Falar da Orplana é falar dos desafios do canavicultor
24-05-2023
O engenheiro agrônomo José Guilherme Ambrósio Nogueira, novo CEO da ORPLANA, fala sobre os desafios da entidade para defender e assegurar a rentabilidade dos produtores no negócio bioenergético
No último mês, a Organização das Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) passou a ter um novo Ceo, o engenheiro agrônomo José Guilherme Nogueira. Profissional com 14 anos de experiência em gestão de negócios e planejamento estratégico dentro de empresas cooperativas e associações ligadas ao agronegócio, José Guilherme já teve passagens pela Cooperativa Agroindustrial (Coplana), Terreos, Associação dos Fornecedores de Cana (Socicana), Sebrae e Markestrat.
Em entrevista para Luciana Paiva, editora da CanaOnline, José Guilherme informou que a Orplana conta com aproximadamente 10 mil associados, congregados em 32 associações espalhas pelo Brasil, mas, principalmente na região Centro-Sul. Salientou que a missão da Orplana é defender e assegurar a rentabilidade dos produtores no negócio bioenergético e, falar da Orplana é falar dos desafios do canavicultor.
Desafios como: aumentar a produtividade e longevidade dos canaviais, lidar com a escassez de mão de obra, alto custo de produção, gestão e comunicação. “A atividade canavieira é intensiva em capital, exige muito investimento, não é fácil ter 15% de margem só para pagar custo financeiro. Por isso, a atividade precisa ser muito rentável e muito bem gerida”, observa.
O PRODUTOR DE CANA NO RENOVABIO
Possibilitar aos produtores ganhos com os diversos produtos da cana tem sido um ponto de atenção da Orplana. Um deles é a parte que lhes cabe no RenovaBio. A Entidade pleiteia que 80% do valor dos créditos de carbono (CBIOs) obtidos por meio da cana oriunda de fornecedor de cana seja repassado para o produtor. “Quem captura a maior parte do carbono é a cana-de-açúcar e não a indústria. É o campo. Mas reconhecemos que é a indústria que transforma a cana em etanol, essa participação equivale a 20% do processo”, explica José Guilherme.
A reinvindicação está em negociação entre Orplana e a União da Indústria da Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA) que propõe o repasse ao produtor de cerca de 50% do valor do CBIO. Em algumas partes do país, produtores já conseguiram, com as unidades que fornecem cana, uma porcentagem melhor que a proposta pela UNICA. A Orplana pleiteia que todos os produtores tenham o direito aos 80%. “Buscamos também os CBIOs dos anos anteriores e não só daqui para frente. É um programa de descarbonização e o produtor rural atua nisso. E a Orplana trabalha forte defendendo esse direito ao produtor”, salienta José Guilherme. A discussão dessa causa vem sendo trabalhada exaustivamente pela entidade junto às unidades produtoras, Unica, Senado e Câmara Federal.
Por meio do Consecana, a Orplana atua para melhorar a precificação de cana ao produtor, que segundo eles está defasada. Outra reinvindicação da entidade é a maior valorização pelos canaviais certificados, pois agregam valor ao produto final. E, ainda dentro do RenovaBio, solicita a independência do produtor poder vender a captura de carbono para empresa que paga mais.
Para José Guilherme, pouca gente conhece o nível de esforço que o produtor faz no dia a dia, e o nível de custo. “O gasto financeiro é muito alto. É uma indústria a céu aberto onde acaba utilizando grandes máquinas e mobiliza grandes ativos para fazer as devidas ações, então o produtor precisa ser reconhecido por isso. E as externalidades positivas precisam ser remuneradas.”
MELHORAR A COMUNICAÇÃO COM O GOVERNO E COM A SOCIEDADE
Se comunicar melhor com o governo e a sociedade e é mais um desafio da entidade apontado por José Guilherme. “Precisamos mostrar a importância da Orplana. Em relação à representatividade do setor, a impressão que se tem é que só existe a Unica. Mas quem fala pelo produtor de cana é a Orplana. Por isso, precisamos aumentar nosso protagonismo e ressaltar que estamos atentos às mudanças no governo federal, estadual e municipal que podem impactar o negócio, como a reforma tributária.”
Em relação à comunicação com a sociedade, José Guilherme ressalta que é fundamental mostrar que o produtor rural busca produzir de forma sustentável, sem agredir o planeta, pelo contrário, seu foco é proteger e preservar os recursos naturais, afinal, sem eles não há produção. Além de respeitar o escopo social e promover o desenvolvimento das comunidades onde estão inseridos.