Etanol cai R$ 0,50 nas usinas de SP, mas postos mantêm preços em Araçatuba
13-04-2016

Já são quatro semanas consecutivas de queda no preço pago ao produtor, conforme indicador do Cepea/Esalq

Com a retomada da moagem, o valor pelo qual etanol hidratado é oferecido pelas usinas paulistas recuou 25,8% entre as semanas encerradas em 18 de março e 8 de abril, queda equivalente a R$ 0,50 por litro. No entanto, o preço médio do biocombustível nos postos de Araçatuba não acompanhou o ritmo, apresentando ligeiro aumento de 0,012% no mesmo período.

O indicador Cepea/Esalq (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada/Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz") mostra que a cotação do litro na indústria despencou de R$ 1,933, na semana de 14 a 18 de março, para R$ 1,4329, na semana passada (de 4 a 8 de abril). Na outra ponta, o preço médio do álcool nas bombas araçatubenses passou de R$ 2,868 para R$ 2,88, de acordo com levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis).

Nos postos, conforme pesquisa da Folha da Região, na tarde de ontem o valor máximo praticado era de R$ 2,899. A última alta aconteceu em meados de janeiro.


Sem data

A queda no valor do etanol para o consumidor é uma tendência natural, porém "sem data para acontecer", esclarece o diretor regional do Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo), Fabiano Lima Pinto Ferraz. "Pode acontecer amanhã, semana que vem, não é algo mecânico."

Segundo ele, a maior parte das distribuidoras (que fazem o intermédio entre a comercialização do biocombustível nas usinas e nos postos) não repassa imediatamente a queda do valor por ter um estoque de 20 a 15 dias.

Da mesma forma, ele explica que o posto que comprasse o álcool por um preço maior teria desvantagem se o oferecesse a um valor mais em conta sem esgotar a mercadoria já armazenada para seguir as usinas. "A venda do etanol por um preço mais baixo seria vantajosa até para os postos, porque aumentaria o consumo. O cliente que está economizando, usaria mais", afirma.


Setor produtivo

A demora do mercado em repassar a redução das usinas é prejudicial aos consumidores e ao setor produtivo, defende o presidente da UDOP (União dos Produtores de Bioenergia), Celso Torquato Junqueira Franco.

De acordo com ele, o preço do etanol caiu mais do que o comum no início de safra deste ano, tanto devido ao aumento de oferta proporcionado por um clima favorável quanto pelo fato de o setor sucroalcooleiro ainda não ter superado as dificuldades financeiras. Assim, tem direcionado todo a produção para as vendas, por precisar de recursos para fazer caixa.

"Se a queda do etanol nas bombas acontecesse em tempo mais curto, como seria o ideal, teríamos um consumo adicional que possibilitaria um ajuste ao setor. Mas há esse `delay´ (atraso)." Ainda, segundo Franco, quando o valor do etanol sobe nas usinas, a resposta do mercado é muito mais rápida do que quando há queda.


Margens

De acordo com o sócio-diretor da assessoria em mercados de futuros Archer Consulting, Arnaldo Luiz Corrêa, enquanto as usinas pressionam os preços para aliviar o caixa, os postos e as distribuidoras os seguram para manter as margens. "Não há muito que fazer por parte dos produtores uma vez que eles precisam fazer dinheiro e as distribuidoras ainda possuem aproximadamente de 45 dias de estoques contra um consumo que está decrescente." Ele estima que atualmente as fornecedoras tenham uma margem de R$ 0,70 por litro.

Levantamento da ANP mostra que entre as semanas encerradas em 18 de março e 9 de abril, o preço médio do álcool comercializado pelas distribuidoras aos estabelecimentos do município baixou de R$ 2,388 para R$ 2,274. A queda é de R$ 0,114 por litro no período, ou seja, 4,77%. No mesmo intervalo, a margem média - diferença entre o valor pago à distribuidora e o preço cobrado do consumidor - se elevou de R$ 0,479 para R$ 0,606, aponta a agência reguladora.


Vendas têm recuo superior a 50% desde agosto

O gerente de posto de combustíveis em Araçatuba Sérgio Paulo Alves, calcula que a venda diária de etanol caiu de 14 mil litros para 6,5 mil litros, entre agosto de 2015, quando o município oferecia o etanol mais barato do País (média de R$ 1,567/litro), e as vendas atuais.

"Vendíamos para toda a região naquela época, mas depois que os municípios mais próximos passaram a praticar valores menores que os daqui, só vendemos para o morador de Araçatuba."

Em Penápolis (a 57 km de Araçatuba), é possível encontrar o litro do etanol a R$ 2,65. Em Coroados (a 29 km), o combustível custa entre R$ 2,619 e R$ 2,639. Já em Araçatuba, o preço mínimo ontem era de R$ 2,849/litro. Alves afirma que pretende repassar a queda aos clientes assim que a central da rede da qual o posto faz parte autorizar.

O aposentado Irineu Antigo, 62, de Araçatuba é um dos consumidores que diminuiu a compra de etanol devido ao aumento do custo. "Está absurdo! Fui para o Paraná esses dias e encontrei o litro por R$ 2,63. Aqui a gente nem tem saída porque os preços em postos diferentes nem variam muito", lamenta. RT

Rafaela Tavares