Maria Digna Cavalcanti Pessoa de Queiroz é uma das personagens do livro Mulheres da Cana-de-Açúcar
08-12-2022

O livro será lançado no 11º Encontro Cana Substantivo Feminino que acontecerá em 30 de março de 2023, no Centro de Cana do IAC

Durante muito tempo, Pernambuco foi o maior produtor de cana-de-açúcar do Brasil, sua supremacia começou no século XVI e seguiu até o começo do século XX. Por isso, a cultura canavieira está intimamente ligada a história pernambucana e sua sociedade.

São muitas as personagens neste universo canavieiro pernambucano, entre elas está Maria Digna Cavalcanti Pessoa de Queiroz. Ela é descendente de Dona Brites de Albuquerque, esposa de Duarte Coelho, primeiro governador da Capitania de Pernambuco, o que significa que sua família cultiva cana-de-açúcar há quase 500 anos.

Maria Digna foi criada na Usina Pedrosa, sua mãe vinha da Usina Água-Branca. Ao se casar com o engenheiro Ricardo Pessoa de Queiroz, seguiu para a Usina Santa Therezinha, teve sete filhos, entre eles os empresários sucroenergéticos José Pessoa e Ricardo Filho.

Ela reafirma que a cultura pernambucana e a cana-de-açúcar estão intimamente ligadas, não só pela parte econômica, mas também por hábitos e costumes. “Por omissão do Estado, os patrões passaram a ter uma função paternalista, com isso, eram, inclusive, donos da vida das pessoas. Todos viviam em função do engenho, que era passado de pai para filho, independente da competência para administrar. Hoje, as coisas mudaram apenas os competentes continuarão no negócio”, observa. 

Entre as lembranças do tempo de criança, a que mais lhe chama a atenção são as missões religiosas, uma tradição criada pelos capuchinhos no século XVIII e que resistiu por mais de 200 anos. As missões iam de usina a usina, de engenho a engenho, reunindo as pessoas para participarem de sermões ao ar livre, batizados e casamentos comunitários.

O que também marcou dona Maria Digna foi o trabalho social realizado nas usinas. O que a inspirou a desenvolver sua própria obra, porém, não de forma assistencialista, mas tendo como base o desenvolvimento sustentável. Em 1965, ela e a amiga Edith Pessoa de Queiroz perceberam a ociosidade que se fazia presente na vida das donas de casa de baixa renda; hábeis costureiras e rendeiras, cujo ofício passava de mãe para filho, pessoas que dificilmente poderiam trabalhar fora de casa ou ter um trabalho fixo. Foi pensando em fazer um trabalho social e ao mesmo tempo de ajuda financeira, que essas duas senhoras tiveram a feliz ideia de criar o primeiro tapete genuinamente brasileiro.

Criaram o ateliê Casa Caiada, o nome surgiu porque o ponto de encontro das artesãs era uma pequena casa caiada. O artesanato minucioso, foi se tornando cada vez mais arrojado e consequentemente valorizado por conter conotações exclusivas, feito manualmente e com estampas de desenhos sofisticados. Os primeiros desenhos foram baseados nos azulejos coloniais portugueses dos séculos XVII e XVIII que revestem igrejas, museus e casas daquela época. De lá para cá muito trabalho foi desenvolvido e a Casa Caiada mantém a continuidade de suas criações, lançando novos modelos a cada ano.

Satisfeita com o resultado do projeto, dona Maria Digna conta que os tapetes da Casa Caiada são produzidos por centenas de artesãs pernambucanas e são exportados para o mundo todo. Além do ateliê em Recife, há também uma loja em São Paulo.

 Dona Maria Digna é uma das personagens do livro Mulheres da Cana-de-Açúcar, que será lançado durante o 11º Encontro Cana Substantivo Feminino que acontecerá em 30 de março de 2023, no Centro de Cana do IAC, em Ribeirão Preto, SP.