Etanol de 2ª geração já é realidade no interior de São Paulo
11-12-2014

Por Renato Ponzio Scardoelli

Postos de combustíveis da cidade de Piracicaba (SP) já comercializam etanol celulósico fabricado a partir de resíduos agrícolas

O tão aguardado etanol celulósico, também conhecido como etanol de segunda geração (G2), deixou de ser uma perspectiva e se tornou uma tecnologia disponível ao consumidor de Piracicaba, cidade do interior de São Paulo.

Gerado a partir da palha e do bagaço da cana-de-açúcar, o combustível foi produzido pela usina de etanol 2G da Raízen - joint venture da Cosan e da Shell no setor sucroenergético - que tem capacidade de produção de 40 milhões de litros por safra, o que deve aumentar em 50% a oferta da usina, que produz 80 milhões de litros anualmente de etanol de cana.

O anúncio foi feito pelo vice-presidente da Raízen, Pedro Mizutani, durante o 3º Simpósio de Agronegócio e Gestão promovido pelo Pecege/Esalq. "Ainda produzimos pouco. As operações com grande potencial produtivo começam a partir da próxima safra e a inauguração (oficial da nova usina) deve ser em março”, afirmou.

Na safra 2015/16, a produção de etanol 2G deve chegar a 26,7 milhões de litros
Na safra 2015/16, a produção de etanol 2G deve chegar a 26,7 milhões de litros

Na primeira safra completa, a 2015/2016, a usina deve produzir dois terços da capacidade total, ou seja, aproximadamente 26,7 milhões de litros. A unidade custou R$ 230 milhões, e outras oito plantas industriais de etanol 2G estão nos planos da Raízen no futuro, para a produção de até 1 bilhão de litros por safra do combustível a partir da celulose de bagaço e palha de cana.

Ainda segundo o executivo, a meta para o futuro é reduzir os custos de produção do etanol 2G, hoje de quatro a cinco vezes superior ao etanol de cana, principalmente pelo valor das enzimas utilizadas no processo. "Com o tempo e com o aprendizado os custos serão reduzidos", concluiu Mizutani.

Neste processo, os resíduos passam por um pré-tratamento para desestruturação da fibra, que depois é transformada em açúcar solúvel pelo processo de hidrólise enzimática.

Unica defende clareza para etanol

A diretora-presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Elizabeth Farina, que também participou do Simpósio, acredita que a anunciada recondução da economia brasileira deve trazer resultados para o setor, porém eles não serão imediatos.

Farina defendeu que haja mais clareza sobre o papel do etanol na matriz energética brasileira, o que inclui a definição do sistema de formação de preço dos combustíveis, que é o que orienta os investimentos empresariais. “Além de restabelecer o diferencial tributário entre o etanol e a gasolina, precisamos comparar as vantagens da bioeletricidade em tempos de crise hídrica e garantir incentivos para pesquisas que melhorem o desempenho do carro flex”, afirmou.

Certificação é barreira comercial para biocombustível, diz embaixadora

Na sequência do evento, a embaixadora Mariângela Rebuá, diretora do Departamento de Energia do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que um dos maiores desafios ao comércio internacional de biocombustíveis são as certificações exigidas pelos mercados compradores. "As barreiras comerciais assumem diferentes formas, como barreiras de certificação com critérios tendenciosos", disse ela.