Grupo RAS certifica 6,5 mil hectares com selo Bonsucro e eleva padrão de sustentabilidade no campo
22-10-2025

Produtor paulista alia governança ESG, integração lavoura-pecuária e gestão por indicadores em um modelo de negócio familiar e inovador

Por Andréia Vital

O Grupo RAS, antes Agropecuária Bandeirantes, tradicional produtor de cana-de-açúcar e pecuária no norte do estado de São Paulo, acaba de conquistar a certificação internacional Bonsucro, padrão global de sustentabilidade da cadeia sucroenergética. A chancela abrange 6,5 mil hectares cultivados com cana e consolida um ciclo de mais de um ano de auditorias, capacitação e investimentos em adequações ambientais e de gestão.

A certificação, explica Cristiane Simone, consultora de sustentabilidade estratégica do grupo, “garante que a produção agrícola atende a rigorosos critérios ambientais, sociais e econômicos”. Reconhecida mundialmente, a Bonsucro mede indicadores de desempenho sustentável e comprova que a fazenda opera em conformidade com práticas de governança, respeito trabalhista e eficiência produtiva.

 

Para Mohamad Riad Perrone Sammour, diretor do Grupo RAS, o selo é “um marco que reafirma o legado iniciado na década de 1980” por seu pai, Riad Ali Sammour, então citricultor pioneiro em práticas de manejo sustentável. “Temos o solo como nosso maior patrimônio. Buscamos a certificação como instrumento de melhoria contínua e fortalecimento do nosso compromisso ESG”, afirma.

O processo, conduzido ao longo de mais de um ano, envolveu uma profunda revisão de processos internos, formalização de boas práticas e criação de um sistema de assuntos regulatórios. Segundo Sammour, os maiores desafios estiveram na mudança cultural dos colaboradores, que precisaram incorporar no dia a dia os critérios da Bonsucro, e na estruturação documental para comprovar práticas já adotadas.

“O aprendizado foi coletivo. Desde a diretoria até os trabalhadores do campo, todos compreenderam que sustentabilidade não é um requisito externo, mas parte da identidade da empresa”, explicou. Além da capacitação da equipe da unidade RAS Band, foram realizadas auditorias externas, treinamentos e adequações físicas para atender às exigências de segurança, meio ambiente e governança.

Sammour destaca que a equipe abraçou o projeto com comprometimento. “A certificação passou a ser encarada não como uma obrigação, mas como um valor. Tornou-se parte da cultura RAS”, resume.

ESG na prática: da cana crua à integração lavoura-pecuária

A trajetória sustentável do Grupo RAS não começou com o selo, mas foi consolidada por ele. Desde 2010, a empresa adotou colheita mecanizada e aboliu o uso do fogo na colheita de cana — transição que resultou em ganhos de produtividade, qualidade do solo e redução de emissões.

“Com a cana crua, passamos a observar um ganho expressivo de fertilidade e vida microbiológica do solo. Isso nos encorajou a seguir investindo em inovação e tecnologia”, explica Sammour.

Outro pilar do modelo RAS é a integração lavoura-pecuária, estratégia que combina intensificação da pastagem e rotação com áreas agrícolas, permitindo diversificação de receitas e otimização de recursos naturais. “Saímos da pecuária de pasto extensivo e evoluímos para um sistema intensivo, verticalizado, com melhor aproveitamento da terra e menor impacto ambiental”, complementa.

Além de reforçar a governança ambiental, a certificação trouxe ganhos operacionais. “A Bonsucro contribui para padronizar processos, aumentar a eficiência produtiva e reduzir custos”, explica Cristiane. “Também fortalece a imagem corporativa, amplia o acesso a mercados que exigem rastreabilidade e sustentabilidade e proporciona segurança jurídica alinhada às melhores práticas internacionais”.

Durante o processo de certificação, a fazenda estruturou indicadores-chave de desempenho (KPIs) para monitorar aspectos ambientais, produtivos e sociais. Essa formalização de métricas — exigência central do padrão Bonsucro — consolidou um sistema de gestão integrada, baseado em dados e melhoria contínua.

O sucesso do projeto, ressalta Sammour deve-se ao engajamento de toda a estrutura organizacional. “Houve comprometimento da diretoria, das lideranças e dos colaboradores. Isso fortaleceu o senso de pertencimento e a cooperação entre as áreas”, afirma.

Entre os benefícios observados, ele cita o desenvolvimento profissional da equipe, o reconhecimento interno, a melhoria na comunicação e o reforço das relações com a comunidade local. “Criamos um ambiente em que a sustentabilidade se traduz em orgulho de fazer parte da empresa”.

A conquista do selo coincidiu com o encerramento da safra 2025/26, marcada por desafios climáticos. “Viemos de um ano de seca e queimadas, mas, com manejo técnico, irrigação e replantio, conseguimos manter a produtividade praticamente igual à do ano anterior”, disse. A produção é destinada majoritariamente ao Grupo Tereos, parceiro industrial de longa data.

Para o Grupo RAS, a certificação Bonsucro é mais do que uma meta técnica - é um símbolo de continuidade. “Representa a manutenção do legado de meu pai e a consolidação da cultura de sustentabilidade que orienta nossas decisões empresariais”, afirma Sammour.

Cristiane Simone complementa: “Cada desafio foi convertido em aprendizado. A persistência e o foco da equipe transformaram a certificação em um processo de crescimento contínuo”.

Com o selo Bonsucro, o Grupo Haas se insere entre os produtores agrícolas que combinam competitividade e responsabilidade, provando que sustentabilidade e rentabilidade podem - e devem - caminhar lado a lado.