Indústria puxa criação de vagas, mas empregos caem 8,6% em Sertãozinho
04-03-2015

A indústria liderou a geração de vagas de Sertãozinho (SP) em janeiro, mas não foi suficiente para evitar queda em relação ao ano passado. De acordo com dados do Ministério do Trabalho, o município, que vive problemas econômicos com a crise no setor sucroenergético, gerou 1.619 empregos no primeiro mês de 2015, 8,63% a menos que no mesmo período em 2014.

O destaque ficou com as fábricas, com 848 postos abertos, mas que não empolgam o presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise-Br), Antonio Eduardo Tonielo Filho, que os atribui a contratos temporários para atender aos pedidos de manutenção da entressafra da cana-de-açúcar. Para o economista Luciana Nakabashi, da Faculdade de Economia e Administração da USP de Ribeirão Preto, a geração de vagas, ainda que abaixo do ideal, pode ser um sinal de recuperação, mas tudo depende de como o mercado de se comportará este ano.


Empregos em baixa

Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Sertãozinho apresentou o pior janeiro em abertura de postos com carteira assinada desde o início de 2013, quando gerou 2.117 vagas. Ao todo, o município contratou 3.101 pessoas, mas demitiu outras 1.482, resultando em um saldo de 1.619.

O decréscimo, que foi menor do que outras cidades, como Ribeirão Preto e Franca, é reflexo de como a baixa no mercado sucroalcooleiro afetou toda a economia local, afirma Luciano Nakabashi.

"A situação de Sertãozinho é delicada pela dependência da indústria e do agronegócio. O preço do etanol é muito baixo em relação aos custos de produção e o açúcar teve grande queda no mercado internacional nos últimos anos. O setor vem sofrendo muito e isso afetou também o comércio", afirma.

Ainda que liderando a criação de vagas na cidade, a atividade industrial, com 848 postos, caiu 12,39% em relação a 2014, quando foram geradas 968 oportunidades. "Janeiro é um mês em que a indústria contrata mesmo, mas são contratos temporários para serviços de reforma", explica Tonielo.

Segundo o representante do Ceise Br, o ritmo deve se manter até abril, quando termina a entressafra e o período de manutenção nas usinas. A partir de então, sem perspectiva de serviços para as metalúrgicas, o futuro é incerto, assim como os contratos de trabalho.

"Não temos nenhum serviço de novas usinas. O período de janeiro a abril é de reforma das usinas. Não temos novos pedidos de equipamentos. Acabando as reformas acabam os serviços", diz.


Crise em Sertãozinho

Considerada um dos principais centros de produção de açúcar e etanol no país, Sertãozinho vem registrando desaceleração desde a recessão econômica internacional. Isso porque, 70% do PIB da cidade depende da cadeia produtiva da cana.

A cidade, que já ocupou a quarta colocação no ranking nacional em qualidade de emprego, renda, saúde e educação, segundo o índice Firjan de desenvolvimento, hoje amarga um dos piores resultados na geração de empregos do Estado e, só nos últimos dois anos, deixou de arrecadar R$ 30 milhões em tributos.

Em 27 de janeiro, cerca de 8 mil trabalhadores, sindicalistas e representantes do setor sucroenergético bloquearam a Rodovia Armando de Sales Oliveira (SP-322) contra a crise que deixou 2 mil desempregados na cidade só no ano passado.

O ato foi batizado de "Movimento pela retomada do setor sucroenergético" e que contou com apoio de diversos órgãos, como Prefeitura, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

Os problemas também levaram a administração municipal a assinar um "Pacto Social" com empresários, usineiros e metalúrgicas, com o objetivo de minimizar os prejuízos causados pelas demissões. Entre as medidas em vigor desde dezembro, está a composição de uma cesta básica sem margem de lucro aos supermercados da cidade, com preço de R$ 69,90.

Rodolfo Tiengo