Integração de cadeias produtivas é destaque em Mato Grosso do Sul
12-03-2018

Diferencial do agronegócio no estado pôde ser constatado pelo presidente da Orplana, Eduardo Romão, durante visita ao Showtec 2018

As propriedades rurais que produzem cana-de-açúcar em Mato Grosso do Sul apresentam características peculiares e interessantes. A diversificação de atividades, como produção de soja, milho, a própria cana, pecuária de carne e de leite, e a integração dessas cadeias do agronegócio de maneira eficaz são alguns diferenciais que demonstram o profissionalismo de produtores no estado.

“O que se aprende em uma cultura é aplicado na outra”, comenta Eduardo Vasconcellos Romão, presidente da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), que esteve no Showtec 2018, realizado de 17 a 19 de janeiro, em Maracaju, MS. O evento é organizado pela Fundação MS para a Pesquisa e Difusão de Tecnologias Agropecuárias.

Convidado pela Associação dos Produtores de Cana-de-Açúcar do Estado de Mato Grosso do Sul (Sulcanas) – que é afiliada da Orplana – para participar do Showtec, Romão teve a oportunidade de conhecer de perto a interação entre diferentes culturas e atividades, visitando inclusive uma fazenda que adota essa prática.

As ações conjuntas da Sulcanas, unidades da Embrapa, da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul) e da Associação dos Produtores de Bioenergia de MS (Biosul) em relação a diversas iniciativas voltadas ao agronegócio também causaram excelente impressão ao presidente da Orplana. A integração de cadeias produtivas e o trabalho coordenado de entidades e instituições tornaram a experiência enriquecedora e inesquecível – ressalta.

A visita de Eduardo Romão teve também a finalidade de propiciar robustez política ao setor sucroenergético e fortalecer a presença da Sulcanas no Showtec, que é considerado o maior evento de difusão de tecnologias da agricultura e pecuária de Mato Grosso do Sul. Na solenidade de abertura, o presidente da Orplana homenageou o governador do estado, Reinaldo Azambuja, e a deputada federal Tereza Cristina Côrrea Dias, entregando placas de agradecimento a ambos pela dedicação e empenho para o atendimento das demandas do setor sucroenergético e do agronegócio. A deputada assumiu inclusive, em 20 de fevereiro, a presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária.

Seminários em MS - “As instituições, as entidades do agro e o governo têm uma interlocução e um entrosamento muito grande. É surpreendente”, enfatiza o engenheiro agrônomo José Trevelin Júnior, diretor executivo da Sulcanas. A própria realização do seminário voltado ao setor sucroenergético, que fez parte da programação do Showtec, é um exemplo dessa interação.

“Houve uma demanda junto a Biosul anos atrás para que a entidade organizasse um programa de seminários no estado voltado à difusão e ao desenvolvimento de conhecimento relacionado à realidade local. Além de estarmos distantes de Ribeirão Preto, Araçatuba e outras cidades que sediam eventos voltados ao setor, a ideia era realizar seminários que não tivessem simplesmente informações sobre tecnologias desenvolvidas e utilizadas em São Paulo”, explica.

De acordo com Trevelin, há diferenças de clima, ambientes, topografia. Por isso, surgiu a parceria Biosul e Embrapa, que tem interesse em entender quais as são demandas do setor para fazer um direcionamento da sua pesquisa no estado.

Esse programa de seminários para Mato Grosso do Sul, que conta também com o apoio e a participação da Sulcanas, é organizado pela TCH Gestão Agrícola (empresa de Trevelin). O evento realizado na feira de Maracaju é o primeiro de quatro ou cinco que ocorrem durante o ano. A importância da recuperação do solo e do melhoramento genético das variedades de cana – que teve a participação da Ridesa e do IAC – foram os assuntos de destaque do seminário do setor sucroenergético realizado no Showtec 2018.

Variedades adequadas - O desenvolvimento de tecnologias e soluções para o estado tem sido uma das preocupações das instituições que atuam no setor sucroenergético sul-mato-grossense. “Estamos discutindo a necessidade da realização de um trabalho de ranqueamento e de adaptabilidade das variedades de cana para os diferentes ambientes de produção de Mato Grosso do Sul”, afirma o presidente da Sulcanas, Luís Alberto Moraes Novaes, que falou inclusive sobre o tema durante a abertura do Showtec.

Em parceria com a Biosul, a Sulcanas fomenta a visita de produtores de cana à Fundação MS para conhecer os trabalhos de pesquisa finalística que são feitos pela empresa com variedades de soja e milho – informa. A Fundação MS possui mais de trinta mil parcelas de experimentação, para a realização de testes e validação de diferentes materiais para culturas de grãos. A partir desse trabalho, é possível realizar avaliações cientificas e estatísticas, disponibilizando informações e recomendações para os produtores.

A ideia é desenvolver esse tipo de pesquisa para cana-de-açúcar, a partir de uma parceria com uma instituição, que pode ser a própria Fundação MS, ou mesmo alguma unidade da Embrapa – observa. Em Mato Grosso do Sul, estão sediadas a Embrapa Agropecuária Oeste, Embrapa Gado de Corte e a Embrapa Pantanal.

“Essa é uma das nossas preocupações, porque muitas recomendações vêem de outros estados, principalmente de São Paulo. Alguns problemas têm ocorrido por causa do posicionamento não correto de variedades. Com isto, não temos o resultado esperado em algumas situações”, comenta Luís Novaes, que é também diretor-tesoureiro da Famasul.

Segundo ele, o objetivo é contar com uma instituição que realize um trabalho efetivamente cientifico, com isenção comercial, para que possam ser obtidos resultados consistentes, que orientem os produtores a posicionar adequadamente os materiais.
Outro trabalho, que pode ser executado, é o ranqueamento da eficiência dos defensivos que são utilizados na lavoura – diz.

Perfil do produtor – A participação da cana-de-açúcar no Showtec, que tem como destaques soja e milho, ainda é pequena. Mas, a presença do setor sucroenergético neste evento tem se ampliado – afirma José Trevelin Júnior. Da mesma forma, a cana está também aumentando o seu espaço no estado, que conta com 25 usinas.

A Sulcanas, que é a única associação de fornecedores de Mato Grosso do Sul, possui 32 associados, que são responsáveis pela produção de cinco milhões de toneladas de cana – diz o diretor executivo da entidade. “O perfil dos produtores de cana de Mato Grosso do Sul é bem diferente do fornecedor de outras regiões. Eles são grandes produtores. E diversos deles podem não ser muito grandes com cana. Mas, é um produtor de soja, um pecuarista e tem também outras atividades”, constata.

O negócio agrícola de Mato Grosso do Sul é tocado de uma maneira diferente em relação a São Paulo. Os produtores desse estado do Centro-Oeste são empreendedores, organizados, bem mais profissionalizados e tecnificados – compara. “A família monta uma empresa, com gestores e corpo técnico e, às vezes, se afasta totalmente da operação. Fica no Conselho”, diz.

Programas da Orplana - A cana-de-açúcar desempenha um papel importante na diversificação do agronegócio de Mato Grosso do Sul, que tradicionalmente teve a agropecuária como destaque e, posteriormente a cultura de grãos – afirma Luís Novaes “Há um espaço crescente para a cana. Com o RenovaBio e uma atenção maior ao setor sucroenergético no país, acreditamos que a atividade deve retomar o seu crescimento no estado”, ressalta.

À medida que ocorre a ampliação da produção canavieira em Mato Grosso do Sul automaticamente cresce a participação da Sulcanas junto à Orplana, enfatiza. “A ligação é total. A Sulcanas tem uma relação extremamente próxima e segue as linhas de ação da Orplana”, afirma.

Segundo José Trevelin Junior, todo o trabalho novo da Orplana será realizado no estado por meio da Sulcanas, como o Muda Cana e o programa do IAC, fazendo-se uma adaptação ao modelo de produção do estado. Está havendo uma maior interação”, ressalta.