Incêndios já atingiram 430 mil hectares em São Paulo
07-10-2024

O número de focos de incêndio também bateu recorde e atingiu 7.932 até o fim de setembro — Foto: Secretaria de Agricultura de SP
O número de focos de incêndio também bateu recorde e atingiu 7.932 até o fim de setembro — Foto: Secretaria de Agricultura de SP

Área atingida é recorde e mais de dez vezes maior do que a do mesmo período do ano passado

Por Camila Souza Ramos — São Paulo

Desde o início do ano até o fim de setembro, 430 mil hectares foram atingidos por incêndios no Estado de São Paulo, a maior extensão da série histórica e mais de dez vezes a área atingida por fogo no mesmo período do ano passado, segundo dados divulgados pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati) da secretaria estadual de agricultura. Os dados referem-se tanto a incêndios em áreas agropecuárias como em matas nativas.

O número de focos de incêndio também bateu recorde e atingiu 7.932 até o fim de setembro, ante 1.488 no mesmo período de 2023. O maior número de focos de incêndio havia sido dez anos antes, com menos de 7 mil registros.

A Operação São Paulo Sem Fogo ainda está em fase vermelha, de alerta para combates a incêndio, e deve entrar na fase verde em novembro e dezembro, quando será feita uma avaliação do que ocorreu, informou Carolina Matos, especialista ambiental da Cati, em webinar promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).

Ela afirmou que, além do acumulado de dias sem chuva, das temperaturas muito elevadas e da umidade baixa, também favorece a ocorrência de focos de incêndio movimentos de frentes frias que avançam até "certa parte do Estado" e levam ventos para algumas regiões, mas sem provocar precipitações.

Cana

A maior parte dos incêndios ocorrem em lavouras de cana. A Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) mantém seu levantamento divulgado no último dia 27 de setembro, que indicou que as áreas de cana atingidas em São Paulo somavam 263 mil hectares, totalizando 414 mil hectares em todo o Centro-Sul. O prejuízo da região é estimado em R$ 2,67 bilhões, dos quais R$ 1,59 bilhão foram apenas nos canaviais paulistas.

O procurador da República Flávio Okamoto afirmou que "o que temos reparado nas principais ocorrências é que esse fogo não tem sido iniciado por culpa ou iniciativa do produtor [de cana]".

Mesmo assim, o Ministério Público deverá cobrar dos produtores a recomposição das áreas de proteção de vegetação nativa que tenham sido afetadas, como Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reserva Legal (RL).

"Vamos ter parcimônia, tentar da melhor maneira possível não punir duplamente, para o produtor fazer uma regeneração natura, com prazo maior. Mas não podemos deixar de exigir que isso seja recomposto", disse Okamoto, que também participou do webinar.

Investigações

Até o fim de setembro, foram feitas 16 prisões em flagrante de indivíduos responsáveis por provocar incêndios no Estado. Além disso, também há investigações que já resultaram em ordens de prisão contra outras pessoas, mas Okamoto não soube informar quantas ordens existem atualmente.

Segundo o procurador, não existe hoje uma linha de investigação única sobre os casos de incêndio em São Paulo. Ele afirmou que não acredita na possibilidade de envolvimento de facções criminosas. "Um dos primeiros presos em flagrante, em Batatais, declarou que era do PCC. Mas eu nunca vi nenhum membro do PCC admitir que é membro do PCC. Se realmente fosse, ele jamais teria falado", avaliou. "Esses vídeos que circularam no WhatsApp dizendo que é coisa de facção criminosa, que compraram usinas e estão ameaçando produtores, isso é fake news. Não tem absolutamente nenhum indício de que tem envolvimento de facção criminosa nos incêndios", reforçou.

Perguntado sobre a possibilidade de motivação política, Okamoto opinou que não descarta a possibilidade, mas ressaltou que os casos registrados até agora estão relacionadas a pessoas com transtornos mentais. Ele citou o caso de um indivíduo que, sozinho, provocou incêndios em uma área de 3,2 mil hectares, que atingiu lavouras de cana-de-açúcar da Raízen, destruiu maquinários e chegou próximo a um aterro sanitário. O MP já pediu contra a pessoa o pagamento de R$ 9,7 milhões por dano moral coletivo e o ressarcimento de R$ 2,7 milhões pelos prejuízos materiais provocados à Raízen e ao aterro.

Prevenção

Segundo Carolina Matos, da Cati, uma forma de evitar o avanço de incêndios é a preservação de aceiros - faixas de terra que são roçadas entre as cercas e a vegetação. Outra forma é o enfardamento de palha.

Outra tática é o uso da "queima prescrita". Trata-se de uma técnica de uso do fogo controlado, de acordo com o caráter topográfico e meteorológico da região, para eliminar o material combustível (matéria orgânica) antes do pico da estiagem, explicou o major Jean, do Corpo de Bombeiros. Ele contou que testes com fogo prescrito feitos na Reserva de Jataí resultaram em uma região de 91% dos incêndios. Segundo o major, os "grandes vilões" da ignição e do transporte do fogo para áreas que se quer preservar são gramíneas invasoras, como braquiárias e capim colonial. Este tipo de vegetação é considerado um "combustível fino".

Fonte: Globo Rural