Oportunidades e riscos para o setor sucroenergético no curto e médio prazo
18-10-2021

Preço do açúcar positivo, demanda crescente, preço alto do petróleo, risco de redução da mistura de etanol na gasolina e debandada de produtores de cana para outras culturas

*Arnaldo Luiz Corrêa

No médio prazo, acredito que a perspectiva dos preços do açúcar é positiva. As usinas brasileiras devem estar fixadas hoje perto de 40% do volume a ser exportado na safra 22/23, que se inicia em abril do próximo ano. Nesse momento, ninguém acredita em produção de cana no Centro-Sul em 22/23 superior a 550 milhões de toneladas de cana, que pode impactar os preços, pois esse volume vai ser insuficiente para atender à demanda crescente de combustíveis no País e os compromissos de exportação de açúcar.

O petróleo continua galgando preços mais altos no mercado internacional reforçando a tese de que podemos ver três dígitos nos preços no ano que vem. Ou seja, aproximadamente 25% de aumento. O impacto de uma elevação dessa magnitude para o consumidor dada a estrutura na formação de preços da gasolina no Brasil é de 10% de aumento que - se combinado com o enfraquecimento do real em ano de eleições presidenciais turbulentas - pode ser explosiva.

O maior risco que o setor corre hoje é ver a mistura de etanol na gasolina ser reduzida pelo governo federal por conta de um potencial problema de desabastecimento. Esse é um cenário que deve ser evitado a qualquer custo, pois coloca em xeque a expansão, a consolidação e a sustentabilidade do setor.

Outro risco é a migração dos produtores de cana para outras culturas que oferecem melhor rentabilidade, maior flexibilidade e maior disponibilidade de instrumentos financeiros que lhes permitam maximizar os ganhos na produção. Veja a soja, por exemplo. O produtor da leguminosa consegue por meio de uma operação de barter, com emissão de CPR junto às principais empresas de fertilizantes e insumos trocar sacos de soja por unidades desses produtos, se livrando do risco nocivo de variações de preço. O fornecedor/produtor de cana não encontra essa facilidade.

*Arnaldo Luiz Corrêa - Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos