Joaninhas avançam no manejo biológico de pragas e ganham força em pesquisas aplicadas à cana-de-açúcar
19-12-2025

Estudos em Ribeirão Preto - SP reforçam eficiência predatória e mostram desafios para criação comercial no país

Por Andréia Vital

O uso de joaninhas como agentes de controle biológico volta a ganhar força na agricultura brasileira e já integra programas de pesquisa voltados ao manejo sustentável em culturas de grande escala, incluindo a cana-de-açúcar. As joaninhas são insetos que controlam pragas em agroecossistemas, são agentes potenciais que se alimentam de pulgões, ácaros, tripes e cochonilhas. A busca por alternativas aos defensivos químicos, somada à expansão dos bioinsumos, tem colocado esses predadores naturais no centro de investigações conduzidas por instituições públicas e privadas.

Em Ribeirão Preto - SP, pesquisadores do Instituto Biológico analisam espécies com maior potencial de uso em campo. Os estudos, coordenados por Terezinha Monteiro dos Santos Cividanes e equipe, avaliam comportamento, capacidade predatória e adaptação ambiental de espécies como Cycloneda sanguinea, Eriopis connexa, Harmonia axyridis e Hippodamia convergens. Destaca-se que as joaninhas se alimentam de pragas tanto quando se encontram na fase jovem (larva) e também na fase adulta.

Durante a Rota Inovadora da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (ANPEI), com foco em bioeconomia e descarbonização no agro, a engenheira agrônoma e doutoranda do Programa de Pós-graduação do Instituto Biológico, Tamara Machado da Silva, apresentou um panorama integrado das pesquisas desenvolvidas no Instituto Biológico e em âmbito internacional, evidenciando o avanço do conhecimento sobre o uso de coccinelídeos como agentes de controle biológico em sistemas agrícolas.

A espécie Cryptolaemus montrouzieri, amplamente utilizada em programas de manejo de pragas de frutíferas no mundo, permanece como referência nos estudos nacionais por sua afinidade com cochonilhas e facilidade de adaptação a ambientes agrícolas e urbanos. Pesquisas internacionais publicadas entre 2023 e 2024 reforçam o uso crescente de joaninhas em modelos de agricultura protegida e em sistemas de fruticultura de alta densidade, movimento que estimula projetos semelhantes no país.

Apesar do potencial, a produção em escala comercial ainda representa o principal obstáculo. Biofábricas dependem de presas alternativas para manter colônias estáveis, como pulgões e ovos de Ephestia kuehniella, o que aumenta custos e exige estrutura especializada. Pesquisadores apontam que superar esses entraves é essencial para viabilizar a oferta contínua e a adoção pelos produtores.

Modelos descentralizados começam a surgir como alternativa. Experiências municipais voltadas à agricultura urbana, como as conduzidas em Belo Horizonte, demonstram que a criação de joaninhas em pequena escala pode atender demandas específicas e ampliar a familiaridade do público com o uso de insetos benéficos.

Na cana-de-açúcar, o interesse é crescente devido ao avanço de pragas como a cochonilha-rosada e surtos de pulgões observados nos últimos anos. As pesquisas buscam conhecer a diversidade de espécies de joaninhas que ocorrem em áreas canavieiras e definir o potencial desses insetos na predação de pulgões e outras pragas da cana-de-açúcar e a e integração do emprego de joaninhas com outras ferramentas de controle de pragas, como fungos entomopatogênicos, seleção varietal e práticas culturais que favoreçam inimigos naturais.

A intensificação das exigências por rastreabilidade, redução do uso de químicos e certificações ambientais mantém o tema presente no setor sucroenergético. Para os grupos de pesquisa, a prioridade agora é aprimorar protocolos de criação massal, desenvolver linhagens mais adaptadas ao clima tropical e estruturar modelos de fornecimento que atendam propriedades de diferentes portes.

A consolidação da joaninha como ferramenta de manejo dependerá da capacidade de reduzir custos de produção, aumentar escala e demonstrar resultados consistentes no campo. A evolução das pesquisas indica que o setor pode estar próximo desse ponto de virada.