Panorama do setor de etanol e biodiesel: ao que parece, o pior já passou
29-09-2016

A fase de bonança iniciada em 2015, quando a alta nos preços da gasolina levou muitos motoristas a abastecer seus carros com etanol, vem dando às usinas a chance de arrumar a casa após um longo período de receitas magras.

Agora, a escassez de açúcar no mercado externo impulsiona os preços desse outro derivado de cana. Somente neste ano eles já subiram 25% no mercado internacional, para uma usina, exportar açúcar é até 20% mais rentável do que vender etanol no mercado interno.

Como o clima tem ajudado, a previsão é que a produção de cana na safra 2016-2017 cresça 3% em relação à do ano anterior, indicando que não vai faltar etanol para abastecer a frota – pelo menos no curto prazo.

A escassez de açúcar no mercado global e aumento da venda de etanol ajudam as usinas a reequilibrar as finanças

Com o mercado favorável, a prioridade das usinas é reduzir seu endividamento, que beira os 90 bilhões de reais, quase o valor da receita esperada para o ano todo. Essas dívidas foram se acumulando nos últimos oito anos, quando o excesso de açúcar derrubou as cotações globais e, para piorar, o governo brasileiro segurou os preços dos combustíveis para controlar a inflação.

Petróleo: sinal de retomada no horizonte

Possuir uma generosa reserva de petróleo não é garantia de prosperidade. Que o diga a Venezuela, dona da maior reserva petrolífera do planeta, mas que não consegue atrair interessados em extrair essa riqueza de seu subsolo porque a instabilidade política e econômica afasta os investimentos no país.

O Brasil não tem a mesma quantidade de petróleo que a Venezuela. Ainda assim, é apontado pela Opep, organização dos maiores exportadores de petróleo, como um dos potenciais protagonistas desse mercado nos próximos anos. Só a área de Libra, até hoje a única do pré-sal leiloada desde que o país adotou o regime de partilha de produção em 2010, tem uma reserva estimada em algo entre 12 bilhões e 14 bilhões de barris.

O problema é que explorar petróleo em alto-mar não é uma tarefa barata. O valor mais baixo que a Petrobras já pagou para produzir um barril no pré-sal – onde é necessário atravessar uma barreira de 2.000 metros de lâmina d’água e 5.000 metros de rochas e sal – foi de oito dólares. Neste custo não está incluído o que a estatal gasta para transportar o petróleo até o continente e os tributos que recolhe por extrair um recurso natural. No fim das contas, a operação só é rentável se a petroleira consegue vender um barril por 45 dólares.

Com a queda no preço do barril, as petroleiras cortaram 42% dos investimentos no país no ano passado

Para o alívio da indústria do petróleo, é nesse patamar que o preço tem flutuado nos últimos dias. Em 2015, o preço caiu de 115 para 50 dólares e fez a geração de caixa de todas as petroleiras cair para menos do normalmente necessário para bancar a exploração e a produção e remunerar o investimento. Com isso, as companhias do setor no Brasil reduziram seus investimentos a 25 bilhões de dólares, valor 42% inferior ao do ano anterior – globalmente, o recuo foi de 26%.

Consultorias especializadas têm agora revisado para cima suas projeções. Ninguém espera que o petróleo retome as cotações registradas em 2014. Mas há entre elas uma sensação de que o pior já passou. Com a oferta mais ajustada à demanda, a expectativa é que o preço do barril suba mais alguns dólares nos próximos anos. Isso viabilizaria a exploração em áreas não tão pródigas e seria um atrativo importante para os próximos leilões da Agência Nacional do Petróleo.

Há algumas décadas, o preço do petróleo em alta era um tormento para a economia nacional. Hoje é o preço baixo que aflige um setor que representa quase 10% do PIB brasileiro.

Biodiesel: mercado ainda é restrito

Os geradores de energia elétrica usados durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro testaram uma mistura de diesel derivado de petróleo com 20% de biodiesel. O volume consumido durante o evento foi pequeno (1,2 milhão de litros), mas valeu como um teste para a ANP, agência reguladora do setor, avaliar a viabilidade de percentuais de biodiesel acima da proporção obrigatória – atualmente, o diesel vendido nos postos de combustíveis deve conter 7% de biodiesel de fonte renovável.

Já era definido que essa proporção subiria para 8% em 2017 e terá altas progressivas até atingir 10% em 2019. A legislação para o setor permite que a mistura suba para até 15% nos anos seguintes, desde que os testes comprovem não haver danos nos veículos e motores. Percentuais mais altos são admitidos em frotas rodoviárias, ferrovias e máquinas agrícolas e industriais, mas a adoção é voluntária.

Apesar do aumento da demanda por biodiesel, as fabricantes do setor ainda operam com quase 50% de ociosidade

Ampliar a oferta de biodiesel não é um problema, as usinas instaladas no Brasil têm capacidade para produzir 7,2 bilhões de litros por ano, quase o dobro do volume registrado nos últimos anos. O entrave para aumentar a produção é econômico: em julho, o litro do biodiesel foi vendido nos leilões da ANP por 2,41 reais, valor 17% superior ao do diesel derivado do petróleo. Por esse preço, não dá para pensar em exportação como forma de reduzir a capacidade ociosa do setor.