Importar etanol dos Estados Unidos é uma “insanidade”
18-08-2016

Para Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE, uma prática comum nos últimos anos, de importação de etanol dos Estados Unidos, é um grande equívoco. “Isto é uma insanidade, o Brasil não precisa destas importações.”

Ele lembra que, ao trazer o biocombustível norte-americano, chega ao mercado brasileiro um produto de qualidade inferior ao etanol avançado produzido no Brasil – oriundo de cana-de-açúcar e não de milho – e que é subsidiado no seu país de origem. “Além disso, essas importações, sobretudo quando feitas por distribuidoras, pretere na prática a compra de etanol nativo.”

Em sua opinião, importar o combustível, de acordo com o interesse de mercado das distribuidoras, extrapola a área de atuação destas empresas. “Da mesma forma que não podemos invadir o papel da distribuidora, o que seria contrassenso, a ação delas não pode prejudicar todo o nosso setor produtivo.”

Tal importação ocorre sob o pretexto de complementar o consumo do Norte e do Nordeste, mas historicamente estas regiões são atendidas, por cerca de dois meses do ano (entressafra nordestina), pelo excedente de produção de estados como Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, basicamente.

O consumo no Brasil de etanol gira em torno de 28 bilhões de litros, mas o país produz entre 29 e 30 bilhões. Ou seja, o saldo líquido ainda permite exportações do combustível. “Portanto, estas importações são desnecessárias e prejudicam a produção do Nordeste. Este equívoco pode jogar a produção do etanol para segundo plano nas usinas da região”, frisa Cunha, que dispara: “este assunto precisa ser melhor ordenado, uma vez que envolve toda uma cadeia produtiva que precisa ser respeitada.”

O processo reiterado de importação de etanol dos Estados Unidos desestimula e traz insegurança ao produtor, que já tem vários outros problemas a resolver. Um deles é a dificuldade de remuneração dos custos de produção. “Geralmente a remuneração do biocombustível fica abaixo dos custos para as unidades nordestinas, o que é agravado pela importação do produto, uma vez que se tem uma concorrência desleal.”

A operação de importação de etanol, para Cunha, precisa ter uma regra mais clara e justa. “Por isso, já estamos pensando inclusive em pleitear a volta do imposto de importação sobre o etanol.”

Mas isso não prejudicaria o livre mercado? “Mais prejudicial é invadir a seara do nosso produtor, como vem acontecendo.”

“Estas importações são uma ameaça e têm se tornado rotina. Por isso, estamos indagando a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), bem como o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, sobre o funcionamento destas importações.”, diz Cunha.

Se não houver uma solução “contra esta concorrência desleal e insana”, as entidades representativas do setor na região Nordeste vão buscar medidas que possam resolver o problema.


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