O desafio do setor de etanol: expansão em meio ao risco de sob oferta e oportunidades no mercado internacional
18-09-2025

Mário Campos, presidente da Siamig Bioenergia e da Bioenergia Brasil, fala sobre os desafios para o biocombustível nos próximos anos
Por Andréia Vital
O Brasil, tradicionalmente um líder na produção de etanol, atravessa um momento de crescimento e complexidade no setor. O desenvolvimento do etanol a partir de grãos, especialmente o milho, tem se mostrado uma tendência crescente, ao passo que o setor de cana-de-açúcar viu um deslocamento para a produção de açúcar, reduzindo a disponibilidade de matéria-prima para o etanol. Como resultado, o Brasil poderá enfrentar um período de superoferta nos próximos anos, com um descompasso potencial entre oferta e demanda.
Para Mário Campos Filho, presidente da Siamig Bioenergia e da Bioenergia Brasil, essa é uma realidade que exige cautela, planejamento e organização. Durante sua participação na 8ª edição da Conferência NovaCana, realizada nesta segunda e terça-feira (15 e 16), na capital paulista, ele destacou a importância da adaptação às políticas públicas recentes, como o aumento da mistura de etanol anidro na gasolina e a reforma tributária, que conferem ao etanol brasileiro um diferencial competitivo tanto no mercado interno quanto no externo.
“Nos próximos anos, podemos ver uma superoferta no Brasil, mas também uma grande demanda potencial, o que exige um melhor planejamento do setor para evitar prejuízos e descasamentos”, afirmou. Ele acredita que a inovação nas políticas públicas e o fortalecimento do mercado interno são cruciais para garantir a estabilidade e competitividade do etanol brasileiro.
No cenário internacional, o Brasil tem o potencial de expandir sua participação, competindo diretamente com os Estados Unidos. Campos Filho citou a tendência global de adoção de biocombustíveis, com destaque para segmentos emergentes como o biometano, o SAF (combustível sustentável de aviação) e o biobunker, que visam a navegação marítima. Para o executivo, o Brasil tem uma oportunidade única de se tornar um hub global de exportação de SAF, aproveitando a demanda crescente por alternativas renováveis.
A expansão do etanol de grãos no Brasil também é vista como uma medida que pode contribuir para o aumento da produção e da oferta, especialmente no mercado interno. Contudo, o executivo alertou sobre a necessidade de o país se preparar para competir com mercados consolidados como o dos Estados Unidos, que têm se destacado na abertura de novos mercados internacionais, estabelecendo parcerias estratégicas e consolidando sua presença em diversos países.
Em Minas Gerais, o cenário não é tão favorável. De acordo com Campos Filho, o estado enfrenta uma safra desafiadora devido à seca do ano anterior, que impactou diretamente a produtividade agrícola. A escassez de chuvas e os problemas com incêndios podem resultar em uma redução na moagem, embora o setor continue investindo na produção de açúcar, com um mix elevado para o produto. A expectativa é que, com a chegada das chuvas, o setor consiga se recuperar e, quem sabe, retomar as metas de moagem dos últimos anos, acima de 80 milhões de toneladas.
O cenário atual demanda dos produtores de etanol não apenas uma visão estratégica para o mercado interno, mas também uma adaptação rápida às tendências globais. "A demanda internacional por biocombustíveis está em crescimento, e o Brasil precisa estar preparado para aproveitar essas oportunidades sem perder competitividade", concluiu o executivo, ressaltando a necessidade urgente de um planejamento ágil e eficiente para o futuro do etanol brasileiro.