Fitch descarta "upgrade" no rating da Biosev e da Jales Machado
17-04-2015

O analista sênior de açúcar e etanol da Fitch, Claudio Miori, disse que o fim deste mês é o prazo final para que a agência de classificação de risco de crédito se posicione sobre a observação negativa feita em outubro para as sucroalcooleiras Biosev e Jales Machado.

Em entrevista durante evento da Fitch, em São Paulo, ele disse estar descartado um "upgrade" (elevação) da nota de crédito das duas empresas.

"O rating será ou mantido ou rebaixado, e a observação negativa pode ser retirada ou permanecer", explicou. Nas últimas semanas, a Fitch rebaixou as notas de crédito da Tonon Bioenergia e da USJ Açúcar e Álcool.

O "downgrade" foi motivado, em linhas gerais, pelo enfraquecimento do perfil financeiro dessas companhias, assim como pela geração negativa de fluxo de caixa livre (FCF) e um aumento da concentração dos débitos no curto prazo.

O analista da Fitch afirmou que a principal preocupação no momento é com a liquidez das companhias de açúcar e etanol no Brasil.

“O foco agora é liquidez e o acesso dessas companhias a financiamento e a rolagem de dívidas de curto prazo”.

Ele disse que neste ano o acesso a linhas de longo prazo está mais restrito a esse setor. A exceção vem sendo as empresas que têm terras para serem usadas como garantias desses empréstimos.

“O BNDES também está mais restritivo”, acrescentou.

Ele lembra que o setor sucroalcooleiro é intensivo de capital, o que torna a condição de liquidez dessas empresas mais complicada.

“Quando vier o ciclo de alta dos preços do açúcar, o humor dos bancos e investidores com esse setor tende a melhorar, facilitando, portanto, a vida dessas companhias”, afirma.

Além da liquidez, há também outras questões que estão sendo observadas pela agência na avaliação de risco.

“Operacionalmente, estamos analisando como será a moagem de cana, a produtividade dos canaviais, além de uso da capacidade instalada dessas empresas".

Na sua visão, os preços do etanol devem subir um pouco neste ano no Brasil, no entanto, não em níveis suficientes para aliviar a pressão existente hoje sobre o caixa das companhias sucroalcooleiras.

Para o açúcar, a perspectiva do analista, é de que haja um pequeno déficit mundial neste ciclo 2014/15, que se encerra em 30 de setembro deste ano, e um déficit um pouco maior em 2015/16.

“Os estoques da commodity estão altos. O equilíbrio global da commodity vai depender também do comportamento do dólar em relação às moedas dos países produtores, como o Brasil. O dólar valorizado ante o real tende a estimular as usinas brasileiras a exportar”, avalia Miori.

Ainda que uma remuneração maior venha do etanol este ano, os custos de produção também estão subindo, dada a alta dos juros básico da economia, o que deve impactar o fluxo de caixa dessas companhias.

“A alta do dólar também tende a jogar contra o setor, na medida em que as usinas têm uma elevada dívida na moeda americana”, afirmou.

Hoje, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou os ratings de crédito corporativo da Tonon Bioenergia de ‘B’ para ‘CCC+’ na escala global.

Também rebaixou o rating de sua dívida com garantia de ‘B’ para ‘CCC+’ e também o rating atribuído ao seu bond sem garantia de ‘B-’ para ‘CCC’. Na semana passada, a agência Fitch também rebaixou os ratings da companhia.