Nova praga com alto poder de destruição é encontrada em canaviais de Minas Gerais
08-04-2022

Pesquisador Newton Macedo pede que profissionais do setor fiquem em alerta. Inseto ataca a parte aérea da cana, prejudica processo de fotossíntese e pode levar a grandes perdas de produtividade
Texto: Leonardo Ruiz
Informações: Newton Macedo
Uma nova praga que ataca a parte aérea da cana-de-açúcar foi encontrada na última semana pelos agrônomos da Araporã Bioenergia, usina localizada na região norte do Triângulo Mineiro. Trata-se de uma nova espécie de cochonilha, um inseto de hábito sugador que, além de extrair nutrientes, secreta uma cera adocicada que facilita o ataque de fungos e diminui a capacidade fotossintética das plantas.
A cana-de-açúcar já é atacada por duas outras espécies de cochonilha: de carapaça e rosada. Embora ambas ocorram no palmito da cana, não são consideradas pragas de elevada importância econômica para a cultura, pois são naturalmente controladas por fungos. A nova espécie, porém, ataca as folhas e, ao que parece, não sofre controle natural.
Os primeiros estudos sobre a bioecologia dessa nova praga (Duplachionaspsis divergens) estão sendo conduzidos pelo pesquisador e consultor da Araújo e Macedo LTDA, Newton Macedo. No ano passado, o profissional já havia alertado o setor canavieiro nacional sobre uma possível disseminação do inseto, que havia sido identificado em pastagens do Mato Grosso do Sul pela Embrapa Gado de Corte de Campo Grande/MS.
“Após o comunicado da Embrapa, descobri relatos de ataques intensos dessa praga em canaviais da Flórida, nos Estados Unidos. No Brasil, já houve rumores sobre infestações em ambientes de estufa, mas não em canaviais comerciais. A partir daquele momento, fiquei em alerta, pois baseado nas informações iniciais, percebi os riscos que esse inseto poderia representar para o segmento sucroenergético, principalmente às áreas localizadas no Brasil central, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás, devido à grande interação entre cana e pastagem. Como ele já havia começado a surgir nessas áreas de gado, era apenas questão de tempo até que chegasse à cana.”
Após esse primeiro alerta, feito em agosto do ano passado, o pesquisador ficou à espera de alguma comunicação por parte das usinas e agrícolas brasileiras. Porém, nada foi encontrado. Ao menos, não até a última semana, quando foi procurado pelos gestores da Araporã. “Fui até o canavial junto a equipe da usina e comprovei que o inseto identificado era mesmo a nova espécie de cochonilha.”
O ataque na Araporã se deu sobre um talhão formado por CTC4. De acordo com Macedo, a cana estava bastante danificada. “Acreditamos que esse inseto tenha biologia e hábitos semelhantes ao do pulgão, que ocorre geralmente a partir de fevereiro e com especial incidência em CTC4. No entanto, o que mais nos preocupa é o risco de multiplicação. Esse canavial não faz divisa com pastagens, ou seja, a cochonilha provavelmente chegou voando.”
O pesquisador explica que, após sua chegada ao canavial, o adulto dessa espécie faz postura de ovos dos dois lados da folha. Após a eclosão, as ninfas começam a se alimentar das folhas. Posteriormente, elas trocarão de peles e darão origem a novos adultos. “No momento da alimentação, além de tirar energia da cana ao sugar a seiva, é injetada uma toxina, amarelando e secando as folhas e reduzindo significativamente a taxa de fotossíntese. O primeiro prejuízo será uma queda acentuada no TCH (Toneladas de Cana Por Hectare). Em seguida, haverá comprometimento da produção de açúcar.”
Macedo pede para que os profissionais do setor fiquem atentos a ocorrência da praga. “Já temos algumas ideias sobre os produtos que poderiam controlá-la, como inseticidas de ação sistêmica, em função do hábito sugador do inseto, e associados a óleos mineiras, visando melhoria da cobertura sobre as folhas. O mercado nacional possui ao menos quatro produtos com essas características.”
No entanto, o profissional salienta que ainda é necessária uma profunda investigação sobre biologia dessa nova cochonilha em condições tropicais para que seja possível recomendar uma forma eficiente de manejo. Caso alguém se depare com essa nova praga em seus canaviais, é recomendado entrar em contato com o pesquisador através do e-mail: newton_macedo@yahoo.com.br.
Fonte: CanaOnline