Impacto da reciprocidade tarifária dos EUA ao agro brasileiro deve ser limitado
14-02-2025

Brasil aplica uma tarifa de 18% para a entrada do etanol norte-americano — Foto: Freepik
Brasil aplica uma tarifa de 18% para a entrada do etanol norte-americano — Foto: Freepik

Percepção inicial em Brasília é que o foco será mesmo apenas o etanol brasileiro, citado pela Casa Branca como caso de disparidade nas tarifas

Por Rafael Walendorff — Brasília

Os impactos da reciprocidade tarifária anunciada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, sobre o agronegócio brasileiro ainda são avaliadas internamente pelo governo.

A percepção inicial em Brasília é que o foco será mesmo apenas o etanol brasileiro, citado pela Casa Branca como caso de disparidade nas tarifas na divulgação do memorando que promete igualar alíquotas de importação nos Estados Unidos às adotadas para o mesmo tipo de produto nos parceiros comerciais para onde eles exportam.

Mesmo assim, não houve manifestações oficiais do Ministério da Agricultura nem comentários sobre possíveis impactos ou negociações para evitar prejuízos ao setor produtivo nacional.

O Brasil aplica uma tarifa de 18% para a entrada do etanol norte-americano. Para entrar nos Estados Unidos, a tarifa para o biocombustível brasileiro é de 2,5%.

“Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto os EUA exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil”, disse o governo norte-americano.

Preocupação com a carne

carne bovina brasileira ainda é uma preocupação. Apesar de já ser altamente tarifada, em 26,4% para os embarques acima da cota de 65 mil toneladas dividida com outros nove países, o produto é alvo de constantes protestos e diversas ações judiciais de pecuaristas americanos, principalmente do Estado de Montana, grande produtor pecuário.

Em entrevista recente, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, disse que 75% das 230 mil toneladas de carne bovina exportadas pelo Brasil aos Estados Unidos em 2024 já foi taxada em 26,4%. “O Brasil já é altamente tarifado”, disse.

Em janeiro deste ano, os embarques da proteína para lá somaram 18,9 mil toneladas, com faturamento de US$ 106,6 milhões, recuo de 8,5% ante a janeiro de 2024.

“Há muito interesse de produtores norte-americanos de reduzirem ou impedirem importações de alguns produtos brasileiros, principalmente aqueles muito mais competitivos, como a carne. Toda essa nova linha do governo é música para ouvidos dessas pessoas que já tinham essas tendências”, disse um integrante do governo brasileiro que atua nas relações com os Estados Unidos.

“Obviamente, não dá para descartar a possibilidade de que essas medidas do governo americano impactem as exportações do agro brasileiro para lá. Pode, sim, haver impacto, mas acredito que as chances de acontecer são pequenas, pois o comércio é muito equilibrado, ainda superavitário para os EUA”, completou.

Relação comercial

Os Estados Unidos têm mirado países com quem a relação comercial é deficitária, como Europa, Canadá e Japão. O relacionamento com o Brasil é marcado por um superávit norte-americano. Eles exportaram para cá mais do que os brasileiros exportaram para lá. Desde 1997, o saldo é positivo em US$ 48,2 bilhões para os EUA.

Desde 2008, não há superávit do Brasil na relação com os americanos. Por outro lado, a balança tem ficado cada vez mais equilibrada. Em 2024, o déficit ficou em apenas US$ 253 milhões.

“Pode ser que nesse ano o Brasil exporte mais e, obviamente, isso tende a despertar maior interesse protecionista do governo norte-americano”, analisou a fonte.

O ex-secretário de Comércio Exterior e consultor na área, Welber Barral, disse que os EUA vão revisar as tarifas país por país e fixarão novas tarifas sobre seus parceiros comerciais que a representação comercial (USTR, na sigla em inglês) considerar “justas”. Os critérios incluem o regime tributário do parceiro comercial (incluindo IVA), medidas regulatórias não tarifárias, subsídios e valor da moeda.

Fonte: Globo Rural