Mercado aquecido para fusões e aquisições no agronegócio brasileiro
27-04-2021

Um dos destaques é a compra da Biosev pela Raízen
Um dos destaques é a compra da Biosev pela Raízen

Em 2019 e 2020, levantamento da PwC identificou 115 operações de fusões e aquisições no agronegócio brasileiro, número 73,8% maior que 2019. E 2021 está em ritmo acelerado

*Mauricio Moraes e Fabio Pereira

Nos últimos anos, o agronegócio brasileiro foi um dos poucos setores com bom desempenho mesmo com o baixo rendimento da economia do país, garantindo o superávit da balança comercial nacional. Em 2020, mesmo com os desafios impostos pela Covid-19, não foi diferente. Conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Produto Interno Bruno (PIB) do agronegócio local teve alta recorde de 24,31% em 2020 comparado a 2019. Com esse resultado, o setor ampliou a participação na economia brasileira de 20,5% para 26,6%. Em valores monetários, nosso PIB totalizou R$ 7,45 trilhões em 2020 e o do agronegócio atingiu quase R$ 2 trilhões.

Esse bom desempenho atrai cada vez mais investimentos ao setor. Mesmo antes do cenário de pandemia, o mercado já apontava as fusões e aquisições no agro como uma tendência para 2020. Fatores como a competitividade e o potencial do segmento no país, as baixas taxas de juros e a moeda desvalorizada frente ao dólar contribuíram para isso.

Em 2019 e 2020, levantamento da PwC identificou 115 operações de fusões e aquisições no agronegócio brasileiro, número 73,8% maior que 2019. Entre as transações realizadas, observa-se que alguns segmentos do agro passam por um processo de consolidação. Um exemplo é o de distribuição de insumos, em que tradicionalmente as empresas atuavam de maneira regional. Nos últimos anos, é possível observar multinacionais e até mesmo fundos de investimento investindo fortemente na aquisição de diversas empresas da área, ampliando o território de atuação dos distribuidores e criando os primeiros players de atuação nacionais neste segmento.

Outro segmento alvo de investimentos é o das agtechs e foodtechs, startups que promovem inovações no setor do agronegócio e de alimentos utilizando novas tecnologias aplicadas em algum ponto da cadeia de valor. Elas estão sempre em busca de capital para expandir a sua atuação, desenvolver nova solução ou melhorar as tecnologias já existentes.

Os aportes financeiros às agtechs podem ser de valores mais baixos em comparação a outros segmentos. Conforme pesquisa da Anjos do Brasil realizada em 2020, as agtechs são a segunda escolha de investimento dos cerca de 8,2 mil investidores-anjo no país com 27%, atrás somente das fintechs (29%).

E, se 2020 foi positivo para as transações no agronegócio, 2021 também está em ritmo acelerado. Até fevereiro, o número de operações no Brasil mais do que triplicou no segmento agro em relação ao mesmo período de 2020. Foram registradas operações de grande porte no segmento sucroenergético, como a compra da Biosev pela Raízen, enquanto outras transações e aportes financeiros importantes ocorreram no segmento de agtechs, fertilizantes e na distribuição de insumos agropecuários. A expectativa é de que players importantes do agro deverão continuar investindo ao longo de 2021 e nos próximos anos.

As empresas e investidores devem pensar em estratégias para superar a crise ou mesmo continuar crescendo neste período. Com isso, as operações de fusão e aquisição podem se tornar cada vez mais atrativas. Condições como a taxa de câmbio atual, a necessidade de geração de caixa e o nível de endividamento de algumas empresas indicam um cenário favorável aos investidores e maior receptividade a investimentos por parte de diversas empresas agro.

Embora o cenário econômico ainda exija precaução, a expansão dos negócios por meio de fusões e aquisições representa enormes possibilidades de ganhos quando as empresas são capazes de identificar sinergias e aproveitar as melhores oportunidades que o mercado oferece. No entanto, isso não é algo simples de se alcançar, pois exige muita estratégia, planejamento e conhecimento profundo da dinâmica do mercado. É essencial que as operações sejam avaliadas dentro da estratégia de cada organização, conforme sua capacidade de gerar sinergias e gerar ganhos futuros e não uma questão apenas de oportunidade. 

*Mauricio Moraes - Sócio e líder da indústria de Agribusiness da PwC Brasil

*Fabio Pereira - Gerente sênior e especialista em Agribusiness da PwC Brasil

Fonte: CanaOnline