Mudança traz expectativas
10-03-2015

O anúncio do governo federal de que o percentual de etanol anidro na gasolina vai aumentar em 2 pontos percentuais (p.p.), a partir do dia 16, trouxe muitas expectativas para o mercado nacional de combustíveis, em especial ao segmento sucroenergético. A possibilidade de ampliar a escala de produção pode trazer um alívio financeiro devido a maior utilização da capacidade instalada e até mesmo da movimentação das vendas. Mas o consumidor teme que a `nova´ gasolina traga impactos na vida útil do motor e que isso desencadeie mais gastos com manutenção. A única certeza, é que a adição do anidro é uma alternativa para impedir novas altas a essa matriz e não para reduzir o valor do litro nas bombas.

Como explica o diretor executivo do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado de Mato Grosso (Sindalcool/MT), Jorge dos Santos, o anúncio da alteração às vésperas do início da moagem da safra 2015 da cana-de-açúcar, não traz impactos na estratégia de produção das usinas ou mesmo na logística. "A medida altera apenas 2 p.p., ou seja de 25% para 27%, e isso não gera impacto. Nossa safra seguirá com caráter `alcooleiro´, já que não temos mercado para produção de açúcar".

Como esclarece ainda, a moagem tem início na primeira semana de abril e essa safra deverá ofertar cerca de 580 milhões de litros de etanol anidro para um consumo estimado em 500 milhões aqui no Estado. "Sempre trabalhamos com essa folga para que não haja risco de desabastecimento, nem mesmo na entressafra". Com os 27% de anidro, o Estado terá de ampliar em cerca de 10 milhões a oferta do produto, e no país a injeção está estimada em mais 1 bilhão de litros.

Ele reforça, que a alteração confirmada às vésperas da retomada dos trabalhos nas usinas não muda a rotina, pois o pleito (a mudança) já era um pedido antigo do segmento, tanto em nível estadual como nacional e por isso esperado. Questionado se a maior produção de anidro poderá ser uma forma de capitalizar o segmento, com problemas desde 2011, Santos explica que até o momento não se enxerga uma possibilidade de mercado suficiente para a recuperação das empresas, mas há muita expectativa para que o saldo seja positivo, para quem produz, para quem revende e para quem compra o combustível.

A demanda, como lembra, era para que o percentual de anidro chegasse a 30%. "Temos estudos que confirmam que até esse limite não há dano para os motores, mesmo os movidos exclusivamente à gasolina. No entanto, a União não aceitou o percentual, reduziu para 27,5%, mas recuou para 27%. As distribuidoras disseram que seria difícil mensurar um volume fracionado, e então o governo federal decidiu pelos 27%".

Para os revendedores, a necessidade de produção de mais etanol anidro favorece o mercado interno da cana-de-açúcar. Conforme o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de Mato Grosso (Sindipetróleo), a mudança traz ânimo à indústria da cana, cujo cenário é de fechamento de dezenas de usinas no país. "A primeira vista, acrescentar 2 p.p. de etanol anidro na gasolina parece pouco, mas o setor sucroalcooleiro fala em uma demanda adicional de 1 bilhão de litros e Mato Grosso produzirá boa parte desse volume. Isso é ótimo para as usinas e para a economia do nosso Estado", destacou Nelson Soares Junior, diretor-executivo do Sindipetróleo.

Outras vantagens apontadas pela entidade são a redução da importação de gasolina pela Petrobras e o incentivo a um combustível menos poluente.

Sobre os preços, "a expectativa é de que não ocorram impactos significativos, o que depende de valores que sairão das usinas e distribuidoras, já que o posto costuma repassar preços definidos nesses elos da cadeia do combustível", disse Soares.

A nova mistura vai ser aplicada à gasolina comum e à aditivada. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, os resultados de testes feitos pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (Cenpes) da Petrobras não mostraram problemas técnicos para os veículos com o aumento da mistura.


Atenção

O aumento do percentual pode causar problemas em veículos à gasolina produzidos antes da década de 90. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, Edson Orikassa, esses carros podem apresentar alterações em itens feitos com borracha, como mangueiras de combustível, além de plásticos e metais, que tendem a oxidar com o etanol. Nesses casos, a recomendação é que, até a conclusão de todos os testes, seja usada a gasolina do tipo premium, que não terá aumento do percentual de álcool, mas é mais cara - o litro custa cerca de R$ 4. (Com Agência Brasil).


Marianna Peres