No atual cenário pujante para o açúcar, o que esperar para o etanol?
01-11-2016

Para Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagencia, o setor sucroenergético brasileiro não poderá cometer erros do passado. “Já tivemos momento em que o setor abandonou o etanol. Por conta de problemas macroeconômicos, o governo usou a política de preços do biocombustível para segurar inflação e os preços ficaram ruins. O mercado de açúcar deu oportunidade, virando a produção. Todas as destilarias acabaram implantando fábrica de açúcar. Resultado: acabamos a década de 90 com preços de açúcar em depressão e sem saber o que fazer com o etanol”, recorda-se.

Portanto, olhar exclusivamente o momento atual do açúcar, produzindo mais açúcar em detrimento ao etanol, é um filme cujo fim já se conhece de outras temporadas.
Por outro lado, Rodrigues destaca que todos os problemas que se criou por represar os preços da gasolina nos últimos anos estão aí, no colo das empresas do setor, altamente endividadas. Por isso, as usinas hoje não têm outra alternativa a não ser aproveitar esse bom patamar do açúcar.
“Mas esta é uma equação complexa. Para intervir nessa equação é que precisamos de política pública bem feita, de longo prazo. O que o setor quer é crescer junto com o açúcar e o etanol.”
Não só a commodity porque “todo mundo sabe que esse mercado do açúcar vai ter uma correção”. Esses níveis de preço são momentâneos. Mas, segundo ele, é evidente que quem está em situação financeira difícil não tem como deixar de aproveitar e, como a matéria-prima hoje é restrita, no fim “quem paga a conta acaba sendo o etanol hidratado”.
Considerando um programa de crescimento para o setor, com aumento da lavoura e instalação de novas usinas, “ninguém vai fazer unidade exclusiva para açúcar, e sim para produção de açúcar e etanol”. Mas Rodrigues salienta que, para isso acontecer, o produtor tem que ter horizonte. “Precisa ter um marco regulatório que indique qual é o papel do etanol dentro da política de combustíveis do país.”
Quanto aos preços do etanol, a nova política da Petrobras está clara. “E é esse o nosso limite. O açúcar pode subir indefinidamente e o etanol vai encontrar a sua resistência e é onde o consumidor vai deixar de comprar etanol para abastecer com gasolina. São mercados distintos.”
Rodrigues lembra que, ao se falar de açúcar e etanol, se diz respeito a alimentos e combustíveis, que são produzidos na mesma matriz, mas com comportamento totalmente diferente. “Esse setor precisa ter política de longo prazo para suplantar isso. Da mesma forma que hoje o preço do açúcar está bom, o preço do petróleo vai continuar a 50 dólares por quanto tempo? Ninguém sabe.”

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