Juros do Plano Safra desestimulam investimentos, diz indústria de máquinas
03-06-2015

Os juros mais altos do Plano Safra 2015/16 anunciados nesta terça-feira consolidam a perspectiva de retração nas vendas de máquinas e implementos agrícolas no país este ano, disse a entidade que representa as indústrias do setor.

"Esse Plano Safra terá um menor apetite (de contratações de investimentos) por parte dos agricultores", disse à Reuters o presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Pedro Estevão Bastos.

Segundo ele, os juros divulgados nesta terça --embora não apresentem uma mudança em relação ao que vem sendo praticados nos últimos meses-- não estimulam aquisições, que acabam sendo pagas ao longo de até uma década.

"Se você acreditar que o governo vai conseguir trazer a inflação de volta para o centro da meta (de 4,5 por cento ao ano), ninguém quer assumir agora um juro tão elevado e continuar pagando ele pelos próximos dez anos", ponderou Bastos.

O Plano Safra 2015/16 prevê um aumento de recursos para as linhas Moderfrota e PSI, usadas na aquisição de máquinas agrícolas, para 10 bilhões de reais, ante 8 bilhões anunciados para o Plano 2014/15.

Contudo, os juros saltaram de 4,5 por cento para até 7,5 por cento ao ano para produtores rurais com renda bruta de até 90 milhões de reais por ano. Para agricultores com renda acima deste valor, os juros passaram de 6 por cento para 9 por cento ao ano.

"A gente estava imaginando de queda nas vendas do setor de 15 a 20 por cento em 2015 em relação ao ano passado, e o número continua esse mesmo. Esse cenário não piora com o Plano Safra", disse o executivo.

O quadro de cautela nos investimentos dos agricultores é reforçado também pela queda nos preços das commodities agrícolas, principalmente da soja, ressaltou Bastos.

O volume de crédito disponível no Plano Safra 2015/16 terá crescimento de 20 por cento ante os recursos do programa anterior, principalmente por conta de uma maior disponibilidade de financiamentos com juros livres de mercado, apontando para um sensível aumento de custos dos produtores.

O novo plano, que prevê um total de 187,7 bilhões de reais em financiamentos, ante 156,1 bilhões de reais em 2014/15, terá elevação nos recursos de custeio e comercialização e queda nos empréstimos para investimentos, informou nesta terça-feira o governo federal.


Gustavo Bonato