Indústria brasileira recua pelo segundo mês e juros seguem como entrave ao crescimento
07-07-2025

Com queda de 0,5% em maio, setor industrial enfrenta impactos da política monetária e cenário externo instável, apesar de sinais pontuais de avanço

A produção industrial brasileira apresentou queda de 0,5% em maio de 2025, marcando o segundo mês consecutivo de retração, após o recuo de 0,2% registrado em abril, segundo dados com ajuste sazonal. O resultado, apesar de negativo, ficou acima das projeções da Fiesp (-0,9%) e da expectativa do mercado (-0,6%).

O desempenho reflete o enfraquecimento da indústria de transformação, que teve retração de 0,4%, enquanto a indústria extrativa apresentou crescimento de 0,8%, registrando o quarto mês consecutivo de alta e funcionando como um amortecedor da média geral.

Queda disseminada entre os setores, com destaque negativo para veículos e petróleo

Dos 25 ramos industriais analisados, 13 apresentaram desempenho negativo, sendo os maiores recuos observados em:

  • Veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,9%)
  • Coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,8%)
  • Produtos alimentícios (-0,8%)
  • Produtos de metal (-2,0%)
  • Bebidas (-1,8%)
  • Confecção de vestuário e acessórios (-1,7%)
  • Móveis (-2,6%)

Por outro lado, 11 atividades registraram avanço, sendo a principal delas a de indústrias extrativas (+0,8%). Outros destaques positivos incluem:

  • Artefatos de couro e calçados (+3,2%)
  • Produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+3,0%)
  • Produtos de borracha e material plástico (+1,6%)
  • Produtos químicos (+0,6%)

Bens de consumo sofrem mais; bens intermediários sustentam crescimento

Na comparação por grandes categorias econômicas, os números mostram:

  • Bens de consumo duráveis: -2,9%
  • Bens de capital: -2,1%
  • Bens de consumo semi e não duráveis: -1,0%
  • Bens intermediários: +0,1% (único segmento com resultado positivo pelo quarto mês consecutivo)

Esse desempenho reforça a percepção de que segmentos mais dependentes do crédito e do consumo estão sofrendo mais com o cenário atual.

Alta no acumulado de 12 meses mantém projeção da Fiesp em 1,3% para 2025

Apesar da queda na margem mensal, os dados interanuais indicam uma alta de 3,3% em relação a maio de 2024, e de 2,8% no acumulado de 12 meses, superior ao crescimento de 2,4% verificado em abril.

A Fiesp mantém sua projeção de crescimento da produção industrial em 1,3% para 2025, mesmo diante do desempenho mais fraco registrado entre abril e maio, e após avanço de 3,1% em 2024.

De acordo com análise da Fiesp, o setor continua pressionado por uma série de fatores adversos: política monetária contracionista, que eleva o custo do crédito e inibe investimentos; instabilidade geopolítica, que aumenta a incerteza e reduz o apetite por risco; tarifas e barreiras comerciais, que dificultam o acesso a mercados internacionais e desaceleração global, que reduz a demanda por produtos industriais brasileiros.

A indústria de transformação, especialmente, mostra-se mais sensível aos efeitos da taxa de juros elevada do que outros setores da economia, tornando-se um dos principais focos de preocupação no curto e médio prazo.

Frente a esse quadro desafiador, o governo federal tem adotado medidas para estimular a demanda interna, buscando compensar os vetores de desaceleração. Entre os principais mecanismos estão: ampliação do crédito consignado privado com juros menores; novas linhas de financiamento para o Minha Casa Minha Vida; liberação de recursos do FGTS para movimentar a economia e expansão de linhas de crédito do BNDES para empresas.

Essas ações são vistas pela Fiesp como capazes de amortecer o impacto da política monetária e da crise internacional, ainda que os efeitos sejam graduais.

Segundo o Mapa de Calor da Indústria elaborado pela Fiesp, o panorama de maio mostra estabilidade no resultado agregado, com predomínio de setores classificados como acelerando (16), neutros (6) e desacelerando (3).

Esse comportamento confirma que a indústria geral segue em um estado de acomodação, após algum dinamismo observado no segundo semestre de 2024. No entanto, o crescimento de setores em desaceleração em relação a dezembro de 2024 (quando não havia nenhum nessa condição) é um sinal de alerta para o restante do ano.