Odebrecht Agroindustrial negocia dívida de R$ 13 bi
07-04-2016

Rombo da empresa, uma das investigadas na Lava Jato, é cinco vezes maior que a sua receita total.

Em meio às investigações da Lava Jato, com o presidente da Odebrecht preso, o braço agroindustrial acumula uma dívida bruta de R$ 13 bilhões, mais do cinco vezes a receita da empresa, de R$ 2,5 bilhões. A situação é muito pior do que a média do setor sucroalcooleiro, que trabalha atualmente com uma dívida 22,5% superior ao faturamento. “Para cada tonelada de cana-de-açúcar, o faturamento médio é de R$ 125 e a dívida é de R$ 153, com base em dados da consultoria MB Agro”, destaca o presidente da Associação das Industriais Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos.

Em declaração atribuída à diretora financeira do grupo, Marcela Drehmer, publicada no site novacana.com, no dia 1º de abril, a Odebrecht Agroindustrial está na fase final da renegociação de dívidas, buscando alongamento dos prazos para aliviar a necessidade de gerar caixa.

Em entrevista à “Folha de S.Paulo”, no dia 1º de abril, o atual presidente da Odebrecht, Newton Souza (que entrou no lugar do Marcelo Odebrecht, preso na Lava Jato) disse que o grupo já aportou R$ 2 bilhões dos ativos de energia renovável, para aumentar a geração de caixa.

Souza destacou ainda que a Odebrecht já demitiu 70 mil funcionários. “Passamos de 190 mil para 120 mil funcionários”, afirmou. O grupo tem hoje em andamento um plano de desmobilização de ativos no valor de R$ 12 bilhões. O endividamento global da Odebrecht atingiu R$ 90 bilhões no fim de 2014. Os números de 2015, que serão divulgados ao fim do mês, devem ser ainda maiores.

O presidente da Siamig explica que cada usina tem sua particularidade, mas, em média, as dívidas do setor sucroalcooleiro subiram 15% em 2015. “Isso aconteceu principalmente pelo aumento do dólar, já que 40% do que devemos é dolarizado”, justifica. Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), de 2007 até agora, 70 usinas fecharam as portas e outras 80 estão em recuperação judicial. Desde 2009, o setor perdeu 380 mil postos de trabalho.

“Além das dívidas, é difícil pagar os juros, que subiram. Isso reflete na queda do preço, pois estamos no início da safra e a oferta está em alta. Os produtores querem vender. O etanol, por exemplo, já ficou 15% mais barato no preço pago ao produtor. Ainda em abril, essa queda deve chegar às bombas e o etanol deve ficar mais vantajoso do que a gasolina”, explica Campos.

Reflexos

Lava Jato. Em entrevista à “Folha de S.Paulo”, o presidente da Odebrecht, Newton Souza, atribuiu as dificuldades financeiras ao aperto monetário, contração do crédito e operação Lava Jato.