Etanol volta a ser esquecido
06-02-2015

O Brasil pode estar jogando fora investimentos e experiência acumulados ao longo de quarenta anos com a produção de etanol. Assim entendem produtores paulistas, que apontam o abandono do setor sucroalcooleiro ao mesmo tempo em que cobram políticas públicas bem definidas para toda a cadeia produtiva. E não se pode dizer que estão exagerando. O Proálcool, a partir dos anos setenta do século passado, representou, pela primeira vez, uma alternativa em escala para combustíveis fósseis, colocando o país numa posição diferenciada - e mais confortável - com relação ao resto do mundo e à dependência do petróleo. Esse diferencial, que nos melhores momentos chegou a garantir o abastecimento da quase totalidade da frota de veículos leves, fez muitos acreditarem na possibilidade de nos transformarmos numa plataforma global para produção e oferta de combustível verde, renovável e menos poluente.

Na prática, o país caminhou na direção contrária, transformado em importador regular de etanol derivado do milho enquanto a indústria local definha. Plantadores de cana-de-açúcar e usineiros reclamam que a aposta no crescimento acelerado não foi acompanhada de adequado suporte, nem mesmo de garantia de mercado. O plantio definhou, inúmeras usinas encerraram suas atividades e, na ponta final do consumo, o etanol perdeu a capacidade de concorrer com a gasolina enquanto a quase totalidade dos automóveis que saem das linhas de montagem é equipada com motores bicombustível, outra tecnologia inovadora desenvolvida e aperfeiçoada no país, mas queimam exclusivamente gasolina. Uma situação que deve persistir, mesmo com a recente majoração dos preços dos derivados do petróleo, porque o etanol acabou sendo reajustado na mesma proporção.

Mesmo com o petróleo em forte baixa no mercado internacional, situação que não se refletiu nos preços praticados internamente, o fato é que continua não fazendo sentido abandonar o etanol por seu potencial econômico e estratégico. E não se trata simplesmente de mais uma vez aumentar a mistura de etanol à gasolina, conforme vem sendo cogitado.  preciso na realidade fortalecer a base do setor, garantindo condições mais favoráveis à expansão das culturas e aos processos industriais posteriores, historicamente marcados pela instabilidade. Para que a produção seja de fato sustentável e para que se possa investir em aperfeiçoamentos tecnológicos que melhorem a produtividade e a eficiência energética do etanol e a própria indústria automotiva se anime ou seja levada a investir no aperfeiçoamento de seus produtos.

Tudo isso evidentemente sem os altos e baixos que sempre caracterizaram o setor, minando ao mesmo tempo a confiança de potenciais investidores e dos consumidores. Uma aposta para valer, num jogo que pode ser rápido e de grandes resultados.

Editorial