Fermentec discute o futuro do setor em Reunião de Abertura da Safra
27-02-2025

Com foco em tecnologia e sustentabilidade, encontro reuniu especialistas e lideranças do setor, em Ribeirão Preto- SP

A tradicional Reunião de Início de Safra da Fermentec, foi realizada nesta quarta-feira (26), em Ribeirão Preto-SP. O encontro, que serviu de palco para o debate de desafios e inovações do setor sucroenergético foi conduzido pelo mestre de cerimônias Fernando Eder Ré e contou com a presença de especialistas e lideranças do setor.

Henrique Berbert de Amorim Neto, presidente da Fermentec, destacou a crescente demanda global por etanol. Citando exemplos como a Índia, que está elevando a mistura de etanol na gasolina para 25%, e o Brasil, com um percentual de 27,5%, ele enfatizou a necessidade de eficiência para atender tanto o mercado interno quanto as exportações. A inovação tecnológica, segundo ele, é a principal aliada nesse crescimento, com destaque para a utilização do GAOA, uma solução de inteligência artificial desenvolvida pela Fermentec, que hoje já é aplicada por 20 usinas de etanol e 13 de açúcar.

O evento também abordou os desafios enfrentados na safra de 2024, com um foco em soluções para aprimorar a eficiência operacional. Claudemir Bernardino,
vice-presidente de tecnologia da Fermentec, destacou o impacto das condições climáticas adversas e das queimadas, que reduziram a qualidade da matéria-prima e afetaram diretamente a produção de etanol e açúcar. Ele ressaltou que, para a safra de 2025, uma transformação digital robusta será essencial, com tecnologias como o monitoramento em tempo real e biotecnologia avançada.

Silene de Lima Paulillo, coordenadora de Pesquisa em Seleção de Leveduras da Fermentec, apresentou soluções inovadoras no uso de leveduras adaptadas ao estresse da fermentação. Atualmente, quatro das leveduras mais utilizadas pelas usinas brasileiras são da Fermentec: a PE-2 está presente em 92 usinas, a CAT-1 em 75, a FT858L em 67 e a Fermel é utilizada em 53 unidades.

Com exemplos de sucesso de usinas que enfrentaram desafios com matéria-prima de baixa qualidade, ela compartilhou estratégias para otimizar a fermentação e garantir uma produção eficiente. A escolha das leveduras e o monitoramento contínuo dos processos foram destacados como fundamentais para a eficiência na produção de etanol.

No âmbito da digitalização, Eder Silvestrini abordou o impacto da tecnologia NIR no avanço da Indústria 4.0. Essa tecnologia, integrada à inteligência artificial, tem revolucionado a produção de açúcar e etanol ao permitir o monitoramento contínuo e a otimização dos processos em tempo real. O NIR tem se mostrado indispensável para a qualidade e a rastreabilidade dos produtos, além de permitir ajustes rápidos durante a produção.

Silvestrini compartilhou experiências de projetos que utilizam o NIR online, desde os primeiros estudos com cana desfibrada na usina Ipiranga Mococa até a consolidação desse trabalho na Alta Mogiana.

Além disso, ele destacou a aplicação do NIR no monitoramento contínuo da coloração do açúcar, incluindo sua implementação no projeto da FINEP com a UFSCar no Grupo Pedra – unidade Ipê. Nesse contexto, a tecnologia é integrada à inteligência artificial para rastrear diversos parâmetros e identificar o momento ideal para o término da fermentação. Para Eder, o elemento humano continua sendo essencial nessa evolução, e a capacitação dos profissionais é o que transforma inovação em resultados concretos.

Outro destaque do evento foi a apresentação da IRIS (Integrated Resource for Intelligent Systems), uma nova assistente virtual da Fermentec, que utiliza inteligência artificial para fornecer respostas rápidas e precisas sobre diversos aspectos da produção. Essa ferramenta visa otimizar a comunicação e o suporte aos clientes, facilitando o acesso a informações técnicas e melhorando a eficiência operacional das usinas.

Uma versão virtual do fundador da Fermentec, Henrique Vianna de Amorim, demonstrou um breve tutorial sobre o sistema. A IRIS opera com protocolos avançados de segurança, garantindo a confidencialidade das interações.

O professor da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp de Botucatu, Carlos Alexandre Costa Crusciol, apresentou informações sobre o impacto do estresse hídrico e das altas temperaturas na qualidade da matéria-prima. De acordo com ele, uma cana sob estresse aprofunda a raiz para buscar água, aumenta a espessura da parede celular, muda o ângulo da folha para gerar sombra e elimina folhas para não perder mais água. Para se defender, a cana começa a consumir açúcar, reduzindo o ATR. “Temperaturas extremas podem ser mais danosas para as plantas do que pragas e doenças”, explicou.

Já Thiago J. B. Mesquita trouxe uma análise detalhada sobre os desafios e estratégias para otimizar o processo produtivo no setor sucroenergético. Entre os principais temas abordados, destacaram-se a importância da qualidade da matéria-prima, o controle microbiológico, a necessidade de manutenção eficiente e o impacto das variações no mix de produção.

Na ocasião, foi enfatizado como a entrada de matéria-prima influencia diretamente a eficiência da fermentação. Algumas leveduras personalizadas mostraram maior resistência a impactos, enquanto outras não conseguiram manter a estabilidade diante da deterioração do mosto. Isso resultou na necessidade de ajustes no uso de insumos, como ácido e antibióticos, especialmente para quem trabalha com álcoois especiais, devido à correlação entre contaminação e produção de propanol.

O especialista destacou que o processamento de cana queimada representa um desafio adicional para a extração, tornando essencial o ajuste preciso da moagem e o monitoramento rigoroso de indicadores como acidez, Brix e dextrana. Ao longo do processo, essas variações na matéria-prima afetam diretamente a eficiência da indústria, exigindo um alinhamento contínuo entre gestão, tecnologia e operação. Um planejamento estratégico aliado a um controle rigoroso de parâmetros permite que a usina atue de forma preventiva e implemente ajustes rápidos sempre que necessário.

A gestão dos recursos hídricos tem se tornado um tema crítico para o setor industrial, e Guilherme Marengo, gerente de Engenharia e Novas Tecnologias na Fermentec, destacou na reunião a importância de estratégias eficazes para reduzir a captação de água. Segundo ele, com a crescente dificuldade na obtenção de licenças para captação e a escassez de chuvas em algumas regiões, é essencial repensar processos e tecnologias que otimizem o uso desse recurso vital.

Uma das soluções envolve a implementação de equipamentos mais eficientes, como condensadores evaporativos, que contribuem para a redução do consumo de água. No entanto, a gestão inteligente desse recurso vai além da modernização de equipamentos: é fundamental monitorar detalhadamente todos os pontos de consumo dentro da usina.

A vinhaça, subproduto da produção de etanol, é um exemplo claro da importância dessa gestão. Para cada litro de etanol produzido, são gerados aproximadamente 12 litros de vinhaça. No entanto, ao elevar o teor alcoólico da fermentação, a vinhaça se torna mais concentrada, reduzindo a necessidade de água no processo.

Outra iniciativa relevante é a criação de um comitê interno de gestão hídrica, responsável por monitorar o uso da água e propor ações para otimizar seu consumo. Com uma abordagem estratégica e integrada, é possível minimizar desperdícios, reduzir a dependência da captação externa e garantir maior sustentabilidade para o processo produtivo.

O vice-presidente da Fermentec, Claudemir Bernardino, reforçou que, embora a tecnologia continue transformando os negócios, as relações humanas seguirão sendo o grande diferencial para o sucesso. O equilíbrio entre habilidades técnicas e comportamentais é essencial para um desenvolvimento sustentável, assim como a integração entre profissionais experientes e as novas gerações.

No final, ele deixou uma mensagem clara: quem deseja estar à frente do mercado precisa estar disposto a evoluir e se adaptar às mudanças.

Andréia Vital