Etanol: Estoques no centro-sul caem quase 30% e preços devem reagir
05-02-2016

Os estoques de etanol no Centro-Sul do País são quase 30% menores na comparação com janeiro de 2015 e essa oferta mais restrita deve fazer com que os preços do biocombustível continuem subindo até a entrada da próxima safra, em abril. Dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) apresentados recentemente ao governo mostram que, em 16 de janeiro, as reservas no país chegavam a 5,41 bilhões de litros, volume 27,6% inferior ao registrado em igual data de 2015.
Considerando-se apenas o hidratado, utilizado diretamente no tanque dos veículos, os estoques diminuíram 42,8%, para 4,25 bilhões de litros. Já os de anidro, misturado em até 27% à gasolina, caíram 7,6%, para 3,23 bilhões de litros. Conforme a Unica, a expectativa é de o que Centro-Sul termine a atual temporada, em 31 de março, com estoques de 1,23 bilhão de litros de etanol, sendo 400 milhões de litros de hidratado e 837 milhões de litros de anidro.
Os estoques de álcool são fundamentais para que os preços do produto não oscilem demais durante a entressafra, quando a produção é menor. Em 2014, a demanda mais fraca pelo biocombustível fez com que as usinas iniciassem o ano de 2015 com estoques confortáveis. Ao longo do ano passado, contudo, os preços atrativos do produto elevaram a procura nos postos e o consumo se refletiu nos estoques neste início de 2016. Além disso, as empresas não tiveram condições favoráveis para armazenamento - a linha de financiamento para estocagem de etanol foi oferecida a juros mais altos em 2015, o que reduziu a tomada dos recursos disponibilizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A oferta mais restrita do produto se reflete em preços mais elevados nos últimos meses. De acordo com o levantamento mais recente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço do etanol nos postos de combustíveis subiu em 20 Estados na semana passada. Só em São Paulo, principal consumidor, a alta foi de 1,4% na semana e de 4% no mês, para R$ 2,659 o litro. Desde dezembro, quando começou a entressafra, a valorização beira os 5%.
Até 16 de janeiro, as usinas e destilarias do Centro-Sul haviam processado 596 milhões de toneladas de cana (+5%), com produção de 27,26 bilhões de litros de etanol (+5%), dos quais 10,52 bilhões de litros de anidro (-3,1%) e 16,73 bilhões de litros de hidratado (+10,7%).
Pelas projeções da Unica, 95 unidades produtoras devem dar início ao ciclo 2016/17 antes de abril. A previsão é que processem a cana que ficou em pé no campo por causa das chuvas ao longo do ano passado. Serão 4 usinas em Goiás, 10 em Mato Grosso do Sul, 5 em Minas Gerais, 14 no Paraná e 62 em São Paulo. Juntas, elas devem processar 15,79 milhões de toneladas de cana referentes à próxima safra.
.Depois do realinhamento nos preços administrados, que afetou de forma importante os combustíveis e consequentemente a inflação de 2015, eis que surge um novo fator de pressão no segmento neste começo de ano. Diante da queda no volume de estoques de etanol, as cotações do biocombustível estão avançando e devem ficar elevadas pelo menos até o início da safra atual, daqui a dois meses. Com isso, os preços do produto vendido nos postos também deve continuar subindo e provavelmente deixar a gasolina mais cara para o consumidor no curto prazo, segundo economistas ouvidos pelo Broadcast, especialmente porque a demanda pelo combustível tende a aumentar.
"Pode ter uma migração da demanda para a gasolina e, consequentemente, majorar o preço desse combustível", afirmou o economista Étore Sanchez, da LCA Consultores. Também deve contribuir para essa transmissão a composição da gasolina, formada por até 27% de álcool anidro. Assim que a safra começar, a expectativa dos analistas é que os preços dos combustíveis diminuam o fôlego de alta. Além disso, um outro ponto lembrado pelos economistas é a recessão econômica, que tende a inibir reajustes de preços mais expressivos, na medida em que o consumidor tende a ficar cada vez mais criterioso na hora de gastar.