FS testará resíduo do etanol de milho para cultivar fungo para ração animal
09-06-2025

Companhia, uma das maiores fabricantes de etanol de milho do país, usará material de operação de usina para obter composto conhecido como pekilo
Por Camila Souza Ramos — São Paulo
A FS, uma das maiores produtoras de etanol de milho do país, está construindo uma planta-piloto anexa a sua usina em Lucas do Rio Verde (MT) para testar a produção do pekilo, um ingrediente de nutrição animal à base de um fungo patenteado pela empresa finlandesa Enifer. Para o cultivo do fungo, a unidade prevê utilizar como substrato alguns resíduos da produção de etanol, como a vinhaça e o xarope.
O projeto, em que as duas companhias trabalham em parceria, deverá receber um investimento de cerca de R$ 20 milhões, segundo a previsão atual. A iniciativa foi eleita para receber um subsídio de R$ 9,8 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), sob o guarda-chuva do edital Mais Inovação Brasil, que terá contrapartida da FS.
O uso dos resíduos industriais da companhia na fermentação do pekilo já foi testado em laboratório, e a nova planta permitirá à companhia fazer os testes em escala industrial. A previsão é de que a unidade comece a operar em junho de 2026.
A fermentação do pekilo em laboratório resultou em um composto que tem concentração de mais de 60% de proteína. Isso poderia atender a mercados de nicho de nutrição animal, como a aquacultura, pintinhos e pets.
Segundo Daniel Lopes, vice-presidente de novos negócios e sustentabilidade da FS, os testes na planta-piloto permitirão às duas companhias trabalhar na especificação do produto, na produtividade e em outros detalhes técnicos. Esses esforços são necessários para posicionar o pekilo a clientes em potencial.
“Com base na especificação técnica, ainda vamos aprender mais para saber com o quê [o pekilo] vai competir. Ainda temos um nível de incerteza, mas vemos o pekilo competindo com produtos de alto valor proteico e nutricional, como a proteína de inseto”, afirmou o executivo.
Na aquacultura, o ingrediente nutricional dominante é a farinha de peixe. Já um nicho desse mercado, mais preocupado com sustentabilidade, consome as chamadas “superproteínas”, como proteína de inseto e proteínas bacterianas — com os quais o pekilo talvez consiga competir.
A definição do resultado final do produto também permitirá à FS e a Enifer definir quais serão as bases da parceria comercial que as duas empresas vão desenvolver para produzir e vender o pekilo.
Para a cultura de fermentação do pekilo, a FS utilizará a vinhaça “fina”, um resíduo líquido rico em matéria orgânica e sólidos. Poderão entrar nos testes tanto a vinhaça “pura” como o xarope. Para produzir esse xarope, a FS submete a vinhaça a um processo de concentração térmica para a retirada de boa parte da água.
A planta-piloto deverá consumir cerca de 5% da vinhaça que a FS produz atualmente na usina de Lucas do Rio Verde. Se o projeto evoluir e passar a ter escala industrial, o consumo pode chegar a aproximadamente 50% de toda a vinhaça que sai da unidade.
Fonte: Globo Rural