Para onde vai o açúcar? Com preço alto, exportações testam limite
25-10-2023
A capacidade de exportação de açúcar está perto do limite no Brasil e deverá ser testada na próxima safra com o aumento esperado para a produção da commodity, que deve continuar proporcionando um retorno maior para as usinas em relação ao etanol.
Por Tatiana Freitas
Com o boom do etanol de milho no Brasil, os processadores de cana têm investido na capacidade cristalização para aumentar ainda mais o mix de produção para o açúcar, resultando em aumento da produção do adoçante a partir do ano que vem.
Se neste ano o desafio para embarcar o produto já foi grande, ele deve ser ainda maior nos próximos, segundo especialistas na commodity reunidos em evento promovido pela Kinea Investimentos e o Santos Neto Advogados, em São Paulo, nesta segunda-feira.
"O grande desafio do Brasil, no caso do açúcar, é a capacidade de exportação, que no nosso entendimento já testa o limite este ano. No ano que vem, não haverá capacidade adicional para exportar", disse Diego Dourado, diretor da trading inglesa Czarnikow. Para ele, o açúcar está enfrentando o mesmo problema logístico que a soja e o milho enfrentaram no passado --- e que foi sanado com a expansão da capacidade de exportação pelos portos do norte.
"Falar para os produtores que eles vão ter que exportar por portos que não sejam Santos ou Paranaguá não é muito bem recebido neste momento. Mas, eventualmente, o açúcar vai ter que procurar alternativas", acrescentou Dourado.
Superando desafios
Para Bruno Trombelli, diretor comercial da área de açúcar na Raízen, os exportadores têm conseguido se organizar para responder à demanda global, utilizando ao máximo a capacidade logística atual.
"No início do ano, estávamos discutindo que o supply chain este ano seria super complexo porque a produção poderia chegar a 38,5 milhões de toneladas de açúcar. Estamos em outubro questionando se chegaremos a 40 milhões de toneladas e se a gente vai conseguir tirar tudo ou não", comentou.
"O Brasil precisa de mais infraestrutura, isso não mudou. Talvez o que tenha mudado no curtíssimo prazo foi a capacidade dos players de se organizar", disse Trombelli, lembrando das dificuldades de se colocar em pé um projeto de logística, principalmente em um ambiente de altas taxas de juros como o atual.
Mais sobre o debate
A seguir, outros destaques do debate que, além de Dourado e Trombelli, teve a participação de Andy Duff, estrategista global do Rabobank para o mercado de açúcar, Bruno Trombelli, da Raízen, e Felipe Greco, da Kinea, como moderador:
O aumento da oferta global de açúcar deve continuar vindo do Brasil, o maior exportador, enquanto os produtores na Índia seguem focados em produzir mais etanol para atingir a meta de mistura de 20% em 2025, disse Dourado.
O preço de equilíbrio para o açúcar é visto ao redor de US$ 0,28 por libra-peso por Trombelli, da Raízen. Ao mesmo tempo em que as cotações precisam subir para atrair produtores da Tailândia a voltar a investir na produção, já que a Índia deve seguir fora do jogo, ele não deve subir muito além, pois passa a incentivar a produção do adoçante em diversos lugares do mundo.
Enquanto as usinas devem continuar investindo na maior capacidade de cristalização no curto prazo, as perspectivas de longo prazo para o etanol são positivas, com o biocombustível sendo um bom vetor para transportar hidrogênio e, potencialmente, obter combustível marítimo verde.
Existem diversas formas de produzir SAF (combustível sustentável de aviação), mas os altos custos de novas tecnologias abrem uma janela para o SAF feito a partir de etanol e óleo vegetal, disse Duff. Mas, para viabilizar essa produção, são necessárias parcerias e maior clareza sobre o mercado de carbono.
"Existe uma janela que poderíamos utilizar melhor se tivéssemos capital com custo mais barato no Brasil para fazer SAF local" em vez de exportar o etanol para a produção de SAF nos Estados Unidos, afirmou Trombelli.
Fonte: The Agribiz

