Fazenda integra criação de frango com produção de cana e cachaça

30-09-2024

Fazenda São Geraldo, em Batatais (SP), conquistou o selo de produção orgânica

Por Eliane Silva — Batatais (SP)

Há 40 anos, o agricultor José Augusto Tomazella, mais conhecido como "Sozé", implantou cercas-vivas com sansão-do-campo para proteger os três mananciais da Fazenda São Geraldo, em Batatais (SP), formando um oásis no meio da propriedade. Pequeno produtor de leite, Sozé também resolveu colocar música no curral para acalmar as vacas na hora da ordenha.

“Ele era um produtor sustentável raiz, bem intuitivo, numa época em que nem se falava em sustentabilidade”, conta a produtora e engenheira agrônoma Laura Vicentini, que atualmente ocupa os 15 hectares do oásis protegido no canavial convencional de 200 hectares que pertence à família do marido, Rodrigo Spina, neto de Sozé.

Na área, Laura e Rodrigo produzem mudas pré-brotadas de cana desde 2017, fabricam cachaça e criam 1 milhão de frangos por ano em nove aviários como integrados da JBS.

Foto: Thiago de Jesus

O trabalho desenvolvido na Fazenda São Geraldo foi reconhecido na oitava edição do Prêmio Fazenda Sustentável, uma iniciativa da Globo Rural em parceria com o Rabobank e o Imaflora, e com patrocínio de Cargill e TIM. A fazenda ficou em segundo lugar na categoria Pequena Propriedade.

Tendo como inspiração as práticas de Sozé e suas próprias experiências, Laura teve como foco de seu negócio criar uma propriedade sustentável. O selo de orgânico foi conquistado no ano passado, sem necessidade de grandes mudanças. Com a certificação da Bonsucro desde 2020, a produção de mudas licenciadas de 43 variedades atinge 4,5 milhões por ano.

“Na produção das mudas, usamos apenas as gemas (os nós dos caules da cana) e o tolete que sobrava era ensilado e moído para alimento das poucas vacas que mantemos na fazenda para uso pessoal. Pensei, então, em dar um bom uso também para o tolete, a parte nobre da cana.”

Em 2020, “nasceu” a cachaça Sozé, produzida com a moagem dos toletes e de parte da cana orgânica a fazenda. Com a consultoria de especialistas, o casal instalou um alambique de cobre com capacidade anual de produzir 60.000 litros, ou 80.000 garrafas de 750 mililitros. Só é envasado o líquido destilado no “coração” do alambique, que representa cerca de 12% a 15% do volume. O restante se torna vinhaça ou etanol para abastecer a frota leve da fazenda e as motos dos funcionários.

Até o primeiro semestre, 100% da produção era exportada para Europa, Estados Unidos e Ásia. Questionada por que não comercializou a bebida premium no mercado interno, Laura diz que a produção era pequena para atender a grandes compradores e, no Brasil, a compra de produtos pela sustentabilidade ainda está sendo formada. “Lá fora não preciso de propaganda ou de influenciadores. Os (seis) selos da garrafa falam por si.”

Fazenda São Geraldo - Batatais (SP)

Recentemente, o casal comprou um novo alambique de cobre para aumentar a produção para 120.000 litros. Nessa expansão, fechou contrato com um hotel de Mairiporã (SP), que deve receber a primeira remessa de cachaça em setembro.

Todos os resíduos da fazenda são aproveitados. A cama aviária dos frangos, o bagaço da produção da cachaça, a vinhaça e as mudas que não brotam são transformadas em composto orgânico para adubar o canavial. A água para produção da cachaça e irrigação das mudas vem de outorga legal. Laura diz que a região tem uma pluviosidade muito boa, de 1.800 a 2.000 milímetros por ano, o que dispensa o uso de todo volume outorgado em alguns anos.

Dos 27 funcionários da fazenda e destilaria, 19 são mulheres e 95% vieram de áreas próximas onde há situação de vulnerabilidade, cumprindo um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Outros 15 objetivos também são praticados na fazenda, e o cumprimento do 17º está em andamento. Em agosto, foi feita uma campanha de reciclagem de garrafas na praia de Pipa, no Rio Grande do Norte, que coletou 1.500 unidades que serão usadas para envase da Sozé em 2025. O selo de compromisso cumprido deve ser emitido em dezembro.

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Fonte: Globo Rural