Impactos da produção de cana-de-açúcar
05-10-2016

Uma pesquisa apresentada no V Congresso Brasileiro de Gestão em Ciclo de Vida, realizado em setembro, em Fortaleza, CE, mostrou que a produção da segunda mais importante commodity brasileira é mais limpa do que apontavam estudos internacionais.
A pesquisa utiliza a metodologia de Avaliação de Ciclo de Vida de Produtos (ACV), uma ferramenta que permite analisar o desempenho ambiental de produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida.
Em comparação com inventários de ACV de cana-de-açúcar anteriores, os pesquisadores brasileiros observaram menores impactos em categorias como ecotoxicidade terrestre e aquática, formação de oxidantes fotoquímicos (ou "névoa fotoquímica") e degradação da camada de ozônio. Esses impactos têm efeitos negativos na qualidade dos ecossistemas e na saúde humana.
Os pesquisadores caracterizaram o sistema de produção de cana-de-açúcar de todas as regiões produtoras brasileiras e utilizaram para os cálculos de emissões as metodologias mais recentes com ajustes para a realidade local. O trabalho foi desenvolvido pelo projeto ACV cana, coordenado pela Embrapa, com a participação de vários parceiros, como o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE).
Novos resultados - O maior desafio dos pesquisadores brasileiros foi elaborar um inventário de ACV observando a atual realidade dos sistemas de produção praticados no país e, mais que isso, adaptar a metodologia à agricultura tropical. "Sempre que se faz um inventário, qualquer emissão para o meio ambiente é calculada por um modelo, mas esses modelos foram todos criados para países de clima temperado com realidade completamente diferente da nossa agricultura tropical", explica a pesquisadora Marília Ieda da Silveira Folegatti Matsuura, da Embrapa Meio Ambiente (SP).
Ela lembra que o inventário de cana-de-açúcar existente na Ecoinvent considerava que o Brasil ainda praticava a queima da cana na maior parte da área de produção no país, o que já não ocorre. "Conseguimos, de fato, definir as tecnologias de produção adotadas nas diferentes regiões, incluindo as práticas de colheita mecanizada ou manual, precedida por queima", explica. Esse aspecto apresenta repercussões em categorias de impactos que afetam a saúde humana, como emissão de material particulado, por exemplo.
Outra discrepância entre os estudos que utilizam os inventários da Ecoinvent e o realizado pela Embrapa refere-se à ecotoxicidade. Nos estudos derivados dos inventários já presentes na base consideravam o uso de pesticidas altamente tóxicos que já não são utilizados no Brasil.