétricos, lavandeira e alojamentos para pesquisadores e funcionários.

O local também possui diversas máquinas e implementos agrícolas, que realizam todos os trabalhos de plantio e cultivo. Além disso, existe um sistema de irrigação, utilizado para plantios em época seca ou para irrigação de seedlings – mudas originadas de sementes, que são levadas ao campo na primeira fase de testes do programa, o T1.

Todo ano, a Estação recebe, aproximadamente, 80 mil seedlings. Após avaliações e seleções nas fases de testes em campo (T1, T2 e T3), os melhores indivíduos entrarão em uma Rede de Experimentos. Já para chegar a uma liberação, o tempo pode variar de 14 a 18 anos. “Esse tempo é fundamental, pois dará aos produtores maior segurança na decisão de escolha de novas variedades”, afirma o pesquisador.

Segundo Antonio Ribeiro, o desenvolvimento de materiais genéticos mais produtivos, especialmente em ambientes restritivos, e resistentes às principais doenças, é o principal objetivo da Estação Experimental de Valparaíso. “Creio que continuamos, ainda, com grandes desafios pela frente, como encontrar variedades rústicas de alta performance agrícola e superar a variedade RB867515, que já apresenta essas caraterísticas em área comercial”. Ribeiro conta que vários materiais genéticos em desenvolvimento na Estação são superiores à RB867515. Porém, precisam atingir áreas maiores para que esse desempenho se confirme ao longo de, pelo menos, cinco cortes.

“A seca dos últimos anos, apesar de ter impactado negativamente o setor na região Centro-Sul, foi uma oportunidade de identificarmos materiais com uma característica importantíssima: tolerância ao estresse hídrico”, afirma. E os resultados foram animadores. “Conseguimos formar um grupo de materiais com essa característica e de alta produtividade, que estão sendo distribuídos e testados junto às empresas conveniadas.”

PARCERIAS
A logística do PMGCA das dez universidades que participam da RIDESA funciona da seguinte maneira: cada universidade gera os clones em seus respectivos estados, a partir de sementes oriundas de cruzamentos realizados anualmente na “Estação de Florescimento e Cruzamento Serra do Ouro”, localizado no Nordeste do país, conduzidos pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Anualmente, os melhores clones selecionados em cada universidade são enviados para as outras, o que permite incrementar o número de clones a serem avaliados na rede de experimentos estabelecidos por cada universidade em seu respectivo estado.

Operações como essas demandam altos custos, o que torna vital a cooperação externa nessas atividades, por meio de parcerias com empresas e associações do setor. Nesse modelo, o pesquisador Antonio Ribeiro conta que a Universidade Federal de São Carlos participa com toda a infraestrutura do Centro de Ciências Agrárias e da Estação Experimental de Valparaíso, além dos laboratórios de Genética, Biotecnologia, Fitopatologia e Nematologia, e do conjunto de conhecimentos práticos de pesquisadores, técnicos agrícolas e de laboratório.

“Nessa parceria, as empresas também colocam à disposição sua equipe técnica e áreas para experimentação e multiplicação de clones, além de mão de obra, insumos, maquinários, entre outros, os quais são necessários para a condução das pesquisas”.

Ribeiro afirma que os técnicos das empresas parceiras atuam como pesquisadores auxiliares do Programa, em constante interação com a equipe da universidade. “Isso é de extrema importância para os pesquisadores da instituição, pois há um contínuo feedback, melhorando as percepções das reais necessidades do setor, o que auxilia no efetivo direcionamento do Programa.”

Já os técnicos das empresas e entidades parceiras, que contribuem para o Programa com o conhecimento “in loco”, adquirem experiência com as variedades de cana-de-açúcar, sabendo do potencial e da limitação de cada material genético, fazendo com que haja uma adoção pronta e em larga escala das novas variedades. Assim, as empresas interagem com os trabalhos de seleção, experimentação e multiplicação dos materiais genéticos e se estabelece uma contínua troca de conhecimentos universidade-empresa.

SURGIMENTO DA ESTAÇÃO DE VALPARAÍSO
Na década de 1970, com o fortalecimento do Proálcool, planejou-se a construção de uma rede de Estações Experimentais nas novas áreas de cultivo, com infraestrutura técnica de pesquisa e extensão, para atender à demanda de conhecimentos que os produtores necessitariam para que o programa tivesse sucesso.

Em 1978, o PLANALSUCAR (Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar) implantou a Estação Experimental de Valparaíso. A instalação ocorreu após uma série de estudos para definir a melhor opção técnica que permitisse atender a seus propósitos de pesquisa, desenvolvimento experimental e extensão, além de facilitar o contato com os produtores da região Oeste do estado.

Porém, a atuação do empresário agroindustrial canavieiro João Francisco de Arruda Soares, então acionista da Usina Univalem, atualmente do Grupo Raízen, foi de vital importância para o sucesso do projeto. “Arruda não permitiu que a área experimental escapasse de Valparaíso, empenhando, para isso, 60 hectares de sua propriedade rural na Fazenda Santa Josefa, junto à Univalem, materializando o que atualmente se conhece como a Estação Experimental de Valparaiso”, relata Ribeiro.

Com a extinção do PLANALSUCAR, ocorrida juntamente à do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) em 1990, as Universidades Federais incorporaram a estrutura física, acervo técnico e o pessoal do PLANALSUCAR, absorvendo todo o trabalho de pesquisa em andamento e aqueles já desenvolvidos anteriormente.

Nesse momento, era constituída a RIDESA, atualmente composta por 10 Universidades Federais. A Estação Experimental de Valparaíso passou para domínio da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Atualmente, o centro tem parcerias com 34 unidades produtoras de açúcar e álcool do Oeste de São Paulo e 17 do Mato Grosso do Sul.