Identificação do agente causal da Murcha da Cana abre caminho para novas estratégias de manejo
25-09-2025

Colletotrichum falcatum é reconhecido como responsável pela doença 

Por Andréia Vital

Em apresentação realizada nesta segunda-feira (23), durante o lançamento da plataforma Esfera, na sede do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), em Piracicaba - SP, a fitopatologista Tatiane Mistura, mostrou os caminhos que contribuíram para o Centro chegar à confirmação de que o Colletotrichum falcatum é o agente causal da chamada Síndrome da Murcha da Cana.

Segundo ela, a descoberta foi resultado de testes rigorosos de isolamento, inoculação e reisolamento em plantas sadias, seguindo os postulados de Koch, metodologia clássica para estabelecer a relação entre um micro-organismo e determinada doença.

Tatiana relatou que, no início dos estudos, houve grande dificuldade devido à presença de contaminantes que mascaravam os resultados. Para superar o obstáculo, a equipe do CTC desenvolveu protocolos laboratoriais específicos e empregou a metagenômica, ferramenta capaz de mapear todo o material genético presente nas amostras.

O resultado foi conclusivo: nas lesões mais antigas, o Colletotrichum falcatum se revelou como o patógeno predominante, confirmando seu papel como agente primário da murcha. “O Colletotrichum falcatum, antes associado apenas ao complexo da podridão vermelha, também é o principal responsável pela murcha da cana. Esse entendimento muda nossa abordagem”, afirmou a especialista.

A especialista destacou ainda que a Pleocyta sacchari, tradicionalmente associada à podridão da casca, aparece de maneira oportunista, somente após o Colletotrichum comprometer os tecidos da planta.

Esse comportamento explica por que, em campo, a doença modifica a sintomatologia clássica: as lesões deixam de apresentar o vermelho intenso característico e passam a tons amarronzados, confundindo diagnósticos anteriores.

A fitopatologista reforçou que a constatação abre caminho para uma nova fase de pesquisas, com impacto direto na produtividade e na sustentabilidade da canavicultura brasileira. “Não falamos mais em síndrome. Agora sabemos quem é o agente causal e podemos buscar soluções específicas”.

Agora, a partir da identificação do agente, o setor pode direcionar estratégias de manejo mais assertivas, reduzindo perdas de produtividade; desenvolver protocolos de controle integrado que considerem a interação entre fungos e pragas, como a broca-da-cana, que favorece a entrada do patógeno; acelerar programas de melhoramento genético, com foco em variedades resistentes ao Colletotrichum falcatum e revisar diagnósticos de campo, ajustando treinamentos e práticas para reconhecer corretamente os novos sintomas.