Odebrecht Agro registra prejuízo de R$ 1,6 bilhão
03-07-2017

Em uma safra bastante comemorada pelo setor sucroalcooleiro em decorrência dos preços mais elevados do açúcar e do etanol, a Odebrecht Agroindustrial, braço da Odebrecht SA no segmento, ainda sentiu em seu balanço o peso do processo de reestruturação de sua dívida bilionária com os credores. A empresa encerrou a temporada 2016/17 com um prejuízo líquido de R$ 1,6 bilhão, boa parte do qual explicada pela incidência dos juros das debêntures que voltaram à holding e pelo acúmulo de juros ao longo do processo de negociação com os bancos.

As debêntures de R$ 2 bilhões haviam sido dadas pela Odebrecht Energia à Odebrecht Agroindustrial em 2014 em troca de ativos de cogeração de energia. Porém, como a reestruturação acertada no ano passado previa o retorno dos ativos de cogeração à Agroindustrial em troca das debêntures, os juros desses papéis não foram capitalizados - uma vez que a holding voltou a ser responsável por eles, explicou Alexandre Perazzo, vice-presidente de finanças e de relações com investidores da companhia, ao Valor.

Apenas esses juros pesaram negativamente no balanço em R$ 349 milhões. Além disso, durante o período em que a Agroindustrial deixou de pagar suas dívidas, em acordo com os bancos, para negociar sua reestruturação financeira, os juros do endividamento passaram a se acumular. Mas, mesmo que fossem excluídos esses dois fatores "e outros menores, não recorrentes", a companhia teria registrado prejuízo de cerca de R$ 800 milhões no exercício.

Mas o pior momento foi mesmo na safra 2015/16, quando o prejuízo da Agroindustrial alcançou R$ 1,9 bilhão, ante o aperto dos custos financeiros. Com a reestruturação, a despesa financeira "normalizada" da safra 2016/17 ficou em R$ 1,6 bilhão, segundo Perazzo. Na temporada anterior, as despesas financeiras somaram R$ 2,5 bilhões.

Para este ciclo, ele estima que essas despesas ficarão em R$ 900 milhões, e um resultado líquido próximo do "zero a zero". Lucro, de fato, só para a safra 2018/19, avaliou.

Apesar do prejuízo, Perazzo comemora o resultado operacional da safra 2016/17, impulsionado pelos melhores preços de açúcar e etanol e pelo retorno das receitas com cogeração a partir de bagaço nos últimos três meses da safra. A receita líquida cresceu 22%, para R$ 4,4 bilhões, mas como base de comparação para os próximos períodos ele prefere considerar a receita líquida "pro-forma", como se as operações de cogeração estivessem na Agroindustrial desde o início da safra, que seria de R$ 4,9 bilhões.

Com o aumento dos resultados operacionais, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) cresceu 45%, para R$ 1,6 bilhão (o Ebitda pro forma somou R$ 2 bilhões), colaborando para a redução da alavancagem. A relação entre o Ebitda pró-forma e a dívida caiu de 10,3 vezes no fim da safra anterior para 4,69 vezes.

Mas a maior ajuda para essa queda veio da redução da dívida. Segundo Perazzo, sem considerar os vencimentos das debêntures, a dívida bruta ficou em R$ 8,8 bilhões, ante mais de R$ 14 bilhões no exercício anterior. E a reestruturação alongou os vencimentos, elevando o prazo médio de três anos para oito anos e meio. Em 31 de março, estavam alocadas no longo prazo dívidas de R$ 8,5 bilhões, e no curto prazo, de R$ 327 milhões.

De acordo com ele, dessa dívida de curto prazo, "o que [a empresa] conseguir refinanciar, refinancia, porque são dívidas com custo barato. O que não conseguir, será pago com o caixa operacional que for gerado e com o que já tem". No fim da safra, o caixa era de R$ 242 milhões.