Guariba: da greve de boias-frias a exemplo mundial de cooperativismo rural
17-09-2024

Criado pela Socicana, Coplana e Sicoob PRO, “Ecossistema Guariba de Produção Sustentável’ cria agendas em comum para impulsionar atividade dos produtores rurais e melhorar a qualidade de vida da população

Luciana Paiva e Leonardo Ruiz

A cana-de-açúcar foi a primeira grande riqueza agrícola e industrial brasileira. Introduzida em meados de 1530, rapidamente se tornou o alicerce econômico, não somente da coroa portuguesa na nova Colônia, mas da república posteriormente instalada. Embora tenha passado por altos e baixos ao longo de sua história, a cana segue até hoje como uma das principais culturas do agronegócio brasileiro, e um dos pilares do nosso Produto Interno Bruto (PIB).

Nesses quase cinco séculos em solo brasileiro, a cana passou por profundas transformações. Já foi cultivada manualmente e carregada em lombo de burro. Hoje, é plantada, colhida e transportada por máquinas automatizadas e, em alguns casos, autônomas. Já foi avessa à tecnologia, mas já se rende amigavelmente à inteligência artificial. Já foi apenas de açúcar, mas agora é de uma infinidade de produtos. Etanol de primeira e segunda geração, energia elétrica, biogás, biometano, combustível marítimo e de aviação, plástico verde, cosméticos, produtos farmacêuticos e até material de construção se juntam ao bom e velho adoçante, transformando a cana-de-açúcar em cana-de-tudo.

São muitos os exemplos que retratam essa evolução. Mas nenhum é tão singular quanto a relação simbiótica entre a cana e o município paulista de Guariba. Com pouco mais de 37 mil habitantes, a história dessa cidadezinha interiorana se entrelaça com a da canavicultura. Se a cana-de-açúcar se transformou ao longo do tempo, Guariba foi uma das principais engrenagens.


Com pouco mais de 37 mil habitantes, a história de Guariba se entrelaça com a da canavicultura (Foto: Grupo Imobiliário Laurentiz)

Berço do cooperativismo canavieiro, dos conceitos ESG e de técnicas de agricultura regenerativa, cenário da maior greve de boias-frias da história – que alterou para sempre as relações de trabalho no setor – e sede da maior planta de etanol de segunda geração do mundo e de uma das maiores fábricas de biogás do planeta. Essas são apenas algumas das características que tornam Guariba uma terra querida pela cana-de-açúcar, amada pelos seus e reverenciada mundo afora.

“Tristeza dos citrus” dizima laranjais, dá lugar a cana-de-açúcar e transforma para sempre a história da boa e velha Guariba

Essa história de pioneirismo, sucesso e prosperidade tem início em meados da década de 1940. Curiosamente, com tristeza. A tristeza do citrus, considerada a virose de maior importância econômica no mundo para a citricultura, estava dizimando os laranjais da fazenda São Martinho, pertencente à família Antônio da Silva Prado e localizada em Pradópolis, na época, distrito de Guariba.

Impressionados com a rapidez com que a doença se alastrava, os proprietários da fazenda contrataram Antonio José Rodrigues Filho, chefe da Estação Experimental de Citricultura de Cordeirópolis (atual Centro de Citricultura Sylvio Moreira), para tentar sanar o problema. Ao constatar o tamanho da “tristeza” que se abatia nos laranjais, o agrônomo não viu outra saída. Orientou os donos para substituírem a citricultura pela canavicultura, que na época já se apresentava como um bom negócio.


Mudar da citricultura para a canavicultura foi ideia de Antonio José Rodrigues Filho, que anos mais tarde viria a se tornar precursor do cooperativismo em Guariba e região (Foto: Arquivo público do Estado de São Paulo)

Uma vez que migrar para o cultivo de cana-de-açúcar havia sido sua ideia, Antonio ficou encarregado de montar a usina “São Martinho”. Nesse meio tempo, seu sogro faleceu, deixando uma herança para sua esposa e cunhados, também engenheiros agrônomos. Juntos, decidiram usar esse dinheiro para adquirir uma fazenda nas imediações da nova indústria.

Localizada do outro lado do rio Mogi-Guaçu, dentro dos limites de Guariba, a Fazenda Santa Izabel iniciava ali sua trajetória de sucesso, com foco principal na produção de cana-de-açúcar para fornecimento para a Usina São Martinho, que décadas mais tarde viria se tornar a maior processadora de cana do mundo.

Com o passar dos anos, o cenário rural local foi sendo tomado pelos canaviais. O sucesso da cultura foi tamanho que a região que compreende os municípios de Guariba, Pradópolis e Jaboticabal passou a ser considerada uma das melhores áreas para o cultivo de cana-de-açúcar do Brasil, graças a seu solo fértil, topografia plana, boas condições climáticas e proximidade a rodovias e ferrovia. Esses fatores acabaram por estimular outros empreendimentos, como a Usina Bonfim, instalada em Guariba em 1948, considerada, na época, uma das cinco maiores do mundo.

Como não existe cana sem indústria e nem indústria sem cana, as usinas necessitavam de matéria-prima de fornecedores. Atraídos pela possibilidade, muitos produtores rurais passaram a se dedicar à lavoura canavieira. Observando esse movimento, Antonio Rodrigues fundou, em 1951, a Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba (Socicana). Além de fundador, foi seu primeiro presidente, permanecendo no posto por 15 anos. Em 28 de março de 1963, participou da fundação da Coplana – Cooperativa Agroindustrial. Foi também seu primeiro presidente, ocupando a cadeira até 1966.

Em Guariba, Roberto Rodrigues antecipa adoção de conceitos ESG e dá início a trajetória cooperativista

Na fazenda Santa Izabel, Roberto – filho de Antonio Rodrigues – crescia acompanhando a efervescência da cultura canavieira guaribense. Encantado, foi cursar engenharia agronômica na ESALQ-USP em Piracicaba/SP. Quando seu pai partiu rumo a capital paulista no final dos anos 1960 para assumir um cargo público, o agora engenheiro agrônomo Roberto Rodrigues retornou à Guariba a fim de assumir a propriedade.

Ali, empreendeu uma gestão baseada em práticas até então desconhecidas pela maior parte dos profissionais do setor, mas que hoje integram o ESG, conceito que abrange um conjunto de ações voltadas para a preservação do meio ambiente, responsabilidade social e transparência empresarial.

Paralelamente, Roberto percebeu que a associação e a cooperativa criadas por seu pai existiam de forma tímida. Não só achou que elas poderiam fazer mais, como as levou a realizar. Inquieto, participou ainda da fundação da Sicoob Coopecredi, atualmente Sicoob PRO, criada para prestar suporte financeiro aos canavicultores de Guariba e região e que hoje se destaca por premiar cooperados e associados que praticam a agricultura sustentável. Além de fundador, foi presidente no biênio 1978/1980.


Roberto Rodrigues assumiu projetos do pai e colocou Guariba como um dos maiores exemplos
de cooperativismo rural do mundo (Foto: Arquivo)

A atuação destacada nessas três entidades apresentou Roberto Rodrigues para o mundo do associativismo e cooperativismo, levando-o à presidência da Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB por dois mandatos (1985/1991); da Organização Internacional de Cooperativas Agrícolas (de 1992 a 1997) e da Aliança Cooperativa Internacional – ACI (1997/2001). O que era praticado em Guariba foi disseminado mundo afora.

Completando 82 anos em agosto de 2024, Roberto Rodrigues ainda acumulou os títulos de embaixador e líder mundial em cooperativismo, professor do Departamento de Economia Rural da UNESP de Jaboticabal, coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ministro da Agricultura e um dos protagonistas da transformação do universo canavieiro.

“Levante de Guariba” muda a relação de trabalho no universo canavieiro

Em maio de 1984, Guariba ganhou o noticiário nacional e internacional, não pelo pioneirismo dos bons exemplos de Roberto Rodrigues, da fazenda Santa Izabel, do cooperativismo e associativismo, mas por algo também inédito: a greve dos cortadores de cana, popularmente conhecidos como “boias-frias”.

O mar de cana que cobria a região de Guariba naquela época exigia milhares de mãos para empunharem o facão na colheita, ainda realizada de forma manual. Estima-se que na década de 1980, o setor empregava cerca de 1,5 milhão de cortadores nos mais de mil municípios canavieiros. E não só na cana, como em muitos segmentos, os direitos trabalhistas deixavam bastante a desejar.

Mas o que levou ser em Guariba o primeiro levante de trabalhadores da história do setor? Para estudiosos, foram três motivos:

1º - Mudança do tamanho do eito do corte de cana de cinco para sete ruas, que aumentava em 40% o esforço do trabalhador ao longo do dia de trabalho;

2º - Uma possível aliança entre donos de supermercados e os empreiteiros da região, que supostamente estariam manipulando os preços dos alimentos, levando cortadores a terminarem a safra endividados e precisando retornar no ciclo seguinte para quitar seus débitos;

3ª - Aumento acentuado do preço da água cobrado pela Sabesp, fato que ajudou a corroer ainda mais a pouca renda dos trabalhadores do corte manual.

O Levante de Guariba, como passou a ser conhecido, envolveu cerca de dez mil trabalhadores, entre 14 e 19 de maio de 1984. Houve vandalismo, repressão policial, tiroteio e morte de um trabalhador.


Assembleia em campo de futebol em Guariba, entre setor patronal e cortadores de cana, colocou fim a greve (Foto: Arquivo Jornal a Verdade)

Na época, Roberto Rodrigues era Diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Para ele, a Greve de Guariba foi um erro de estratégia. Pura falta de diálogo do segmento com os trabalhadores. Explicou que o setor concluiu que um eito de cinco ruas fazia com que o caminhão circulasse por cima da cana, prejudicando o canavial. A mudança para sete ruas era a saída perfeita. Só esqueceram de combinar isso com os cortadores, pois com sete linhas, a área de colheita seria aumentada em três metros, levando o trabalhador a cortar menos por dia, reduzindo seu lucro.

Roberto estava em uma reunião na Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo (OCESP) quando foi comunicado sobre o levante e sua gravidade. Foi solicitada sua intervenção como mediador. Voltou para Guariba e trabalhou pela paz. Aconteceram longas reuniões. Foi proposto o retorno para o eito de cinco linhas, mas o sindicato dos trabalhadores se fortaleceu, ficou com mais poder de barganha e surgiram outras reivindicações. Ele redigiu um documento com as novas demandas, apresentou aos usineiros e eles concordaram.

O próximo passo foi ligar para o Secretário de Trabalho do Estado de São Paulo, Almir Pazzianotto. Contou que a coisa estava feia. Havia acontecido incêndio, violência e até tiros. E precisava da presença do governo. No dia seguinte, Pazzianoto estava presente no Sindicato Rural de Jaboticabal. Roberto lhe entregou o documento aprovado pelos usineiros. O Secretário reuniu as lideranças sindicais, apresentou o documento, eles aceitaram e foram para o campo de futebol em Guariba, chamaram os trabalhadores, leram o acordo e a greve acabou.

Devido a “conquista” dos trabalhadores rurais, outros protestos foram articulados em diferentes regiões de São Paulo e nos demais estados canavieiros. A mobilização dos cortadores de cana também inspirou o mesmo em outras atividades agrícolas, como laranja, café e algodão. 

Embora violento, o levante de Guariba foi um marco quanto à relação salarial no setor canavieiro nacional. Após a greve, foi firmada a primeira convenção coletiva de trabalho do segmento. Entre as mudanças, estava a criação do piso salarial, nova forma de aferição do corte, valores diferentes para cana de ano e de ano e meio e transporte de facões e enxadas separado dos trabalhadores. Algumas dessas conquistas já perderam o sentido devido às mudanças no sistema de produção, mas na época foram fundamentais.

Guariba: 40 anos após a greve dos boias-frias

Quatro décadas após o “levante dos boias-frias”, Guariba foi transformada pelo cooperativismo, que ultrapassou as porteiras das fazendas canavieiras e chegou à cidade, uma vez que dentre os princípios desse sistema, o sétimo, e último deles, criado em 1995, é sobre o interesse pela comunidade, o se preocupar, além do seu negócio, com as pessoas.

Dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são provas desse cuidado. Hoje, Guariba se destaca por ter 99% de domicílios com esgotamento sanitário adequado, alçando a cidade a 22º melhor do país nesse quesito (dentre 5.570 municípios). Possui ainda 98,5% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização.

Na economia, a cidade tem sentido no “bolso” as melhorias recentes. Em 2022, o salário médio mensal dos trabalhadores formais foi de 2,3 salários-mínimos, colocando a cidade entre as 20% do país que mais remuneram. Esse aumento na renda, somado aos dados de longevidade e educação, levaram Guariba a alcançar a marca de 0,719 no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), alçando-a ao nível alto desse ranking.


Nos últimos anos, Guariba apresentou variação positiva no Índice de Desenvolvimento
Humano Municipal (IDHM), alcançando o nível alto desse ranking (Fonte: IBGE)

Dados como esses provam que ao longo das últimas décadas a ação conjunta da Socicana, Coplana e Sicoob PRO levou prosperidade ao município. Saúde, educação, segurança e lazer são as marcas da cidade hoje, e a população não quer menos que isso.

O pioneirismo marca a história da Socicana

Grande parte dessa prosperidade é fruto das ações em conjunto da Socicana, Coplana e Sicoob PRO, que juntas criaram o “Ecossistema Guariba de Produção Sustentável”, um conceito em que as três organizações trabalham em sinergia traçando planos conjuntos e oferecendo um sistema que auxilia produtores a melhorarem continuamente suas práticas em relação à gestão da atividade, matriz de risco e produtividade levando à perenidade do negócio.

A mais antiga das três entidades é a Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba (Socicana), sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 15 de fevereiro de 1951. Referência no setor, atua hoje como um órgão de representação, provendo aos seus mais de 1200 integrantes suporte jurídico, capacitação, assistência social, plano de saúde, assistência técnica com serviços especializados e laboratório para análise da matéria-prima.

Uma de suas maiores contribuições ocorreu ainda na década de 1970, quando propôs o Pagamento de Cana pelo Teor de Sacarose (PCTS). Anteriormente baseado no peso da matéria-prima, o PCTS estabeleceu uma remuneração baseada em qualidade, mais especificamente nos teores de sacarose, fibra, açúcares redutores (glicose e frutose), dextrana e impurezas minerais e vegetais.

O superintendente da Socicana, Rafael Kalaki, conta que a introdução do PCTS foi uma das mudanças que mais impactou o setor bioenergético nacional. “Na época, era muita gente contra, pois acreditava-se que esse sistema acabaria prejudicando os próprios produtores. Porém, conforme foram percebendo que a adoção de técnicas para aumento da qualidade da cana-de-açúcar seria benéfico para todos, até as usinas ficaram a favor.”


Rafael Kalaki afirma que o "Ecossistema Guariba de Produção Sustentável” virou case internacional (Foto: Divulgação Socicana)

Mas as inovações não pararam por aí. Em 2015, em parceria com a Coplana e o Instituto Agronômico (IAC), a Socicana lançou o “+Cana”, que incentivou a instalação de canaviais de alto padrão sanitário por meio do uso de Mudas Pré-Brotadas (MPBs) de cana-de-açúcar. “Num primeiro momento, estimulamos nossos associados a produzirem suas próprias mudas. Posteriormente, isso virou uma oportunidade de negócio, pois muitos se tornaram viveiristas, produzindo MPBs em suas propriedades e comercializando-as para outras agrícolas e usinas”, explica Kalaki.

Para solidificar o caminho à sustentabilidade, em meados de 2016, a Socicana e a Fundação Solidaridad criaram o programa “TOP Cana”, cuja proposta é conduzir um mapeamento completo das propriedades rurais e de seus processos, identificando atividades que o produtor já realiza dentro de critérios sustentáveis e orientá-lo para alinhar as demais ações nesse sentido, preparando-o para os processos de certificação.

Certificações essas que vieram com o tempo. Atualmente, dezenas de associados da Socicana já possuem as certificações RSB (Roundtable on Sustainable Biomaterials) e Bonsucro, que atestam que as propriedades seguem rígidos padrões de qualidade em relação à legislação, biodiversidade, emissões atmosféricas, mudanças climáticas, manejo da cultura, resíduos, comunidade, direitos humanos e outros.

Coplana antecipa a prática da agricultura regenerativa, e seu amendoim ganha o mundo

A segunda entidade que compõe o “Ecossistema Guariba de Produção Sustentável” foi fundada em 28 de março de 1963, visando atender as necessidades dos produtores em relação a comercialização de insumos. A Coplana – Cooperativa Agroindustrial mantem até hoje sua matriz em Guariba, possuindo também duas unidades de processamento e armazenamento de grãos em Jaboticabal/SP, além de filiais nos municípios paulistas de Taquaritinga, Dumont, Pradópolis, Colina, Catanduva, Batatais, Ibitinga e Tupã.

O bom resultado da adoção da rotação de cana com soja obtido por Roberto Rodrigues na Fazenda Santa Izabel serviu de base para a entidade criar, em meados da década de 1970, o ‘Sistema Coplana de Rotação’, a fim de incentivar os cooperados a plantarem a leguminosa em áreas de renovação, visando eliminar a ociosidade do maquinário e, acima de tudo, da terra.

Produtor rural, engenheiro agrônomo, professor, doutor, ex-presidente da Coplana, atual conselheiro da entidade e Presidente da Câmara Setorial do Amendoim, José Antonio de Souza Rossato Junior salienta que o plantio de soja virou um trunfo, não somente para os produtores rurais, mas para a cidade. “Com a adoção da rotação de culturas, os riscos inerentes ao negócio caíram significativamente. Acredito que, sem esse modelo de produção, muitos produtores não teriam conseguido se manter na atividade.”

Satisfeitos com a iniciativa da rotação cana + soja, os dirigentes da Coplana resolveram estender a prática, introduzindo o plantio de amendoim. Assim, há 40 anos, iniciou o sistema cana-amendoim. E a oleaginosa se tornou um grande sucesso da cooperativa, pois o que era apenas uma alternativa ao plantio de cana, acabou virando um negócio bastante atrativo, não apenas pelos benefícios econômicos provenientes da venda do grão, mas também pelos agronômicos, como fixação de nitrogênio e controle de determinadas espécies de plantas daninhas.


Incentivadora do sistema de rotação cana/amendoim, Coplana transformou o mercado brasileiro do grão (Foto: Ewerton Alves/Neo Marc Comunicação)

Para que os produtores consigam conduzir essas lavouras de forma eficiente e com bons resultados, a Coplana oferta crédito para aquisição de máquinas, implementos e insumos. Oferece também assistência técnica de forma abrangente e suporte no uso das tecnologias no campo, como drones para monitoramento e sistemas de irrigação de precisão.

Ao estimular o plantio de amendoim, a Coplana não só transformou a vida dos produtores e habitantes de Guariba, mas também o mercado e a produção nacional. A empreitada foi tão bem-sucedida que o Brasil deixou de ser importador da oleaginosa. Em 2000, da Unidade de Grãos da entidade, saiu o primeiro carregamento brasileiro de amendoim rumo ao exterior. Hoje, 24 anos depois, a entidade exporta o grão para mais de 40 países, incluindo os da União Europeia, que exigem altos níveis de qualidade e segurança alimentar.

SICOOB PRO – Visão cooperativista e pioneirismo no Crédito Rural Verde

Na sinergia entre as entidades que compõe o “Ecossistema Guariba de Produção Sustentável”, a parte que cabe à Sicoob PRO é a financeira. “Nossa missão é arrumar crédito mais barato que o mercado, mas sempre premiando cooperados e associados que praticam a agricultura sustentável”, salienta Delson Palazzo, produtor rural, um dos fundadores da Sicoob PRO e atualmente membro do Conselho.

Fundada em 1974 com o objetivo de prestar suporte financeiro aos canavicultores de Guariba e região, a Sicoob PRO se diferencia em relação aos outros bancos por manter uma visão cooperativista. “Nossa filosofia é que é possível o banco ter lucro e ao mesmo tempo beneficiar o cooperado. Por isso, nos reunimos constantemente com a diretoria para fazê-la sentir o dia a dia do cooperado, suas dificuldades e onde a instituição pode ajudá-lo”, conta Palazzo.

Seguindo essa filosofia, o cooperado recebe, por exemplo, o benefício da distribuição de sobras da cooperativa quando realiza a operação e não só no final do ano. Além de obter uma linha de crédito com juros menor que o do mercado. O mesmo ocorre quando realiza uma aplicação. A instituição procura remunerar o máximo possível, muitas vezes bem acima do mercado.

No sentido de disseminar as práticas sustentáveis, a Sicoob PRO é pioneira na criação do Crédito Verde, que oferece taxas menores de juros aos cooperados com certificações. “Esse modelo nasceu de conversas entre os executivos da Socicana e da Sicoob PRO para incentivar os cooperados a certificarem sua produção. Tomando por base o juro oferecido pelo Plano Safra, quem é certificado Bonsucro tem 1% de desconto, quem é TOP Cana Ouro tem 0,8%, TOP Cana Prata tem 0,6% e TOP Cana Bronze, 0,4%”, explica.

Ele afirma que esse desconto tem impulsionado os cooperados a realizarem melhorias e subir de nível na certificação TOP Cana e, posteriormente, seguir para a Bonsucro. “O produtor percebeu que, ao realizar melhorias em seu processo produtivo, como construir um armazém de defensivos, ele vai subir de nível e obter mais desconto. E esse sistema tem sido um sucesso, uma vez que o número de associados que subiram de nível nos últimos três anos foi bastante alto.”


Missão da Sicoob Pro em Guariba é arrumar crédito mais barato que o mercado, mas sempre premiando cooperados e associados que praticam a agricultura sustentável (Foto: Divulgação Sicoob)

Ao oferecer crédito mais barato ao cooperado e melhores condições, como prazo estendido de pagamento, Delson salienta que a Sicoob PRO contribui para a maior tecnificação no campo. Cita a grande adesão dos cooperados ao Programa “+Cana” e ao sistema de MPB e destaca o aumento da produtividade na cultura do amendoim.

Segundo Palazzo, por ser a principal cultura agrícola do mundo, a evolução da soja tem relação direta com o investimento em pesquisas e novas tecnologias. Já o amendoim é uma cultura pequena em termos de valores globais, e não desperta a mesma atenção. Por isso, o trabalho realizado pela Coplana tem tanto mérito. “Quando a entidade iniciou o projeto em 1974, produzia-se em média 280 sacas da oleaginosa por hectare. Atualmente, a média é de 600 sc/ha.”

Comprometidas com o Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), da Organização das Nações Unidas (ONU), a Socicana, Coplana e Sicoob Pro transformaram a história de Guariba, de seu povo e produtores rurais. Com quase 130 anos, aquele pequeno vilarejo - que começou como uma estação ferroviária - cresceu para se tornar uma próspera cidade, “uma terra querida, florida, abençoada por Deus e despertada pelos pardais, que sobrevoam teu céu colorido, trazendo esperança e novos ideais” (trechos do hino oficial de Guariba).