O setor bioenergético perde Francisco Celestino
18-08-2025

Chico Celestino atuou por décadas no setor, principalmente no Grupo JL, sendo fundamental para que Guaxuma se tornasse a primeira unidade sucroenergética do mundo a conquistar a certificação ambiental ISO 14001
Por Luciana Paiva
Nesta segunda-feira, 18, recebi a triste notícia do falecimento de Francisco Celestino Palmeira, um dos amigos que o mundo da cana-de-açúcar me presenteou. E com quem compartilhei fatos históricos do setor.
Em agosto de 2002, a Usina Guaxuma, localizada em Coruripe, Alagoas, pertencente a Laginha Agroindustrial, Grupo João Lyra (JL), se tornava a primeira unidade sucroenergética do mundo a conquistar a certificação ambiental ISO 14001.
Na época, segui para Alagoas para conferir de perto as ações que levaram à certificação. Fui recebida por Francisco Celestino Palmeira, o Gestor Ambiental do Grupo e um dos principais responsáveis pelo feito. Chico estava muito feliz com a conquista da ISO 14001, mas estava mais contente ainda com as transformações que ele e sua equipe haviam promovido na Guaxuma para deixá-la consoante aos mais rigorosos padrões internacionais de preservação ambiental.
Unindo características do solo, relevo de tabuleiro e a alta tecnologia empregada na área agrícola, a Guaxuma apresentava um dos maiores índices de produtividade do estado. Produzia por safra 1,7 milhão de tonelada de cana e contava com 23 mil hectares, dos quais seis mil destinados à reserva de Mata Atlântica, uma das maiores da região. Era na Guaxuma que estava localizado o Santuário Ecológico do Jacaré do Papo Amarelo.
Naquela época, o Grupo JL vivia o seu apogeu, com cinco unidades industriais: Laginha, Uruba e Guaxuma, em AL; Triálcool e Vale do Paranaíba, em MG. O Grupo gerava 14 mil empregos diretos, e suas unidades industriais respondiam por 20% das exportações brasileiras de álcool e 11% das exportações de açúcar do setor sucroalcooleiro do Nordeste.
Voltei outras vezes para visitar as unidades do Grupo JL em Alagoas, sempre recebida por Chico Celestino, que me levava para conferir as novidades. Com o decorrer do tempo, as notícias sobre o Grupo deixaram de ser boas. Uma série de fatos levou à derrocada do Grupo, o que fez com que solicitasse recuperação judicial em 2008.
Em 2010, ocorreu uma das maiores enchentes de Alagoas, destruindo totalmente a usina Laginha, construída às margens do rio Mundaú, que subiu 15 metros.
Em janeiro de 2011, visitei a Laginha para conferir a superação, pois, em 12 de dezembro do mesmo ano em que foi destruída pela cheia, voltou a moer. Fui recebida por Chico Celestino, que me apresentou a usina reconstruída.
Foi a última visita que realizei às unidades do Grupo JL. Em 2012, foi decretada sua falência e as suas usinas pararam de moer. Mas minha amizade com Chico Celestino se manteve, acompanhei suas andanças por outros caminhos, sempre levando inovação e espalhando a paixão pela agricultura sustentável.
Parta em paz, meu amigo.