Impactos climáticos não abalam liderança do Brasil no mercado mundial de açúcar em 2025
28-11-2024

Mesmo com desafios climáticos, setor sucroenergético brasileiro mantém posição estratégica no fornecimento global.

Apesar das adversidades climáticas enfrentadas na safra 2024/25, o Brasil continuará sendo peça-chave no mercado global de açúcar em 2025. Especialistas indicam que, embora o comércio global possa sofrer impactos a curto prazo devido à oferta restrita, a dependência pelo produto brasileiro segue sólida, especialmente se os principais concorrentes, como a Ásia e a União Europeia, não alcançarem o desempenho esperado.

Essa análise foi compartilhada durante a 9ª edição da série “Conexão SCA Brasil”, transmitida ao vivo pelo YouTube e LinkedIn em 19 de novembro. O evento reuniu Martinho Seiiti Ono, CEO da SCA Brasil, Júlio Adorno, head da Alvean no Brasil, e Arnaldo Corrêa, diretor da Archer Consulting, que discutiram perspectivas do mercado para os próximos anos.

De acordo com cálculos da Alvean, o Brasil deve produzir 39,5 milhões de toneladas de açúcar na safra 2024/25, com possibilidade de crescimento para 40 milhões de toneladas em 2025/26. “Mesmo com desafios iniciais, o Brasil mantém sua liderança. Atualmente, somos responsáveis por 50% do açúcar comercializado no mundo”, ressaltou Júlio Adorno.

A eficiência da indústria açucareira brasileira também foi destacada como um fator determinante para o recorde de exportações em 2024, que alcançaram 26 milhões de toneladas, superando as 19 milhões registradas no ano anterior. Adorno enfatizou que os estoques globais de açúcar permanecem baixos, reforçando o papel indispensável do Brasil no abastecimento mundial. “O açúcar brasileiro é consumido rapidamente, sem reposição significativa dos estoques globais, o que aumenta a dependência internacional”.

Segundo Arnaldo Corrêa, o Brasil desempenha um papel tão central no mercado que qualquer dificuldade local teria impactos globais significativos. “Se o Brasil espirrar, o mercado mundial de açúcar pega uma pneumonia,” afirmou.

Os especialistas também avaliaram a produção em outras regiões. Enquanto a Tailândia enfrenta baixa produtividade, a Índia não deve ampliar significativamente sua presença no mercado internacional, mesmo sendo o segundo maior produtor de cana-de-açúcar. Na União Europeia, a produção de açúcar continua limitada por subsídios e voltada principalmente ao consumo interno.

Consumo e preços: tendências para 2025

O crescimento do consumo global de açúcar foi outro ponto de destaque no debate. Mercados como Ásia e América do Norte continuam puxando a demanda, com destaque para o aumento no consumo per capita em países como Indonésia. “Nos últimos dez anos, o consumo per capita na Indonésia cresceu sete quilos, um avanço expressivo,” observou Corrêa.

Em relação aos preços, o levantamento da Archer Consulting indica que os valores internacionais do açúcar têm espaço para novos aumentos. “O patamar atual de 18 centavos de dólar por libra-peso não deve se manter. O mercado tem potencial para subir entre 300 e 400 pontos nos próximos ciclos,” projetou o especialista.

Estoques de etanol e impacto climático

Além do açúcar, os especialistas discutiram o estoque de etanol no Centro-Sul e as perspectivas para a entressafra. O setor acumulou 4,36 milhões de litros de etanol anidro e 6,74 milhões de litros de hidratado até novembro de 2024, garantindo o abastecimento interno durante os meses de menor oferta.

O impacto das condições climáticas adversas também foi analisado. A seca e os incêndios que atingiram 665 mil hectares em 2024 devem afetar o próximo ciclo agrícola, reduzindo a produtividade e aumentando a necessidade de replantio. “A safra 2025/26 enfrentará desafios significativos, incluindo germinações desiguais, morte de soqueiras e pragas”, alertou Martinho Ono.