Pecege avalia os Impactos do Coronavírus no Setor Sucroenergético Brasileiro
23-03-2020

Estudo realizado pelo Pecege-USP aponta que o  mercado de etanol será atingido duplamente e safra voltará a ser mais açucareira

* HAROLDO JOSÉ TORRES DA SILVA

A pandemia do coronavírus (COVID-19) e a guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita no mercado de Petróleo viraram de ponta-cabeça o cenário otimista apontado para a safra 2020/2021 do setor sucroenergético brasileiro.

A reação dos mercados tem sido intensa. Tudo isso tem levado a uma piora nas projeções para o crescimento e de recuperação do setor sucroenergético, em especial ante ao etanol.

No caso do COVID-19, dois efeitos globais já estão em curso: i) interrupção do fornecimento de produtos para algumas cadeias produtivas (especialmente automotivo e eletrônicos) e o ii) recuo da demanda (o que pode vir a impactar o açúcar).

Embora a pandemia de coronavírus torne mais imprecisas as projeções para 2020, quais os seus impactos sobre o setor sucroenergético brasileiro?

A Petrobras tem reduzido sistematicamente os seus preços ao longo de 2020. Desde o início do ano, houve uma redução acumulado no preço repassado as refinarias de 29,1% para o óleo diesel, de 7,9% para o GLP e de 30,1% para gasolina (8 alterações de preços deste início do ano).

Nem toda a queda do preço do petróleo foi repassada pela Petrobrás – há um prêmio de quase 30% da gasolina no mercado doméstico em relação à paridade de importação – indicando que ainda há espaço para novos cortes no preço da gasolina nas refinarias

É inevitável que a redução do preço do petróleo tenha efeito negativo sobre os preços domésticos do etanol: os preços mais baixos da gasolina levarão a um aumento de seu consumo em detrimento do etanol. Aliás, o etanol hidratado vem perdendo competitividade em relação à gasolina nas bombas nas últimas semanas.

Estima-se uma redução da produção de etanol para 25 bilhões de litros (-24% em relação aos níveis da safra 2019/2020, ocasião em que a produção total foi de cerca 33 bilhões de litros); Essa redução será mais drástica na produção de etanol hidratado, enquanto que o etanol anidro acompanhará o volume de vendas da gasolina.

A visão do mercado é de um impacto relevante e severo do surto de coronavírus (COVID-19) sobre a economia brasileira, resultado numa previsão de queda de 0,11% do Produto Interno Bruto (PIB)em2020.

Historicamente, no mercado doméstico, o consumo de combustíveis para o ciclo Otto tende a acompanhar o crescimento econômico. O arrefecimento da economia brasileira esperado para 2020 implicará numa uma redução na demanda do Ciclo Otto, cuja estimativa é de uma queda de 3,7%.

Diferentemente de 2019, ocasião em que a participação do etanol nas vendas de combustíveis do ciclo Otto foi recorde, alcançando 45,5% na média nacional, espera-se que o etanol caia para 37%; ü A queda nos preços do petróleo apoiará uma maior produção de açúcar no Brasil para a nova safra que se inicia em abril de 2020.

SIMULAÇÃO DO IMPACTO NO PREÇO DO ETANOL HIDRATADO

Em 19/03/2020, o preço da Gasolina na refinaria em Paulínia/SP era cotado a R$ 1.380,20/m3. No entanto, a Petrobrás ainda tem espaço para uma redução de R$ 0,30/l, a fim de atender à paridade de importação;

Aplicando essa redução sobre o preço vigente na refinaria, calculou-se o preço na bomba da gasolina partindo de um preço na refinaria de R$ 1,08/l (R$ 1,38 – R$ 0,30). A partir deste preço na refinaria, o preço teórico da gasolina na bomba será deR$3,66/l (cálculo no box lateral); ü Assumindo uma paridade de 70%, o preço do etanol hidratado na bomba será de R$ 2,56/litro, o que refletirá num preço PVU, isto é, numpreçolíquidorecebidopelasusinasdeR$1,52/l.

Assumindo que a gasolina na refinaria será reduzida para R$ 1,08/litro, o preço do etanol na usina deve atingir R$ 1,52/litro, refletindo uma quedadequase13% emrelaçãoà2019; ü O setor sucroenergético retornará aos níveis de preço do etanol praticados em 2017;

O coronavírus e o conflito entre a Rússia e a Arábia Saudita implicarão uma perda de receita de R$ 0,2252/litro de hidratado comparativamente a 2019.

E O RENOVABIO NESTE CENÁRIO?

Os preços mais baixos do petróleo impactam substancialmente a capacidade das usinas sucroenergéticas de gerar valor;

Na sua essência, o RenovaBio proveria o impulso de longo prazo necessário para o etanol e a demanda de energia renovável;

Caso os preços do petróleo permaneçam em patamares reduzidos;

Neste cenário, o CBIO deveria funcionar como o gradiente indutor de equilíbrio competitivo entre os combustíveis fósseis e renováveis;

O valor do CBIO seria o necessário para igualar o custo de produção do biocombustível, sendo o seu valor determinado, dentre outras variáveis, pelo preço do petróleo, pois ele altera a dinâmica de oferta e competitividade no mercado de combustíveis;

O valor do CBIO poderá cair em momentos de etanol mais competitivo (preços elevados do petróleo) →