Estimativas da DATAGRO apontam leve queda na moagem da cana e impacto do clima na produção de açúcar e etanol
13-03-2025

Evento da consultoria destaca previsões para o setor sucroenergético

A safra 2025/26 no Centro-Sul do Brasil deverá alcançar 612 milhões de toneladas de cana-de-açúcar processadas, resultando na produção de 42,35 milhões de toneladas de açúcar e 12,76 bilhões de litros de etanol anidro, além de 21,95 bilhões de litros de etanol hidratado. O mix de produção deve se manter predominantemente voltado ao açúcar, com uma participação de 51%.

As projeções foram apresentadas por Plinio Nastari, presidente da DATAGRO, durante a 9ª edição do evento DATAGRO Abertura de Safra Cana, Açúcar e Etanol, realizado em Ribeirão Preto – SP, nesta quarta e quinta-feira (12 e 13 de março). O evento também contou com a participação de Bruno Wanderley Freitas, líder de conteúdo da DATAGRO, e Hugo Cagno, presidente da União Nacional da Bioenergia (UDOP).

Caso as estimativas se confirmem, a safra 2025/26 registrará uma queda de 1,4% na moagem de cana em relação à temporada anterior, que atingiu 621 milhões de toneladas. “A última safra foi severamente afetada por incêndios e estiagem, comprometendo cerca de 450 mil hectares de plantação”, explicou Nastari.

Final da temporada

Com 18 unidades em operação (duas a mais que no ano passado), a moagem de cana atingiu apenas 249 mil toneladas em 10 de fevereiro, uma queda de 55,4% na comparação anual. No acumulado da safra 2024/25, o total processado soma 614,40 milhões de toneladas, um recuo de 5%.

A produção de açúcar totalizou 39,81 milhões de toneladas, representando uma queda de 5,6% em relação ao ciclo 2023/24. Em contrapartida, a produção de etanol cresceu 3,7%, atingindo 33,57 bilhões de litros, com 12,2 bilhões de litros de etanol anidro (-5,8%) e 21,4 bilhões de litros de etanol hidratado (+10,0%).

Moagem de cana no Norte-Nordeste desacelera com chuvas

No Norte-Nordeste, a moagem de cana atingiu 2,341 milhões de toneladas na primeira quinzena de fevereiro, uma queda de 24,8% em relação ao ano anterior. Desde o início da safra, em 19 de setembro, o total processado soma 44,614 milhões de toneladas, um aumento de 1% na comparação anual.

O rendimento industrial caiu 6,9% no período, para 121,93 kg ATR/tc, mas a média desde setembro apresentou um crescimento de 9,2%, atingindo 137,25 kg ATR/tc.

A produção de açúcar caiu 44% na primeira quinzena de fevereiro, totalizando 141 mil toneladas, enquanto a produção de etanol atingiu 1,592 bilhão de litros (+7,8%), sendo 574 milhões de litros de etanol anidro (-18,6%) e 1,018 bilhão de litros de etanol hidratado (+31,9%).

Impacto do clima e condições dos canaviais

A nova temporada começa oficialmente em abril, mas algumas usinas já iniciaram a moagem. Apesar das chuvas abaixo da média nos primeiros meses do ano, o acumulado desde outubro garante um bom nível de umidade para o desenvolvimento da cultura. No entanto, as precipitações em março e abril serão determinantes para a oferta de cana.

O volume de chuvas acumulado entre outubro de 2024 e fevereiro de 2025 no Centro-Sul atingiu 1.003 mm, significativamente acima dos 686 mm registrados no mesmo período do ciclo anterior e da média dos últimos cinco anos (935 mm).

A redução na intenção de plantio de cana, que passou de 15,8% para 15,3%, deve levar a um aumento na área de corte, sobretudo sobre áreas de cultivo de Citrus, Pastagens e Seringueiras nos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo.

A qualidade da cana poderá ser afetada por um aumento na presença de plantas daninhas, elevando o índice de impurezas. No entanto, espera-se uma redução na incidência de pragas, como a broca-da-cana, e uma menor disseminação de doenças devido ao aumento de incêndios registrados em 2024.

Visão atual para a safra 2025/26

Os impactos do clima sobre a produtividade variam conforme o estágio da safra:

  • Primeiro terço: Perda de toneladas de cana por hectare (TCH) em relação à safra 2024/25, desenvolvimento retardado e heterogêneo, além de aumento da infestação de plantas daninhas.
  • Segundo terço: Expectativa de TCH similar à de 2024, com potencial de melhora dependendo das chuvas de março e abril.
  • Terceiro terço: Previsão de TCH superior ao de 2024/25, com canaviais homogêneos e baixo impacto de adversidades climáticas.

Mercado de etanol e açúcar

Mesmo com a perda de competitividade do etanol hidratado frente à gasolina, as vendas do biocombustível pelas usinas do Centro-Sul seguem em alta. Na primeira quinzena de fevereiro, foram comercializados 838 milhões de litros para o mercado doméstico, um aumento de 4,1% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Segundo a consultoria, as vendas de etanol anidro também bateram recorde, atingindo 527 milhões de litros no mesmo período, um avanço de 10,3% em relação a 2024. No acumulado desde abril de 2024, as vendas totalizam 10,669 bilhões de litros (+4,3% ante 2023).

Já os estoques de etanol hidratado recuaram 18,5% na comparação anual, totalizando 2,944 bilhões de litros em 16 de fevereiro. Caso o consumo continue forte, os estoques finais de etanol em 31 de março podem ser 23% menores do que no ano anterior.

Arbitragem e preços no mercado internacional

O Brasil reduziu suas exportações de etanol em 25%, totalizando 1,887 bilhão de litros em 2024, sendo 16,4% desse volume destinado aos EUA. Enquanto isso, os norte-americanos exportaram um recorde de 7,4 bilhões de litros, mas com apenas 1,4% direcionado ao mercado brasileiro.

Caso não houvesse tarifas, a importação de etanol pelo Norte-Nordeste do Brasil estaria aberta com uma vantagem de 4,6%, segundo a DATAGRO. No entanto, essa janela de arbitragem deve desaparecer em abril.

A recente queda dos contratos futuros de açúcar bruto em Nova York, aliada à estabilidade dos preços do etanol hidratado no mercado interno, reduziu o spread entre os dois produtos. Em 11 de março, o etanol hidratado para produtores foi negociado a um valor equivalente a US$ 15,30 c/lb FOB Santos, 458 pontos abaixo do açúcar VHP para exportação.

Andréia Vital