Moagem de cana-de-açúcar registra crescimento de 4% na safra 2015/2016
08-04-2016

Usinas produtoras de açúcar e etanol na região de Araçatuba registraram um aumento de 4% na moagem durante a safra 2015/16, encerrada em 31 de março, segundo o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira). O volume esmagado saltou de 59,469 milhões de toneladas na temporada 2014/15, para 61,732 milhões de toneladas no ano agrícola recém-terminado. Foi o quarto melhor resultado entre seis regiões paulistas, e corresponde a 17,2% do total produzido no território paulista.

Na visão da especialista em inteligência de mercado do CTC, Vanessa Nardy, a alta na produção sucroalcooleira proporciona uma leve recuperação ao setor que sofreu com efeitos da estiagem ao longo de 2014 e ainda tem empresas afetadas por aperto financeiro. A região administrativa de Araçatuba engloba 16 unidades do segmento.

Para o presidente da UDOP (União dos Produtores de Bioenergia), Celso Torquato Junqueira Franco, as usinas ainda obtiveram uma recuperação nos preços do etanol no final da comercialização do produto, em dezembro do ano passado, o que ajudou o setor.


Crise

Porém, ele acredita que os incrementos na moagem e nas cotações foram mais proveitosos para os grupos sucroalcooleiros que já estavam em uma situação boa, sendo que as empresas em crise não conseguiram aproveitar o benefício. "Todo acréscimo em produção sempre contribui. Mas diria que houve um aumento da diferença entre os grupos que estavam numa condição mais favorável e os que estavam em dificuldade", afirma. Torquato avalia que o setor ainda não obteve uma melhora geral também porque os custos aumentaram.

De acordo com o presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari, uma grande parcela do aumento de moagem em 2015/16 foi direcionada para a produção de etanol hidratado. "A opção pelo hidratado, tanto no centro-sul quanto no norte-nordeste deveu-se à necessidade de gerar caixa para moer a safra. Isso deve continuar em 2016/17". No ano agrícola recém-terminado, a produção da região de Araçatuba teve 55% direcionado para etanol e 45% para o açúcar, calcula o CTC.


Clima

Circunstâncias climáticas possibilitaram a ampliação da produção na safra encerrada recentemente na comparação com a anterior. Enquanto o desenvolvimento dos canaviais foi comprometido no ciclo retrasado pela seca, a ocorrência do fenômeno El Niño no ano passado resultou na incidência de chuvas acima da média na região. A Estação Experimental de Valparaíso, localizada na região, por exemplo, registrou a precipitação de 1.723 milímetros ao longo de 2015, 265 mm acima da média anual de 1.458 mm para o município. Em 2014, choveu 1.281 mm no local, 177 mm abaixo da média.

Como a cana é uma cultura muito dependente da água, o rendimento do cultivo está vinculado às chuvas, esclarece Vanessa. Segundo ela, a produtividade dos canaviais na região de Araçatuba se elevou de 67 toneladas por hectare, na safra 2014/2015, para 83 t/ha, na temporada 2015/2016 - aumento de 24%. Foi a maior elevação entre as regiões paulistas no ano agrícola, devido às chuvas no noroeste. O índice é, inclusive, o dobro da média estadual de 12%.

Os cultivos da região apresentaram a segunda maior produtividade na série história, atrás apenas do rendimento de 84 t/ha de 2010. Conforme a especialista do CTC, a eficiência dos canaviais estava em estagnação desde então, porque parte das usinas entrou em dificuldades na época e adiou investimentos na renovação e melhoria do plantio.

A produtividade cresceu seis vezes mais que o próprio processamento de cana já que a continuidade das chuvas no período de colheita gerou atrasos na moagem no último trimestre. "Com os solos encharcados, as máquinas colhedoras têm dificuldades para operar, por isso muitas empresas adiaram a moagem", afirma Vanessa. A parcela dos canaviais que sobrou da safra terminada deverá ser utilizada na produção do ciclo iniciado neste mês.


Boa produtividade e custos menores são perspectivas

Em relação ao ciclo 2016/17, as perspectivas do CTC são positivas. De acordo com a especialista em inteligência de mercado do Centro, Vanessa Nardy, as chuvas persistiram nos primeiros meses deste ano, favorecendo a brotação nos canaviais, o que deve manter a produtividade no mesmo nível da safra passada.

Existe ainda uma previsão de chegada do fenômeno La Niña ao Brasil no segundo semestre, trazendo uma estiagem mais forte, o que significa que há chances de a próxima colheita não ser atrasada pela precipitação na etapa final.


Centro-Sul

O processamento de cana no centro-sul deve chegar a 625 milhões de toneladas até o final da safra 2016/17, segundo previsão da Datagro. O número demonstra crescimento de 1% em relação à estimativa da consultoria para a moagem de 2015/16. A empresa calcula que o volume da safra atual produzirá entre 33,8 milhões de toneladas de açúcar e 28,1 bilhões de litros de etanol.

Vanessa afirma que o setor deve ser beneficiado também por uma leve redução de custos, que apresentam crescimento desde 2009. Segundo ela, a oferta de mão de obra este ano, devido à crise em outros ramos da economia, deve ser maior, possibilitando um gasto menor com trabalhadores. Além disso, investimentos atrelados ao dólar devem ser beneficiados se a moeda americana - que passou boa parte do ano passado no patamar de R$ 4 - continuar em torno dos R$ 3,60.


Déficit

A especialista do CTC acredita que outra vantagem para o setor sucroalcooleiro deste ano é o déficit internacional de açúcar, que devem proporcionar exportações da commodity em um bom preço. A seca na Índia e clima desfavorável na Tailândia intensificam a falta do alimento pelo mundo. Conforme o presidente da Datagro, Plínio Nastari, a previsão é de um déficit de 6,09 milhões de toneladas de açúcar na safra 2016/17.

Rafela Tavares